Lukashenko diz que desvio do avião da Ryanair serviu para proteger o país

Pais de Roman Protasevich pedem ajuda à comunidade internacional para libertarem o activista detido desde domingo.

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Lukashenko fez um discurso na Assembleia em Minsk MAXIM GUCHEK / POOL / EPA

O Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, justificou a decisão de ter dado ordem para o desvio do avião que levava a bordo o activista político Roman Protasevich e acusou os países ocidentais de estarem a ultrapassar “uma infinidade de linhas vermelhas”.

Lukashenko não se referiu directamente à detenção do opositor de 26 anos e da sua namorada, mas voltou a dizer que o avião civil que se destinava a Vílnius e no domingo foi desviado para Minsk representava uma “ameaça” – as autoridades bielorrussas falavam de uma bomba a bordo, que não se confirmou. “Precisamos de tomar medidas apropriadas para proteger o nosso país”, afirmou o ditador que está no poder desde 1994. “O Ocidente passou de uma revolta para o sufoco da Bielorrússia”, acrescentou durante um discurso no Parlamento esta quarta-feira.

Lukashenko criticou a chuva de condenações provenientes de toda a União Europeia e também dos EUA por causa da detenção de Protasevich. “Ultrapassaram uma infinidade de linhas vermelhas. Passaram para lá dos limites do entendimento da moral”, declarou o chefe de Estado bielorrusso.

No domingo, o avião da companhia aérea Ryanair que tinha saído de Atenas e se destinava a Vilnius foi forçado a desviar-se da sua rota e a aterrar em Minsk. Assim que aterrou na capital bielorrussa, as autoridades detiveram Protasevich e a sua namorada, Sofia Sapega, uma estudante russa de 23 anos.

Protasevich é acusado de ter incitado manifestações contra o Governo de Lukashenko durante o Verão passado. O activista é um dos fundadores do Nexta, um canal alojado na rede de mensagens instantâneas Telegram que divulgou imagens e transmitiu em directo muitos dos protestos contra a reeleição de Lukashenko no passado. As manifestações maciças que se estenderam durante vários meses representaram o mais sério desafio à governação do homem-forte bielorrusso desde que está no poder.

O activista vivia fora da Bielorrússia desde 2019, depois de ser várias vezes detido pela sua contestação pública ao regime de Lukashenko.

Os seus pais têm feito apelos desesperados à comunidade internacional para que intercedam junto das autoridades bielorrussas. “Ele é apenas um jornalista, é apenas uma criança, mas por favor, por favor, suplico por ajuda. Eles vão matá-lo lá”, disse Natalia Protasevich, mãe do activista, à AFP a partir da sua casa na Polónia. O pai, Dmitri Protasevich, disse que a advogada viu recusado um pedido para se encontrar com o opositor. “Uma das formas que as nossas autoridades usam para torturar é não dizer aos familiares onde estão detidos os seus entes queridos até ao último minuto”, afirmou.

Confissões forçadas

Na sua primeira aparição desde a detenção, Protasevich foi filmado a confessar ter organizado manifestações contra o regime. Vários activistas da oposição e familiares do jornalista dizem que é muito provável que o jovem tenha sido forçado a fazer a confissão.

Na terça-feira à noite, foi divulgado um vídeo idêntico com Sapega em que a estudante admite ser uma das editoras do canal de Telegram e diz estar a colaborar com as autoridades.

O episódio gerou uma onda de condenações por parte de vários governos europeus, chocados pelo desvio de um avião civil de uma companhia continental, que fazia um percurso entre dois Estados-membros da União Europeia, para que um opositor político fosse detido. Várias companhias aéreas europeias começaram a evitar sobrevoar o espaço aéreo bielorrusso e Bruxelas está a ponderar aplicar novas sanções económicas.

Esta quarta-feira, os países europeus começaram a impor uma proibição de voos provenientes da Bielorrússia, cumprindo uma decisão da Comissão Europeia. Um avião da companhia nacional bielorrussa, Belavia, que se destinava a Barcelona foi bloqueado quando tentava sobrevoar o espaço aéreo polaco e teve de voltar para trás, segundo o Guardian.

A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que o vídeo da confissão de Protasevich é “preocupante e perturbador” e apelou à sua libertação imediata, garantindo que a UE pretende usar “todos os canais à disposição” para alcançar esse objectivo. O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, disse que a Bielorrússia “é um dos regimes mais desprezíveis do mundo neste momento”.

No entanto, na reunião extraordinária do Conselho Europeu desta semana não foram aprovadas medidas adicionais para punir o regime.

Notícia actualizada às 18h38: Acrescentou-se informação sobre a proibição de voos provenientes da Bielorrússia.

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