Dissidente republicano irlandês apela a cessar-fogo dos paramilitares

Ex-líder do Sinn Féin Republicano diz que qualquer ataque armado pode ser “contrário aos objectivos republicanos”, numa altura em que o acordo do “Brexit” veio reanimar o fantasma da violência na Irlanda do Norte.

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Homenagem à jornalista Lyra McKee, morta no motim em Derry, em 2019 JOE BOLAND / NORTH WEST NEWSPIX

Des Dalton, o antigo líder de um dos grupos republicanos que rejeitam os acordos de paz na Irlanda do Norte, apelou a todas as organizações paramilitares que decretem um cessar-fogo e ponham fim a quaisquer planos que tenham para cometerem novos atentados.

Líder, entre 2009 e 2018, do Sinn Féin Republicano (criado na década de 1980 na sequência de mais uma cisão no maior partido nacionalista irlandês), Des Dalton é a primeira figura de relevo no conjunto de pequenas organizações que mantêm em aberto a luta armada na Irlanda do Norte a vir a público apelar ao fim da violência.

Salientando que se trata da sua “opinião pessoal”, Dalton defende que “o ambiente actual não é propício a acções armadas”, porque qualquer acto de violência pode ser “contrário aos objectivos republicanos” – a unificação da ilha irlandesa numa república.

“Basta olhar para as acções dos últimos anos. Nenhuma delas foi benéfica para a causa do republicanismo tradicional. Se fizeram alguma coisa, vão prejudicar a nossa causa”, disse Dalton, numa entrevista a um projecto da Universidade de Liverpool sobre o futuro constitucional da Irlanda, obtida pelo jornal britânico Observer.

Em particular, o antigo líder do Sinn Féin Republicano recorda o assassínio da jornalista Lyra McKee, em 2019, durante um motim na segunda maior cidade da Irlanda do Norte, Derry. McKee foi morta por um atirador com ligações ao Novo IRA – um grupo paramilitar que resultou das várias dissidências no Exército Republicano Irlandês ao longo dos anos.

“Segundo a minha experiência, sempre que os republicanos tradicionais parecem estar a fazer avanços em termos de apoio, acontecem acções armadas que deitam tudo a perder”, disse Des Dalton. “A acção armada é prejudicial para a nossa causa e sobrepõe-se a qualquer mensagem que os republicanos tradicionais queiram transmitir.”

Aviso lealista

O apelo do ex-líder do Sinn Féin Republicano surge dias depois de um aviso lançado por um grupo de organizações paramilitares do outro lado do conflito, que lutam em defesa da monarquia e da união da Irlanda do Norte com o Reino Unido.

Na quinta-feira, o Conselho das Comunidades Lealistas (que representa a Força Voluntária do Ulster, a Associação de Defesa do Ulster e o Comando da Mão Vermelha) anunciou a suspensão do seu apoio ao Acordo de Sexta-feira Santa, assinado em 1998, por causa das consequências do acordo do “Brexit” entre o Reino Unido e a União Europeia.

“Por favor, não subestimem a força da convicção que toda a família unionista tem sobre este assunto”, disse David Campbell, o presidente do Conselho das Comunidades Lealistas, numa carta enviada ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

“Estamos preocupados com a perturbação das trocas comerciais entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido”, lê-se na carta, escrita por David Campbell, presidente do Conselho das Comunidades Lealistas.

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