Inglaterra quer compensar o tempo perdido, Itália volta a fechar escolas

Programas de testagem rápida (com saliva em França, para maior aceitação) em grande escala estão na base de ter as escolas com ensino presencial. Mas nem todos os países conseguiram manter as escolas abertas depois da reabertura: em Itália, vão fechar em mais de metade do território.

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O regresso às aulas em Inglaterra começou, de forma faseada, na ultima segunda-feira TOBY MELVILLE/Reuters

A reabertura de escolas está a ser levada a cabo em muitos Estados europeus, com fortes programas de testagem rápida em países como Inglaterra, que recomeçou a semana passada as aulas presenciais, após dois meses de paragem – e onde ideias do ministro da Educação para compensar o tempo de aprendizagem perdido estão a ser recebidas com desconfiança.

Por outro lado, há países como Itália, que avançou para a reabertura há pouco mais de um mês, onde a subida dos números levou a que em mais de metade do país as escolas voltassem a não receber alunos. Na Alemanha, por outro lado, a maioria dos estados abriu as escolas mas as autoridades de saúde dizem que houve um enorme aumento de casos em infantários e outros estabelecimentos de ensino. E há França, que tem orgulho de ter sido o país europeu que menos dias de aulas presenciais perdeu.

Inglaterra chamou a atenção por causa de uma ideia avançada há cerca de uma semana pelo ministro da Educação, Gavin Williamson, que, em duas entrevistas, uma à BBC e outra à Sky News, declarou que estavam a ser consideradas medidas para que os alunos pudessem compensar a aprendizagem perdida: mais horas de aulas por dia, férias mais curtas, um ano lectivo com cinco períodos, com um extra no final do ano, disse, mas sem concretizar.

Ainda não foi tomada nenhuma decisão em relação às medidas, que Williamson disse que a crise provocada pelo coronavírus até poderia ser um catalisador de mudanças, “um pouco como a reforma de 1944 a seguir à II Guerra Mundial”, para “melhorar as oportunidades para os mais jovens”.

Mas as declarações provocaram algum cepticismo. Amanda Spielman, responsável do organismo de supervisão das escolas Ofsted, disse ao Guardian que quaisquer alterações deviam ser suportadas por dados, e ter o apoio dos pais. Lembrou que nas últimas décadas houve experiências com um ano lectivo de cinco períodos e que a maioria não vingou. “Penso que deveríamos saber por que é que não foram um sucesso no passado” antes de decidir aplicar esta solução.

Enquanto isso, as escolas foram levando a cabo as operações de testagem na semana passada, mas não sem problemas: Mary Bousted, secretária-geral do Sindicato Nacional de Educação (NEU) disse que não estava a ser fácil obter consentimento dos pais para os testes dos alunos. Os testes implicam o uso de uma zaragatoa no nariz, mas não na garganta.

O director da escola Jo Richardson em Londres, Ges Smith, disse à BBC que a operação para testar os 1600 alunos está a ser “uma operação de tipo militar”, com 6000 testes previstos para duas semanas (depois, segundo as regras, os alunos terão testes para usar em casa, duas vezes por semana). O regresso será faseado por causa dos testes, mas Smith disse ainda que isso ajuda os alunos, já que alguns “não saem de casa desde Janeiro”, e, por isso, um regresso abrupto pode causar muita ansiedade.

Enquanto Inglaterra volta às aulas (o País de Gales, a Escócia e a Irlanda do Norte têm os seus próprios calendários), num dos outros países mais afectados pela covid-19 na Europa, Itália, dá-se o movimento contrário. As escolas tinham feito uma abertura faseada em Janeiro, mas a evolução do número de infecções – o primeiro-ministro já falou de uma “nova vaga” – levou a que fossem novamente encerradas em mais de metade do país.

Aumento enorme de casos nas escolas na Alemanha

Se Itália, o primeiro país ocidental a ser duramente afectado pela pandemia, foi também um dos que mais tempo manteve as escolas fechadas da Europa, França, que também foi muito afectada, orgulha-se de ser quem as encerrou durante menos tempo.

O país está agora a apostar em testes de saliva para aumentar o consentimento dos pais, que tende a ser menor com os testes de zaragatoa. A directora da escola Saint-Exupéry em Sablé (Noroeste), Patricia Galeazzi, contou à emissora France Bleu que houve autorização de pais para serem testados 150 alunos entre os 164 da escola. França espera realizar um total de 300 mil testes deste género por semana, segundo a Deutsche Welle.

Na Alemanha, uma discussão sobre se o país teria voltado ao ensino demasiado cedo aumentou de tom com as declarações do responsável do Instituto Robert Koch, Lothar Wieler. Na sexta-feira, em conferencia de imprensa, Wieler disse que há um “aumento acentuado de número de casos entre os menores de 15 anos”, destacando um aumento de 33% de novas infecções no grupo entre os 5-9 anos no espaço de uma semana (no grupo até aos 4 anos aumentou 25%).

O responsável da Saúde apontou que não só há um maior número de surtos em creches do que antes do Natal, como cada surto tem um maior número de infectados. A razão mais provável será a maior presença da variante B.1.1.7, identificada no Reino Unido.

Wieler disse ainda que, do ponto de vista epidemiológico, fechar escolas e creches seria uma boa medida, mas sugeriu antes que fossem aplicadas medidas como testes, máscaras e formações de grupos nas instalações – sublinhando, no entanto, que “não haverá uma protecção a 100%”.

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