Durante a pandemia, as crianças estiveram mais expostas aos perigos da Internet

Foi um tempo em que a família toda esteve junta em casa. Mas nem por isso as crianças foram mais vigiadas. Pelo contrário: um estudo aponta para que, no confinamento, os miúdos tenham passado mais horas na Internet sem supervisão parental.

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Cerca de 30% das crianças entre os 6 e os 10 anos passaram três a seis horas por dia online sem supervisão Unsplash/McKaela Taylor

O trabalho, que incluiu 4000 entrevistas, não abrange a situação portuguesa. Ainda assim, é relevante olhar para as conclusões após terem sido inquiridos pais da Alemanha, Espanha, EUA, França, Itália e Reino Unido: os confinamentos “contribuíram para que as crianças ficassem online sem supervisão durante longos períodos”.

O inquérito, realizado pela Enea, sediada em Estocolmo e uma das principais fornecedoras de software de cibersegurança, aponta para uma necessidade urgente de controlo parental na Internet, especialmente em dispositivos móveis. 

De acordo com as respostas recolhidas naqueles seis países, a actividade móvel não supervisionada foi um desafio para os pais de crianças de todas as idades: 44% das com idades compreendidas entre os 11 e os 15 anos e 30% das que encaixam entre os 6 e os 10 anos passaram três a seis horas por dia sem supervisão. E os menores de 5 anos não ficaram imunes a esta tendência, com os progenitores a confessarem terem deixado os pequenos com acesso a um dispositivo móvel pelo menos durante uma hora por dia.

O inquérito da Enea destaca as preocupações dos pais que procuram uma acção de salvaguarda eficaz quando as crianças estão a utilizar os seus dispositivos móveis. O desafio parece ser ainda mais premente nos EUA, onde as crianças passaram ligadas a maior parte do tempo não supervisionado.

Questionados sobre no que confiariam para a segurança online dos seus filhos, oito em cada dez pais disseram que acolheriam de bom grado a assistência dos operadores móveis no controlo parental e menos de 25% disseram que confiariam a segurança online dos seus filhos ao Facebook, Google ou qualquer outro fornecedor de conteúdos.

“A Internet móvel proporcionou uma linha de vida para nos manter ligados durante a pandemia e os operadores de rede estiveram à altura do desafio”, avaliou o director do Serviço de Clientes da Enea, Indranil Chatterjee. “Mas como todos sabemos, a Internet também tem os seus perigos.”

Para Chatterjee, “é evidente que os pais confiam nos operadores móveis para os apoiar (…) e isso significa que os operadores não só têm a responsabilidade de reforçar as suas salvaguardas para as crianças, como têm também uma oportunidade comercial”. É que quase seis em cada dez (58%) pais disseram que pagariam de bom grado um valor entre os 5 e os 14 dólares (4-12€) por mês para terem acesso a controlos de segurança mais eficazes para os seus filhos. E, muito importante, mais de metade afirmou estar disposto a trocar de operador móvel por um que oferecesse controlos parentais.

Um dos problemas enfrentados pelos fornecedores de filtragem de conteúdos e de controlo parental é o elevado nível de encriptação. Um analista da consultora Analysys Mason, Gorkem Yigit, explicou, citado em comunicado, que “os protocolos de encriptação tais como HTTPS e QUIC tornaram mais difícil para os operadores impedir que conteúdos impróprios tais como para adultos, jogos de azar ou violentos atinjam utilizadores vulneráveis”.

E sobre o futuro Mason não se mostra optimista: “As coisas poderão piorar ainda este ano, uma vez que as soluções de controlo parental existentes poderão tornar-se obsoletas devido à crescente adopção do TLS 1.3 com SNI encriptado”. Ou seja, para salvaguardar eficazmente as crianças, “os operadores devem considerar a implementação de sistemas de classificação de tráfego baseados em inteligência artificial que possam identificar instantaneamente o conteúdo baseado em previsão estatística, análise comportamental e heurística”.

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