Covid-19: uso prolongado de máscaras e viseiras agrava crises de cefaleia

Dos mais de 5000 participantes do estudo da Sociedade Portuguesa de Cefaleias com outros parceiros, quase 90% atribuem o início das crises de cefaleia ao uso de máscaras, viseiras ou óculos.

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DIOGO VENTURA

Ao todo, 56% dos inquiridos de um estudo feito com mais de 5000 participantes em Portugal desenvolveu cefaleias após o uso prolongado de equipamentos de protecção individual (EPI), nomeadamente máscaras, viseiras e óculos. Desses, quase 90% atribuem o início dessas crises ao uso desses equipamentos. O estudo foi desenvolvido pela Sociedade Portuguesa de Cefaleias (SPC) em conjunto com a MiGRA Portugal – Associação de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias e com o Centro de Cefaleias do Hospital da Luz. 

Raquel Gil Gouveia, neurologista da Sociedade Portuguesa de Cefaleias, citada em comunicado, explica que a decisão de realizar este inquérito se deveu essencialmente ao aumento do número de queixas por parte de doentes que já tinham crises de cefaleias, mas também de doentes que desenvolveram estas crises apenas devido ao uso de EPI. “Estas cefaleias foram descritas maioritariamente como bilaterais, tipo pressão, mais frequentemente afectando a testa e as regiões de aplicação dos EPI na zona cefálica (peri-ocular, nuca, vértex, atrás das orelhas)”, relata.

O estudo envolveu 5064 participantes, dos quais 90,6% mulheres, com uma idade média de 37 anos, com representação de todos os distritos de Portugal. Os dados indicam ainda que 20% dos participantes trabalham na área da saúde. Cerca de três em cada quatro (72%) já tinham história de cefaleia regular, 62% com critérios de enxaqueca. Segundo os resultados, cerca de 97% dos doentes tiveram um aumento da frequência de crises, 95% um aumento da duração e/ou intensidade e 92% responderam pior à terapêutica.

Minimizar o impacto 

“Estes são valores que acabam por ser alarmantes, especialmente quando falamos sobre uma pior resposta à terapêutica. Como profissionais de saúde temos de alertar a população para estas questões e olhar pelo seu bem-estar”, considera Raquel Gil Gouveia. A especialista sublinha que o aumento do número de crises “acaba por contribuir, também, para o aumento de incapacidade dos doentes, especialmente a nível laboral, local onde os doentes têm de estar permanentemente a utilizar um EPI”. A neurologista diz ainda que o teletrabalho pode ser “uma opção para reduzir o impacto das medidas de protecção individual na população”.

A utilização de EPI tem conduzido a um agravamento das crises dos doentes com enxaqueca e cefaleias e a uma maior dificuldade em controlar as crises com a medicação aguda que normalmente utilizam, gerando mais faltas ao trabalho e maior dificuldade de dar apoio em casa”, revela, por seu lado, Madalena Plácido, presidente da MiGRA Portugal. Contudo, reforça, “é extremamente importante a utilização destes EPI na pandemia que atravessamos, pois não podemos colocar os doentes com cefaleias num risco acrescido”.

No entanto, explica que, quando a utilização de EPI por períodos prolongados é necessária, podem ser tomadas algumas medidas para minimizar o impacto da sua utilização no agravamento das crises de enxaqueca e cefaleias. “Muitos doentes referem que os descansos regulares com a remoção do EPI por curtos períodos (sempre garantindo a segurança necessária) ajudam a reduzir o impacto”, refere a responsável, que reforça a importância de os doentes se manterem hidratados, “uma vez que a desidratação é um dos grandes desencadeadores de crises”. “Não saltar refeições e não fazer longos períodos de jejum são também bons conselhos que ajudarão a evitar algumas crises”, acrescenta a presidente da MiGRA Portugal.

As cefaleias, como por exemplo a enxaqueca, vulgarmente conhecidas por dores de cabeça, são doenças neurológicas que provocam uma dor incapacitante e podem ter outros sintomas associados. A Organização Mundial de Saúde identificou as cefaleias como o distúrbio neurológico mais frequentemente relatado nos cuidados primários, sendo a enxaqueca um dos mais comuns, que afecta cerca de um milhão e meio de pessoas em Portugal.

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