Menina de sete anos morta a tiro pelas forças de segurança na Birmânia

Militares birmaneses não comentam nova morte de uma criança, ao mesmo tempo que libertam 600 detidos, a maioria estudantes universitários. Audiência de Suu Kyi volta a ser adiada.

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O reencontro dos detidos libertados com os familiares, em Rangum Reuters
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Funeral da menina de sete anos morta pela polícia em Mandalay Reuters
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Protesto pacífico no centro de Rangum EPA

Uma menina de sete anos foi morta em sua casa na Birmânia, atingida a tiro pela polícia quando corria para o seu pai, durante um raide à casa da família, na cidade de Mandalay, a segunda maior cidade do país. A Junta militar por trás do golpe que derrubou o governo democraticamente eleito no início de Fevereiro tem usado cada vez mais violência contra os protestos pacíficos – segundo a organização não-governamental Save the Children, já há mais de 20 crianças entre os mortos da repressão.

Khin Myo Chit foi morta quando a polícia entrou em sua casa, depois de realizar buscas em casas da vizinhança, disse à BBC a sua irmã mais velha, May Thuma Sumaya, de 25 anos. “Eles abriram a porta a pontapé. Quando a porta se abriu perguntaram ao meu pai se havia mais pessoas em casa”, relata. Ele disse que não, mas os polícias começaram a procurar no resto da casa – foi nesse momento que Khin Myo Chit correu para o pai para se sentar no seu colo. “Eles dispararam e atingiram-na”, diz May Thuma Sumaya.

Ouvido pelo Myanmar Muslim Media, o pai, U Maung Ko Hashir Bai, descreveu as últimas palavras da filha: “Ela disse ‘Não aguento, pai, é demasiado doloroso’”. Segundo o pai, a menina morreu meia hora depois, quando era levada num carro para o hospital. A polícia ainda bateu no seu filho de 19 anos e deteve-o.

Esta é a vítima mais nova de que há conhecimento na repressão ordenada pelos militares para tentar travar as manifestações pró-democracia. Num comunicado, a Save the Children, disse estar “horrorizada” com esta morte, confirmada um dia depois da morte de um rapaz de 14 anos, igualmente atingido a tiro em Mandalay.

“A morte destas crianças é especialmente preocupante porque terão sido mortas quando estavam em casa, onde deviam estar seguras”, diz a ONG. “O facto de tantas crianças estarem a ser mortas, agora quase diariamente, mostra um total desrespeito pela vida humana por parte das forças de segurança.”

No total, a Junta admite que 164 pessoas foram mortas nos protestos, enquanto a Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos diz que já morreram pelo menos 261 pessoas. Na terça-feira, o Exército afirmou-se “entristecido” pela morte de manifestantes, ao mesmo tempo que os culpava por provocarem anarquia e violência na Birmânia.

A verdade é que as forças de segurança têm usado balas reais e há muitos relatos de espancamentos e de disparos contra pessoas durante operações dentro de residências, com as forças de segurança à procura de activistas pró-democracia e manifestantes.

As autoridades decidiram entretanto libertar 600 detidos que estavam na prisão de Insein, em Rangum. Muitos são estudantes universitários, mas entre estes está o jornalista Thein Zaw, da Associated Press, detido com um colega quando cobria uma manifestação, o mês passado.

Ao longo do dia, os planos dos manifestantes passam por uma greve silenciosa, com muitos comércios encerrados. À noite serão organizadas mais vigílias à luz de vela, como tem acontecido nos últimos dias em várias cidades.

A líder deposta, Aung San Suu Kyi, deveria ter sido ouvida esta quarta-feira em tribunal, mas o seu advogado anunciou que a audiência prevista foi adiada por problemas de Internet e está agora marcada para 1 de Abril, o segundo adiamento consecutivo do seu caso. A antiga prisioneira, e Prémio Nobel da Paz em 1991, enfrenta acusações de importação ilegal por ter rádios em casa e de violar os protocolos impostos no combate à pandemia de covid-19. Em duas conferências de imprensa recentes, os militares acusaram-na de corrupção.

Foi a 1 de Fevereiro que o Exército afastou do poder o Governo civil liderado por Suu Syi e pela sua Liga Nacional para a Democracia, a pretexto de fraude nas eleições de Novembro (sem apresentar quaisquer provas), que o partido venceu com maioria absoluta. 

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