Militares na Birmânia querem acusar Suu Kyi de corrupção

Um magnata próximo dos militares confessou na televisão ter recebido subornos da líder civil birmanesa. Advogados dizem que as acusações são “infundadas” e “ilógicas”.

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Manifestantes na Birmânia têm exigido a libertação de Suu Kyi STRINGER / EPA

A campanha para desacreditar a líder do governo civil birmanês deposto a 1 de Fevereiro, Aung San Suu Kyi, continua com novas acusações de corrupção. Um empresário foi gravado a confessar ter pago 550 mil dólares (461 mil euros) em dinheiro à Prémio Nobel da Paz e é expectável que seja aberto mais um processo contra si.

Suu Kyi está presa pelos militares e já foi acusada de vários crimes, incluindo a violação das normas sanitárias de controlo da pandemia, incitamento a protestos públicos e posse ilegal de walkie-talkies importados.

Não é a primeira vez que a estadista de 75 anos é implicada num caso de corrupção pelos líderes militares birmaneses. Na semana passada, um porta-voz do Exército disse que um ministro que se encontra detido admitiu ter entregado 600 mil dólares (503 mil euros) e mais de dez quilogramas de barras de ouro a Suu Kyi.

As novas acusações vieram de Maung Waik, um magnata do sector da construção que já foi condenado por tráfico de droga, diz o Guardian. Em declarações à televisão estatal, o empresário disse ter dado a Suu Kyi cem mil dólares em 2018 para uma fundação de caridade com o nome da sua mãe, e descreveu duas outras ocasiões em que lhe deu dinheiro sem ter especificado a razão.

Durante a transmissão, um apresentador disse que as autoridades estão preparadas para acusar Suu Kyi.

As alegações foram prontamente rejeitadas pelos advogados da líder birmanesa, que as consideram “infundadas” e “ilógicas”. “Aung San Suu Kyi pode ter os seus defeitos, mas subornos e corrupção não são características suas”, afirmou o advogado Khin Maung Zaw, citado pela AFP.

Suu Kyi continua a ser uma personalidade extremamente popular na Birmânia, onde muitos a associam à luta pela democracia pela qual passou 15 anos em prisão domiciliária. Para os militares que tomaram o poder, para ser crucial prejudicar a imagem pública de Suu Kyi aos olhos dos birmaneses, que continuam a opor-se ao golpe de Estado.

Quase diariamente são convocadas manifestações em todo o país contra o regresso dos militares ao poder e com a exigência de libertação dos presos políticos, incluindo Suu Kyi. As autoridades têm respondido com uma forte repressão que já deixou mais de 200 mortos, de acordo com uma associação de presos políticos, e tem sido condenada pela comunidade internacional.

A junta militar deparou-se com um revés esta semana na sua tentativa de se impor junto da população com a manifestação de protesto emitida pela principal associação de monges budistas da Birmânia.

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