Principal organização budista da Birmânia junta-se à oposição aos militares

A perda do apoio dos budistas é um revés para a Junta militar. Papa Francisco pediu o fim da violência contra os manifestantes.

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Manifestantes erguem uma barricada numa rua de Rangoon, na Birmânia STRINGER / EPA
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Manifestação na capital birmanesa, Naypyidaw STRINGER / EPA
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A mais importante organização de monges budistas da Birmânia manifestou a sua oposição à repressão violenta feita pela junta militar contra os manifestantes que há mais de um mês contestam o golpe de Estado.

O Comité Estatal Sangha Maha Nayaka pediu o fim da violência por parte das forças de segurança, que desde o início de Fevereiro já provocou mais de 180 mortos, e disse que os monges que representa vão suspender as suas actividades religiosas, no que foi interpretado como um acto de protesto.

O posicionamento político das associações budistas é importante num país cuja população segue maioritariamente esta religião, apesar das enormes divisões étnicas no país. A aparente oposição do Sangha Maha Nayaka, que é nomeado pelo Governo, representa um revés para a Junta militar que tenta pôr fim à oposição generalizada da população à sua tomada do poder.

O Sangha Maha Nayaka também acusou uma “minoria armada” de ser responsável pela morte de civis nas últimas semanas, diz a Reuters.

Os monges budistas têm uma tradição de envolvimento político na Birmânia. Em 2007, estiveram na liderança da chamada “revolução açafrão”, um movimento de contestação ao regime militar que ajudou a abrir caminho para as reformas democráticas, poucos anos depois.

Os apelos para que a violência na Birmânia chegue ao fim sucedem-se. Esta quarta-feira, o Papa Francisco disse que a situação na antiga colónia britânica é “dramática”. “Também eu me ajoelho nas ruas da Birmânia e digo ‘fim à violência’”, disse o chefe da Igreja Católica, referindo-se ao momento em que uma freira se ajoelhou em frente a militares armados pedindo-lhes que não atirassem sobre os manifestantes.

A Birmânia atravessa um período de grande convulsão desde que a 1 de Fevereiro o Exército derrubou o Governo civil liderado oficiosamente por Aung San Suu Kyi, que está detida desde então. Foram presos vários políticos e ocupados os principais postos de governação por militares.

A tomada do poder pelos militares foi condenada a nível internacional, mas a China e a Rússia opuseram-se a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que denunciava os abusos cometidos pelos militares. Na Birmânia, muitos acreditam que Pequim está a apoiar silenciosamente a junta, num país fundamental para as ambições geopolíticas do regime chinês.

O golpe foi rejeitado pela população que tem organizado grandes manifestações em praticamente todo o país para exigir o retorno à democracia. A resposta da junta militar tem sido violenta, com detenções arbitrárias e a utilização de munições reais para reprimir os protestos.

Em algumas cidades birmanesas, o ambiente é quase de guerra civil. Há barricadas erguidas pelos manifestantes a fechar ruas e a junta tem cortado frequentemente o acesso à Internet para impedir a marcação de manifestações. Investigadores das Nações Unidas têm pedido às pessoas para recolherem tudo aquilo que considerarem poder vir a servir como prova de crimes cometidos pelos militares, diz a Reuters.

Os militares governaram a Birmânia durante meio século até que nas eleições de 2015, as primeiras em que os partidos civis tiveram oportunidade de concorrer, a Liga Nacional para a Democracia (NLD), de Suu Kyi, obteve a maioria dos votos. Foi formado o primeiro Governo civil desde os anos 1960, mas os militares continuaram a controlar ministérios importantes.

Uma vitória ainda mais expressiva da NLD nas eleições legislativas do ano passado foi muito mal recebida pela cúpula do Exército, que alegou fraude. Meses depois avançava para um golpe para fazer regressar a Birmânia à ditadura.

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