Junta militar da Birmânia pode dissolver partido de Suu Kyi

Líder da junta dá primeira entrevista desde o golpe de Fevereiro garantindo que Suu Kyi está bem de saúde e deverá comparecer em tribunal dentro de dias.

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Protestos contra a junta e a favor de Suu Kyi LYNN BO BO/EPA

O líder da junta militar da Birmânia, Min Aung Hlaing, deu a primeira entrevista desde o golpe de 1 de Fevereiro em que derrubou o governo eleito do partido de Aung San Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia (NLD), dizendo que Suu Kyi está em casa, bem de saúde e vai ser presente na próxima semana a tribunal.

Os militares tomaram o poder alegando fraude nas eleições de Novembro, que deram a vitória por maioria absoluta do partido de Suu Kyi (uma alegação que foi logo rejeitada pela comissão eleitoral e mais recentemente pela Rede Asiática para Eleições Livres). Na véspera, dois meios de comunicação social birmaneses avançavam a hipótese de a Junta ilegalizar o partido, segundo declarações de um responsável sob anonimato.

Muitos responsáveis do partido foram detidos na sequência do golpe, que levou a grandes protestos de rua, que foram alvo de repressão violenta, e de seguida a ataques de grupos étnicos armados que se opõem à junta. Ainda este sábado houve um novo ataque de um destes grupos. A associação que apoia os prisioneiros políticos diz que morreram pelo menos 812 pessoas desde o golpe. O Exército recusa estes números e diz ainda que morreram pelo menos 24 soldados.

Suu Kyi, que venceu um Nobel da Paz pela sua oposição pacífica ao anterior regime militar, é uma entre mais de 4000 pessoas detidas desde o golpe. Enfrenta várias acusações, desde ter walkie-talkies ilegalmente até violar uma lei de segredo de Estado.

Durante este tempo, não se sabia onde estaria detida, e responsáveis dos Estados Unidos ou Reino Unido já tinham mostrado preocupação com o seu estado de saúde. Não lhe foi permitido falar com os seus advogados em privado, e apareceu em tribunal apenas por vídeo-conferência.

“Aung San Suu Kyi está de boa saúde. Está em sua casa e saudável. Vai a julgamento dentro de dias”, disse Min Aung Hlaing numa entrevista à Phoenix Television, com sede em Hong Kong.

O entrevistador perguntou a Hlaing o que pensava da acção de Suu Kyi, 75 anos, que é admirada no país pela sua campanha para reformas democráticas. “Ela tentou tudo o que pode”, respondeu o militar.

A próxima sessão em tribunal está marcada para segunda-feira na capital, Naypyidaw.

Quanto ao plano para banir o seu partido, este estará a ser desenhado pela recém-nomeada comissão eleitoral. Um comissário envolvido nas discussões disse a dois sites de notícias que o anúncio foi feito num encontro com partidos políticos na sexta-feira, um encontro que foi boicotado por muitos partidos, incluindo o de Suu Kyi.

A NLD cometeu fraude, alegou o chefe da comissão nomeada pela Junta, Thein Soe, “por isso vamos ter de dissolver o partido”.

As suas declarações foram mencionadas no jornal da noite da TV estatal, acompanhadas por uma fotografia de Soe, resumidas pelo pivot. Outro dos pontos mencionados foi que Soe disse que quem tenha estado envolvido na fraude eleitoral “será considerado traidor” e será alvo de acção.

Um porta-voz da junta militar não respondeu a um pedido de comentário.

“O anúncio da obediente comissão eleitoral da Junta de que vai banir a Liga Nacional para a Democracia é uma tentativa declaradamente anti-democrática de prolongar o regime militar em desafio ao povo”, disse o porta-voz de uma aliança de grupos pró-democracia que inclui a LND chamada Governo de Unidade Nacional. 

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