Suu Kyi aparece pela primeira vez em público desde o golpe militar na Birmânia

Rebeldes afirmam que dezenas de soldados e polícias birmaneses foram mortos em confrontos no Leste do país. Junta Militar pondera ilegalizar a Nacional para a Democracia.

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Manifestantes pedem a libertação de Suu Kyi num protesto em Fevereiro na capital birmanesa, Naypyitaw MAUNG LONLAN/EPA

A ex-líder da Birmânia Aung San Suu Kyi esteve pessoalmente numa audiência em tribunal, surgindo em público pela primeira vez desde que foi detida, quando o seu Governo foi derrubado no golpe militar do início de Fevereiro. As manifestações pró-democracia que desde então se multiplicaram no país foram duramente reprimidas pela Junta Militar e provocaram já a morte de pelo menos 815 pessoas.

Nos últimos meses, Suu Kyi foi acusada de uma série de crimes, desde corrupção e “incitamento a distúrbios públicos”, má gestão de catástrofes ou violação da lei de segredos de Estado, tendo já começado a ser julgada por importação ilegal de seis rádios walkie-talkie. Mas até agora participara sempre por videoconferência nas sessões do tribunal. Esta segunda-feira esteve 30 minutos com a sua equipa jurídica antes da audiência – segundo o advogado Thae Maung Maung, aparenta estar bem de saúde.

“O nosso partido nasceu do povo e vai existir enquanto as pessoas o apoiarem”, afirmou a Nobel da Paz de 75 anos, citada por outro advogado, Khin Maung Zaw. Esta declaração surge um dia depois de ter sido noticiado que a Junta se prepara para ilegalizar a Liga Nacional para a Democracia (NLD), formação de Suu Kyi que estava no poder e vencera as eleições de Novembro por maioria absoluta. Foi alegando fraude nestas eleições, sem apresentar quaisquer provas, que os militares tomaram o poder.

Da Birmânia, e depois de semanas de imagens e relatos assustadores de civis a serem mortos a tiro nas suas próprias casas (incluindo várias crianças) e de activistas pró-democracia mortos e torturados, chegam agora notícias de confrontos entre diferentes grupos étnicos armados e as forças de segurança, ao mesmo tempo que alguns opositores formaram a Força de Defesa do Povo, uma milícia composta por civis com armas artesanais.

No domingo, o Exército usou tanques e helicópteros contra os combatentes do Partido Nacional Progressista Karenni, um dos grupos que luta pela imposição de um estado para a minoria karen, no Leste do país, e os combates prolongaram-se até segunda-feira de manhã. Segundo disse à Reuters o porta-voz de um grupo local que coordena evacuações, quatro pessoas que se tinham refugiado numa igreja foram mortas nos bombardeamentos.

Noutra batalha, também no Leste, mas com a Força de Defesa do Povo, pelo menos 20 polícias morreram e uma esquadra da polícia foi incendiada na cidade de Moebyel, estado de Shan, adianta a AFP, que falou com os insurrectos. Os media locais relatam que quatro agentes foram feitos prisioneiros pelos combatentes civis. Outro combatente ouvido pela mesma agência diz que 13 soldados foram mortos em Demoso, no estado de Kayah.

“Pensei que hoje é um dia de conquista. Mas também estou preocupado com os ataques aéreos e os tanques”, disse à AFP Thet Wai, membro da Força de Defesa do Povo. “Eles têm muito melhores armas do que nós.”

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