Estudo conclui que é urgente melhorar o diagnóstico da apneia do sono

Os cientistas recrutaram 34 doentes com apneia do sono seguidos no Centro de Medicina do Sono do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

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Adaptado do quadro The Dream de Henri Matisse, 1940 Gil Costa

Investigadores da Universidade de Coimbra que estão a estudar as perturbações nos relógios biológicos causadas pela apneia do sono alertam para “a necessidade urgente de encontrar estratégias que melhorem e antecipem o diagnóstico” da doença.

Um estudo sobre o impacto da apneia do sono nos relógios biológicos do organismo, publicado na revista científica EBioMedicine, editada pela The Lancet, assinala “a necessidade urgente de encontrar novas estratégias que melhorem e antecipem o diagnóstico desta doença respiratória obstrutiva, uma das perturbações do sono mais prevalentes no mundo, mas ainda muito subdiagnosticada”, afirma a Universidade de Coimbra (UC) em comunicado divulgado esta quarta-feira.

Conduzido por uma equipa do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC, o estudo pretendeu perceber em que medida a apneia do sono, também denominada síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS), pode “promover disrupções no funcionamento dos relógios biológicos, que por sua vez poderão estar na base das diferentes comorbilidades associadas à patologia, incluindo doenças cardiovasculares ou metabólicas (como diabetes ou obesidade), ou contribuir para o seu agravamento”, explica Ana Rita Álvaro, investigadora principal do projecto.

Os relógios biológicos, presentes em todas as células do organismo, “são cruciais para a saúde e bem-estar”, sustenta a investigadora, sublinhando que “actuam como relógios internos, organizando todos os processos biológicos ao longo do dia, de acordo com sinais do ambiente interno (alimentação, actividade física) e externo (luz, temperatura, níveis de oxigénio)”.

Para avaliar o impacto da SAOS e do seu tratamento nas características dos relógios biológicos, a equipa de especialistas recrutou 34 doentes com apneia do sono seguidos no Centro de Medicina do Sono do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

Através de amostras de sangue dos voluntários (doentes nas diferentes fases do estudo e indivíduos saudáveis), recolhidas em quatro momentos distintos ao longo do dia, avaliaram “as características dos relógios biológicos em células presentes no sangue, nomeadamente expressão de genes, e níveis de hormonas envolvidas na regulação dos relógios biológicos”, indica Ana Rita Álvaro, citada no comunicado.

Os resultados mostram que a apneia do sono “promove alterações nas características dos relógios biológicos e que o tratamento a longo prazo (dois anos) mostra ser mais efectivo no combate ao efeito da SAOS nos relógios biológicos, levando a um restabelecimento de algumas das suas características”, sublinha a investigadora.

A avaliação laboratorial foi complementada com análises computacionais, incluindo métodos bioinformáticos e de machine learning, desenvolvidas pelo grupo de investigação liderado por Angela Relógio, investigadora principal do Centro Molecular de Investigação do Cancro e do Instituto de Biologia Teórica, da Faculdade de Medicina de Berlim Charité, e directora do Instituto de Medicina de Sistemas e Bioinformática da Faculdade de Medicina de Hamburgo.

Este estudo reforça o alerta para “a importância do tratamento da apneia do sono e evidencia ainda a necessidade de novas estratégias que melhorem e antecipem o diagnóstico da SAOS e também o seu tratamento”, refere Cláudia Cavadas, coordenadora do grupo de investigação no CNC e co-autora deste estudo que teve ainda a participação de Laetitia Gaspar, Bárbara Santos, Catarina Carvalhas Almeida, Joaquim Moita, Mafalda Ferreira, Janina Hesse e Müge Yalçin. Nesse sentido, este estudo mostra que a análise dos relógios biológicos pode ter uma aplicação promissora no diagnóstico e monitorização da resposta ao tratamento desta patologia, e certamente de outras doenças”, acrescenta Cláudia Cavadas.

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