Poeta birmanês morre depois de ter sido torturado por militares, diz oposição

Khat Thi é o terceiro poeta a morrer durante os protestos contra a Junta Militar que tomou o poder a 1 de Fevereiro. Pelo menos 780 civis foram mortos pelas forças armadas.

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Os protestos contra a Junta Militar saem à rua diariamente STRINGER/LUSA

O poeta birmanês Khet Thi, conhecido pelo trabalho que incita à resistência contra a Junta Militar, morreu durante a noite enquanto estava detido e o seu corpo foi devolvido com os órgãos removidos, denunciou a sua família. De acordo com um boletim da Associação de Assistência aos Presos Políticos, “ele morreu depois de ter sido torturado no centro de interrogação”.

Tanto Khet Thi como a esposa foram levados por soldados armados e polícias para serem interrogados, no sábado, na cidade central de Shwebo, na região de Sagaing – um centro de resistência ao regime militar que destituiu à força a líder eleita Aung San Suu Kyi.

“Fui interrogada, e ele também. Disseram-me que eles estavam no centro de interrogação. Mas não voltou, apenas o seu corpo”, disse a mulher de Khet Thi, Chaw Su, à BBC birmanesa em lágrimas, na cidade de Monywa.

“Chamaram-me durante a manhã e disseram-me que o podia encontrar no hospital de Monywa. Pensava que tivesse partido um braço. Mas quando cheguei ele estava na morgue e os órgãos internos tinham sido removidos”, descreveu.

Chaw Su tinha sido informada no hospital que o marido tinha um problema de coração, mas não chegou a ler a certidão de óbito, porque sabia que esta não incluiria a verdadeira causa da morte, disse. A Reuters não conseguiu entrar em contacto com o hospital. O porta-voz da Junta Militar também não respondeu às tentativas de contacto sobre a morte do poeta.

Khet Thi era guitarrista, pasteleiro e poeta. Não era alguém que conseguisse disparar uma arma, mas deixara implícito que a sua atitude estava a mudar. “O meu povo está a ser atingido e eu apenas posso disparar poemas. Mas quando tens a certeza que a tua voz não está a ser ouvida, tens de escolher uma arma com cautela. Eu vou disparar”, escreveu. 

“Eles atiraram à cabeça, mas não sabem que a revolução se faz no coração”, escreveu também. Segundo o site de notícias Myanmar Now, tinha 45 anos.

Várias figuras culturais e celebridades tornaram-se opositores proeminentes contra a Junta Militar, protestando diariamente em vários locais do país, apesar do número elevado de mortes e detenções. Segundo a Associação de Assistência aos Presos Políticos, pelo menos 780 civis foram mortos pelas forças de segurança.

Desde o golpe militar de 1 de Fevereiro que a violência das forças armadas tem aumentado. São reportados diariamente bombeamentos e têm-se formado milícias locais para confrontar os militares. Além das mortes e detenções às mãos das forças de segurança, o país está em risco de ver metade da sua população a cair na pobreza até ao final do ano.

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