Covid-19: Brasil salvaria 89 mil vidas se vacinasse toda a população em Fevereiro

Mesmo que todos os brasileiros fossem vacinados este mês, o país continuaria a registar casos e mortes por covid-19 até início de 2022. Limitação na vacinação deve-se à escassez, em parte devido às decisões do Governo Bolsonaro não ter negociado mais contratos com farmacêuticas.

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Homem recebe vacina contra a covid-19 em Manaus Reuters/BRUNO KELLY

Se o Brasil conseguisse vacinar toda a sua população contra a covid-19 durante o mês de Fevereiro, mais de 89 mil vidas seriam salvas em 2021. Num cenário completamente oposto, caso o país não vacinasse ninguém, até final do ano morreriam pelo menos 130 mil pessoas devido à covid-19.

A conclusão, baseada num modelo matemático que faz projecções a partir de dois cenários extremos, é de um estudo coordenado pelo médico e físico Eduardo Massad, professor emérito de Informática Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

De acordo com o especialista, ouvido pelo El País Brasil, quanto mais tempo as autoridades brasileiras demorarem a vacinar a população, maior o número de mortes por covid-19, sendo que, mesmo no melhor cenário – vacinar toda a população em Fevereiro, o que é impossível devido à escassez de vacinas –, o Brasil continuaria a registar infecções por SARS-CoV-2 e mortes pela doença causada pelo coronavírus até 2022, e até final deste ano pelo menos 41 mil pessoas morreriam devido à covid-19.

Num cenário oposto, em que nenhum brasileiro era inoculado até final deste ano, a previsão mais conservadora (as novas variantes, devido aos poucos dados existentes, ainda não constam do estudo da USP E da FGV) aponta para mais 130 mil mortes em 2021, o que elevaria o total de óbitos causados pela covid-19 para mais de 365 mil.

O estudo apresentado por Eduardo Massad faz projecções mês a mês e conclui que, mesmo que população brasileira fosse toda vacinada em Março, pelo menos 73 mil pessoas morreriam devido à covid-19 até final do ano, um número que aumenta para 111 mil se toda a população fosse vacinada em Maio. Com a inoculação total em Fevereiro, seriam 41 mil mortes até final de 2021 – menos 89 mil do que as estimadas sem campanha de vacinação.

O Brasil é um dos países com maior experiência em vacinação e dos que, em todo o mundo, mais inocula a sua população. Por isso, tendo as vacinas disponíveis, os especialistas consideram que o país conseguiria vacinar dezenas de milhões de pessoas em poucos meses.

“A nossa limitação é em número de doses, não em capacidade de vacinar. O Brasil já imunizou dez milhões de pessoas por dia noutras campanhas e poderia imunizar toda a população num só mês”, disse Eduardo Massad ao El País Brasil.

Após muitos avanços e recuos, no que se transformou um braço-de-ferro entre o governador de São Paulo, João Doria, e o Presidente, Jair Bolsonaro, a campanha de vacinação começou no Brasil no dia 17 de Janeiro, sendo que o país apenas tem disponíveis as vacinas da Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan e pelo laboratório chinês Sinovac, e da Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca.

Numa fase inicial, o Governo de Bolsonaro, que durante meses desvalorizou a pandemia e tentou descredibilizar as vacinas contra a covid-19, não negociou contratos com farmacêuticas como a Pfizer ou a Moderna, e só recentemente começou a negociar a compra de vacinas, como a russa Sputnik V e a indiana Covaxin.

Desde o início da vacinação, foram vacinadas pouca mais de 3,6 milhões de pessoas e é expectável que a campanha de inoculação contra a covid-19 no Brasil se prolongue até final deste ano. As autoridades brasileiras deram prioridade na vacinação aos profissionais de saúde, pessoas com mais de 60 anos que estejam institucionalizadas, indígenas e quilombolas (comunidades de descendentes de escravos) e esta quinta-feira começou a vacinar os idosos com mais de 85 anos.

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