EUA respondem às actividades “malignas” da Rússia com novas sanções

Administração Biden acusa Moscovo de ciberataques e interferência na eleição presidencial de 2020. Sanções incluem expulsão de diplomatas e aplicação de restrições financeiras a mais de dezenas de entidades entidades russas.

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O Presidente dos EUA disse que vai defender os interesses norte-americanos "com firmeza" Andrew Harnik / POOL

A Casa Branca anunciou esta quinta-feira a imposição de pesadas sanções à Rússia por causa das actividades “malignas” lideradas e patrocinadas a partir de Moscovo, tendo os Estados Unidos como alvo. A Administração Biden responsabiliza o Kremlin por ciberataques a instituições governamentais norte-americanas e por interferência na eleição presidencial de Novembro do ano passado, entre outras acções “danosas” e “irresponsáveis”.

A tomada de posição de Washington consubstancia uma das reacções mais duras contra Moscovo desde a anexação russa da península ucraniana da Crimeia, em 2014, e conta com a “solidariedade” da NATO. Ocorre ainda numa altura em que os membros da aliança atlântica mostram apoio total ao Governo de Kiev, por causa do reforço da presença militar russa na fronteira com a Ucrânia.

“A Rússia continua a demonstrar um padrão permanente de comportamentos desestabilizadores. Estamos solidários com os EUA”, lê-se num comunicado divulgado esta quinta-feira pela NATO, citado pela Reuters.

O pacote de sanções dos EUA afecta financeiramente 32 entidades russas – entre indivíduos e empresas – envolvidas em “actos de desinformação e interferência” e outras oito entidades russas associadas à “ocupação e repressão na Crimeia”. 

Inclui também a expulsão de dez diplomatas russos da capital norte-americana, entre os quais membros dos serviços de Inteligência.

Sob a forma de um decreto presidencial, Joe Biden autorizou ainda o Governo dos EUA a impor sanções futuras a qualquer sector da economia russa, ao mesmo tempo que restringiu a capacidade das instituições financeiras norte-americanas de negociarem títulos da dívida soberana russa.

“Estas acções têm como objectivo responsabilizar a Rússia pelas suas actividades irresponsáveis. Iremos agir firmemente em resposta às acções russas que nos causam danos a nós e aos nossos aliados e parceiros”, defende o secretário de Estados norte-americano, Antony Blinken, num comunicado.

Tensão crescente

As novas sanções são, por um lado, uma resposta à falha nos sistemas de segurança electrónicos que afectou os programas da empresa SolarWinds Corp., em Dezembro, e que abriu as portas de milhares de empresas e de gabinetes do Governo norte-americano a piratas informáticos

Os serviços secretos dos EUA dizem que a falha foi provocada por um ataque informático coordenado pela Rússia e o presidente da Microsoft, Brad Smith, descreveu o ataque de Dezembro como “o maior e o mais sofisticado de sempre”.

Mas o principal motivo da aplicação de sanções é a interferência russa na eleição presidencial de 2020. Num relatório publicado em Março, os serviços secretos norte-americanos dizem que o Presidente russo, Vladimir Putin, tentou influenciar a eleição para favorecer Donald Trump.

A dramática mudança de atitude dos EUA em relação à Rússia desde a chegada de Joe Biden à Casa Branca, a 20 de Janeiro, vai exacerbar ainda mais as tensões entre os dois países, que caíram para o patamar mais baixo desde a Guerra Fria quando o novo Presidente norte-americano chamou “assassino” a Putin, em Março.

Numa conversa telefónica entre os dois líderes, na terça-feira, Biden disse a Putin que os EUA vão defender “com firmeza” os seus interesses em resposta às acções da Rússia. Na mesma chamada, o Presidente norte-americano propôs ao seu homólogo russo uma reunião “num país terceiro”, para se perceber se há condições para um entendimento em algumas áreas.

Esta quinta-feira, porém, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, deu a entender que este pacote de sanções torna praticamente impossível uma cimeira bilateral “num futuro próximo”. Ainda assim, garantiu que a Rússia está preparada para enfrentar “a hostilidade e a imprevisibilidade das acções da América”.

O Governo russo nega todas as acusações vindas do Ocidente, incluindo a interferência nas eleições nos EUA e os ciberataques, mas também as denúncias sobre o seu envolvimento no envenenamento do opositor político russo Alexei Navalny ou sobre a oferta de recompensas monetárias aos taliban para matarem soldados norte-americanos no Afeganistão – que também vem referida no anúncio das novas sanções.

Citada pela RT, Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, revelou que o embaixador dos EUA em Moscovo foi convocado para um encontro no Kremlin para explicações, e garantiu que o Governo russo vai responder o mais rápido possível às sanções norte-americanas.

Com Alexandre Martins

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