Coligação de dez grupos armados apoia o governo derrubado pelo golpe militar na Birmânia

PPST defende abolição da Constituição de 2008, que permite prolongamento da ditadura militar, e quer governo de unidade nacional

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Manifestantes desafiam os militares durante um protesto em Rangum Reuters/STRINGER

Uma dezena de grupos armados da Birmânia que assinaram um cessar-fogo e se juntaram ao processo de paz em 2015 manifestaram o seu apoio ao governo derrubado pelo golpe de Estado de 1 de Fevereiro e aprovaram a decisão do “parlamento paralelo” de abolir a Constituição de 2008, adoptada na semana passada perante a repressão dos protestos contra a tomada do poder pelos militares.

Yaud Serk, presidente da Equipa de Direcção do Processo de Paz (PPST, na sigla em inglês), que aglutina os referidos grupos, afirmou que a coligação “apoia firmemente o povo que se opõe à tomada do poder por parte da junta militar através de manifestações pacíficas para pedir o fim da ditadura, a abolição da constituição de 2008, uma democracia total, uma união federal e a libertação dos detidos”.

“A Junta militar deve prestar contas pela morte de mais de 500 civis”, exigiu Serk durante uma videoconferência, segundo apurou o diário birmanês The Irrawaddy. “Para solucionar a crise, temos de trabalhar através de várias vias”, acrescentou, sem dar mais detalhes.

Por sua vez, o porta-voz da PPST, Salai Lian Hmong Sajong, exigiu à Junta “o fim das atrocidades contra civis desarmados” e reiterou que os grupos que integram a coligação “apoiam as pessoas que participam no movimento de desobediência civil em desafio ao regime”. As declarações do PPST chegam cerca de uma semana depois de o exército ter bombardeado o distrito de Papun, no estado de Karen, controlado pela União Nacional de Karen (KNU), um dos grupos que faz parte da coligação. Os ataques causaram o deslocamento de milhares de civis.

O Comité Representativo do Parlamento da União (CRPH), nome oficial do “parlamento paralelo” não reconhecido pela junta militar, considera que a manutenção da Constituição de 2008 permite “prolongar a ditadura militar e evitar o aparecimento de uma união federal democrática”, pelo que anunciou a sua abolição e defendeu a criação de um governo de unidade nacional.

O CRPH, formado por membros da Liga Nacional para a Democracia (NLD), nomeou em Fevereiro Aung San Suu Kyi para um segundo mandato como líder “de facto” do país, apesar de estar detida, assim como o presidente birmanês Win Mynt, desde o golpe militar, acusada de vários crimes.

O golpe militar deu-se horas antes de o novo Parlamento tomar posse após as eleições e depois de um partido da oposição ligado aos militares ter denunciado irregularidades no acto eleitoral. No entanto, os deputados da NLD foram posteriormente empossados numa cerimónia informal em que anunciaram que o parlamento se mantinha de pé.

Australianos libertados

Um casal australiano foi, entretanto, libertado da prisão domiciliária em que se encontrava e recebeu autorização para deixar a Birmânia sem ter sido acusado, confirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Austrália. A junta militar impediu, em Março, que Christa Avery e Matthew O'Kane deixassem o país quando se preparavam para embarcar com destino à Austrália.

“Estou muito aliviada pela libertação e por poder regressar a casa com o meu marido, Matt”, afirmou Avery em comunicado. “Mesmo sabendo que não fizemos nada de mal, foi muito angustiante estar em prisão domiciliária durante duas semanas”, acrescentou a australiana citada pela cadeia de televisão australiana ABC. Já o Ministério dos Negócios Estrangeiros australiano “aplaudiu” a libertação, acrescentando que prestou assistência consular ao casal ao mesmo tempo que forneceu apoio para que pudesse embarcar no domingo num voo a partir de Rangum.

 
 
 
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