O Porto já tem um restaurante com “coisas mesmo de Marrocos”

O restaurante Marroco (não é gralha) serve cuscuz, tagine, grelhados e chá de menta fresca como num boteco “com vista” para o Atlas. Tem “coisas mesmo de Marrocos” e o álcool aqui não entra.

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Nelson Garrido
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À hora do almoço e do jantar, Hassan coloca no topo da Avenida Vímara Peres um estandarte vermelho com uma estrela verde a assinalar o seu restaurante marroquino — o único no Porto —, que serve desde cuscuz e tagines a grelhados, pizzas e pastas com a mesma simplicidade e hospitalidade de um boteco de beira de estrada durante uma road trip pela cordilheira do Atlas no Sudeste marroquino.

Hassan Moujahid, 34 anos, recebe-nos com um “bem-vindo amigo”, a mão nas costas e um copinho de vidro debruado a transbordar de menta fresca mergulhada em chá. A comida chegará em breve. “Desculpa... demora um bocadinho, mas... fresco... na hora, na hora”. Na cozinha, Fatima, máscara posta, sorri com os olhos enquanto prepara um cuscuz vegetariano com pedaços generosos de batata-doce, cenoura e grão-de-bico. De vez em quando, Hassan traduz a cozinheira, que nos entrega o telefone cheio de fotografias com um imenso sortido de pratos. “'Faço de tudo'”, repete ele em português. “Em Marrocos, ela cozinhava muito em festas de casamento. Grupos grandes de duzentas pessoas. Quarenta mesas com mulheres, quarenta mesas com homens. Comem separados e fazem a festa juntos”, sorri o proprietário do restaurante Marroco, que abriu no dia 1 de Maio na cada vez mais movimentada Rua de Saraiva de Carvalho, entre a Sé, as Fontainhas e a instagramável  Ponte D. Luís. “Ela diz que perguntava à mãe. Que gosta de fazer sempre melhor e receitas diferentes.”

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Hassan e Fatima, a dupla do restaurante Marroco Nelson Garrido

Hassan e Fatima nasceram em Ikniouen, junto a Tinghir, mais perto da fronteira com a Argélia do que de Ouarzazate. Depois de ter comercializado automóveis e de ter tido uma lavandaria, o empreendedor marroquino decidiu viajar com o pretexto de conhecer os muitos familiares espalhados pela Europa ("Espanha, França, Bélica, Holanda...”), até que em 2017 aterrou no Porto e conheceu “pessoas muito simpáticas” ("nos outros países são muito complicadas") e uma temperatura “quase igual” à de Marrocos. “Vim visitar. Não pensei em ficar. Era turista. Vinte dias. Gostei muito”, diz. Agora, tem vontade de “aprender a língua e a cultura”. “Se não gostasse não ficava. A vida é isto.”

Marrocos e Portugal “têm uma coisa antiga”. Já em pequeno Hassan ouvia a avó falar de vestígios portugueses em Essaouira e de uma “mina de ouro” explorada por portugueses nas montanhas de Tinghir. Em Março de 2020, o irmão abriu em Matosinhos um restaurante italiano (Toscana, “italiano, mas à nossa maneira"). E um ano depois inaugurou o seu próprio espaço com “coisas mesmo de Marrocos” e não só. Cuscuz de frango, de vitela e vegetariano, tagine com as mesmas variedades, um hambúrguer “caseiro”, lasanha, francesinha, entrecosto, saladas, uma série de massas a la marroquina e pratos do dia que podem ir do bacalhau à mão de vaca com grão. “Também temos em Marrocos. Igual, mas muito diferente.”

Nelson Garrido
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“As pessoas que nunca foram a Marrocos precisam provar a nossa gastronomia. As que conhecem, vão a Lisboa comer porque no Porto não há”, aponta Hassan, que compra muitos dos seus ingredientes ("azeite, alho, açafrão e outras coisas obrigatórias") numa mercearia na Rua de Cimo de Vila ("eles trazem produtos de Marrocos") e que promete variedade e sazonalidade na sua carta porque em Marrocos “há comida de Inverno e comida de Verão”. “Algumas comidas só vão sair com o tempo frio.”

Vedado aos muçulmanos, o álcool não faz parte da lista e não é utilizado em nenhum dos pratos. “Queremos fazer à maneira de Marrocos”, justifica Hassan. “Alguns pedem. Quem conhece a nossa cultura não pergunta, já sabe.” O tradicional bule de chá marroquino custa dois euros. “Aqui toda a gente diz ‘vamos tomar café’. Lá toda a gente diz ‘vamos tomar chá'”.

Se tivesse mais espaço, Hassan transformava o restaurante Marroco, algo descaracterizado, “num espaço marroquino” com tudo o que tem direito. “Quero fazer um sítio em que entras e sentes que estás lá.”

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