Kim Jong-un volta a admitir falhas no programa económico da Coreia do Norte

Congresso do Partido dos Trabalhadores prolonga-se durante a semana e é expectável uma declaração final do líder norte-coreano. Kim culpa sanções internacionais e covid-19, apesar de insistir que não há nenhum caso de infecção no país.

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Kim Jong-un disse que plano económico ficou aquém "em quase todos os sectores” Reuters/KCNA
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Máscara e distanciamento físico não fizeram parte do congresso do Partido dos Trabalhadores Reuters/KCNA
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Na abertura do congresso do Partido dos Trabalhadores, na terça-feira, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, admitiu que as suas políticas para reconstruir a economia do país falharam e reiterou que é necessário aprender com as “lições dolorosas” dos últimos anos.

“O nosso plano de desenvolvimento económico de cinco anos ficou muito aquém dos seus objectivos em quase todos os sectores”, admitiu Kim Jong-un, segundo a agência norte-coreana KCNA, no início do congresso do partido, que não se realizava há cinco anos.

O líder norte-coreano, que convocou a reunião magna do Partido dos Trabalhadores em Agosto, depois de, na altura, ter admitido falhas na sua política económica, enfrenta os maiores desafios da sua liderança desde que assumiu o poder em 2011, sucedendo ao seu pai, Kim Jong-il.

Esses desafios, segundo Kim Jong-un, devem-se a uma série de crises “sem precedentes”, nomeadamente as sanções impostas pelas Nações Unidas e o impacto da pandemia de covid-19 no país – apesar de a Coreia do Norte continuar a negar a existência de qualquer caso de infecção no país.

Contudo, o encerramento de fronteiras, sobretudo com a China, teve consequências para a frágil economia norte-coreana: de acordo com o analista Song Jaeguk, do Instituto de Investigação Económica IBK, citado pelo The Guardian, as trocas comerciais com a China caíram quase 80% em 2020 comparativamente ao ano anterior.

Mesmo antes da pandemia, segundo as estimativas do Banco Central da Coreia do Sul, a economia norte-coreana contraiu 3,5% em 2017 e 4,1% em 2018.

As dificuldades económicas da Coreia do Norte exacerbaram-se com a imposição de sanções internacionais, que visam demover a corrida às armas nucleares e aos testes com mísseis balísticos por parte do regime de Pyongyang.

O desenvolvimento do seu armamento, no entanto, levou Kim Jong-un a falar numa “vitória milagrosa”, sendo uma das grandes conquistas dos últimos cinco anos o lançamento de um míssil intercontinental, em 2017, com capacidade para atingir os Estados Unidos.

No discurso de abertura do congresso do Partido dos Trabalhadores, que se vai prolongar nos próximos dias –​sendo expectável, no final da semana, uma declaração do líder norte-coreano –​ não foi feito qualquer comentário sobre os Estados Unidos, ou sobre a eleição de Joe Biden, que tomará posse no próximo dia 20 de Janeiro.

As relações entre Washington e Pyongyang estão num impasse, depois de três encontros mediáticos entre Donald Trump e Kim Jong-un que não se traduziram em soluções concretas para a aproximação diplomática entre Washington e Pyongyang.

Nos próximos dias, é, por isso, expectável que o líder da Coreia do Norte faça mais referências em termos de política externa, sendo que, escreve o Guardian, especula-se que Kim Jong-un tenha receio que Joe Biden rompa com a política de Donald Trump e aumente a pressão sobre o regime, com vista à desnuclearização.

Melhorar a imagem

Em 2016, cinco anos depois de chegar ao poder, Kim Jong-un convocou o primeiro congresso do Partido dos Trabalhadores – o primeiro em 36 anos –, altura em que anunciou um plano de desenvolvimento económico de cinco anos, prometendo reformar a economia do país ao mesmo tempo que desenvolvia o seu arsenal militar.

Apesar de continuar a governar a Coreia do Norte com punho de ferro, sem permitir qualquer dissidência, alguns analistas notam que Kim Jong-un não tem conseguido passar a imagem de um líder próximo do povo, como o foram o seu pai ou avô (Kim Il-sun).

Admitir falhas na sua liderança é, por isso, visto como uma tentativa de melhorar a imagem junto dos norte-coreanos.

“Parece ter optado por uma estratégia de admissão do fracasso económico e, ao mesmo tempo, de culpar o coronavírus”, disse à Reuters Shin Beom-chul, investigador do Instituto para a Estratégia Nacional Coreana, com sede em Seul, na Coreia do Sul. “Ao fazê-lo, também consolida a sua imagem como um líder que adora o seu povo”, acrescentou.

Durante o discurso na abertura do congresso, Kim Jong-un deixou elogios aos membros do Partido dos Trabalhadores por “superarem as dificuldades” na contenção do coronavírus, falando numa “crise de saúde global e sem precedentes”.

É expectável que, até ao final do congresso, sejam anunciadas promoções na liderança do partido, aguardando-se com expectativa o papel que Kim Yo-jong,  irmã de Kim Jong-un e uma das figuras mais influentes do regime, possa vir a assumir. 

Nas imagens divulgadas pela agência KNCA não se vê nenhum delegado com máscara e as regras de distanciamento físico não foram respeitadas, nota a Reuters. 

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