Trump foi informado em Fevereiro sobre prémios russos pagos aos taliban que matassem soldados americanos

Presidente norte-americano diz que notícias sobre unidade de espionagem russa no Afeganistão não são credíveis. Desconforto começa a sentir-se no Partido Republicano.

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Donald Trump garante que não foi informado sobre suspeitas de operação russa no Afeganistão Reuters/Carlos Barria

Donald Trump foi informado, por escrito, no final de Fevereiro, relativamente às suspeitas dos serviços secretos norte-americanos quanto a uma operação russa no Afeganistão que terá oferecido dinheiro a grupos ligados aos taliban como recompensa por ataques a soldados americanos e a forças da NATO. 

A notícia sobre a unidade de espionagem russa foi avançada pelo New York Times na passada sexta-feira e, desde então, vários meios de comunicação norte-americanos têm corroborado a história e acrescentado novas informações. No entanto, o Presidente norte-americano garantiu que não foi informado sobre o assunto e desvalorizou-o, considerando que as notícias não eram credíveis.

Na segunda-feira, em conferência de imprensa, a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, escusou-se a responder se Trump estava ou não a par das suspeitas quanto ao envolvimento russo no Afeganistão, apesar de ter afirmado que “não existe consenso entre os serviços secretos nestas alegações”.

No mesmo dia, o New York Times, citando duas fontes oficiais sob anonimato dos serviços secretos norte-americanos, contrariou o desmentido de Donald Trump e noticiou que em Fevereiro chegou à Casa Branca um documento a dar conta das suspeitas quanto à possibilidade de a Rússia estar a pagar prémios a grupos próximos do taliban que matassem soldados americanos.

Segundo o mesmo jornal, uma das fontes refere que o briefing diário, com um resumo das informações mais sensíveis sobre segurança nacional e política externa, chegou à secretária de Trump no final de Fevereiro. Outra fonte é mais precisa e garante que o documento em causa chegou às mãos do Presidente no dia 27 de Fevereiro.

Tanto a Rússia como os taliban rejeitam o seu envolvimento numa operação deste género. John Ratcliffe, director das agências de serviços secretos dos Estados Unidos, garantiu que as suspeitas estão a ser investigadas e prometeu mais informações brevemente. 

Preocupação no Partido Republicano 

O alerta quanto ao envolvimento russo remete a Janeiro deste ano, depois de as forças especiais norte-americanas destacadas no Afeganistão terem recuperado elevadas quantias de dinheiro em postos controlados pelos taliban. O interrogatório a militantes islamistas e mercenários capturados levou os serviços norte-americanos a concluírem o envolvimento da Rússia. 

Em Março, o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca reuniu-se para discutir o problema e, segundo a imprensa norte-americana, nessa reunião foi discutida a resposta à hostilidade russa, que poderia passar por uma queixa diplomática ou pela imposição de sanções a Moscovo. Contudo, nenhuma acção foi tomada.

Apesar de Donald Trump continuar a desmentir as notícias, sem especificar, contudo, se a operação de espionagem russa é falsa ou se, simplesmente, não estava a par da informação fornecida pelos serviços secretos, o desconforto é cada vez maior, não só entre o Partido Democrata, mas também no Partido Republicano, no que parece constituir mais um episódio de subserviência de Trump em relação a Vladimir Putin.

Depois de a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e do líder da minoria do Partido Democrata no Senado, Chuck Schumer, terem exigido que os congressistas fossem esclarecidos quanto às suspeitas em torno da unidade de espionagem russa, vozes do Partido Republicano manifestaram publicamente a sua preocupação quanto à gravidade das suspeitas.

Na segunda-feira, depois de Liz Cheney, congressista do Wyoming e uma das figuras mais importantes do Partido Republicano, ter pedido explicações, realizou-se uma reunião entre figuras do Partido Republicano e oficiais da Casa Branca.

No final da reunião, escreve o New York Times, persistiram algumas dúvidas, depois de Liz Cheney e Marc Thornberry, congressista do Texas, terem emitido um comunicado conjunto a referir que continuam “preocupados com a actividade da Rússia no Afeganistão, incluindo os relatos de que soldados norte-americanos podem ter sido atacados”.

Morte de soldados 

As suspeitas quanto ao envolvimento russo no Afeganistão não são de agora – há vários anos que há suspeitas de que Moscovo esteja a financiar os taliban, procurando aumentar a sua influência no país e na região e levar à retirada das tropas norte-americanas.

Além disso, a Administração Trump negociou um acordo de paz com o grupo islamista, que prevê a retirada faseada das suas tropa do país.

As suspeitas dos serviços secretos norte-americanos quanto aos prémios russos pagos a islamistas e mercenários tornam-se ainda mais graves quando surgem ligadas a mortes de soldados. Segundo o Washington Post, que cita fontes oficiais sob anonimato, a operação russa poderá ter resultado na morte de vários norte-americanos nos últimos dois anos, apesar de não ser possível referir o número exacto.

De acordo com o mesmo jornal norte-americano, em 2019 morreram 16 oficiais norte-americanos no Afeganistão, mais seis o que no ano anterior. Este ano, já morreram dois soldados. Já o New York Times liga os prémios pagos pela Rússia aos taliban a um atentado à bomba perto da base aérea de Bagram em Abril de 2019, que causou a morte de três fuzileiros norte-americanos.

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