Kim Jong-un, o "Grande Sucessor", já é o líder supremo da Coreia do Norte

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A grande vénia na altura em que a Coreia do Norte parou em silêncio KCNA/AFP

No último dia de luto nacional por Kim Jong-il, o "número dois" da hierarquia veio discursar perante milhares de pessoas para dizer que o país vai "transformar o pesar em força"

Na maior praça de Pyongyang, apinhada de militares bem alinhados, o "Grande Sucessor" foi ontem declarado publicamente líder supremo da Coreia do Norte. Kim Jong-un cumpre a tradição e herda do pai a única dinastia comunista do mundo.

Foi o "número dois" da hierarquia quem discursou para a multidão de uma enorme varanda, numa cerimónia transmitida pela televisão estatal que marcou o fim de 13 dias de luto nacional pela morte de Kim Jong-il, vítima de um ataque cardíaco. "O grande coração do camarada Kim Jong-il deixou de bater", afirmou Kim Yong-nam. Ao seu lado estava Kim Jong-un, o filho mais novo do homem que durante 17 anos governou o país, e a quem os norte-coreanos devem agora obediência. "O respeitado camarada Kim Jong-un é o líder supremo do nosso partido, do nosso Exército e do nosso povo, que herdou a inteligência, a capacidade de comandar, o carácter, o sentido moral e a coragem de Kim Jong-il", adiantou Kim Yong-nam. A Coreia do Norte, adiantou, "irá transformar o pesar em força e coragem mil vezes maior sob a liderança do camarada Kim Jong-un... O facto de ter resolvido completamente a questão da sucessão é o feito mais notável do camarada Kim Jong-il".

Os media norte-coreanos usaram nos últimos dias a expressão "líder supremo" para legitimar a sucessão, mas esta foi a primeira vez que a liderança foi publicamente proclamada. Tal como o pai, Kim Jong-un não terá o título de Presidente, que está ainda reservado para o seu avô e fundador da nação, Kim Il-sung, o "Presidente Eterno". Mas tomará a chefia da Comissão de Defesa Nacional, o principal órgão do país, e do Partido dos Trabalhadores.

Depois do discurso, houve uma salva de duas dezenas de tiros de canhão e três minutos de silêncio, quebrados com as sirenes de barcos e comboios do país.

"O encontro de quinta-feira mostra que o regime está seguro de ter realizado uma transição do poder sem problemas a favor de Kim Jong-un", comentou à AFP Kim Keun-sik, do Instituto de Estudos do Extremo Oriente, de Seul. "Também serviu para provar a lealdade a Jong-un, mostrando aos norte-coreanos e aos estrangeiros que o novo líder já estabeleceu o seu estatuto".

Sabe-se muito pouco acerca do jovem Kim e nem mesmo a sua idade é um dado certo: estima-se apenas que não tenha ainda 30 anos. Tal como os irmãos, estudou na Suíça, mas consta que era menos dado que eles a hábitos ocidentais.

É filho da terceira mulher de Kim, e a sua preferida, Ko Yong-hui. Foi anunciado como sucessor em Setembro de 2010, mas desde o ano anterior que se especulava que isso seria uma forte possibilidade. O "Querido Líder" tinha sofrido em 2008 um AVC e nenhum dos outros filhos parecia em posição de herdar o cargo: o mais velho, Kim Jong-nam, por se ter envolvido num escândalo público ao tentar entrar no Japão com um passaporte falso; o outro, Kim Jong-chol, por ser considerado pelo pai "demasiado efeminado".

Coube assim ao mais novo a sucessão, que muitos analistas estrangeiros consideram não ter ficado completada a tempo de permitir que adquirisse experiência política, nem total legitimidade.

O grupo dos sete

Aos olhos do público poderá parecer que o poder de Kim Jong-un não será partilhado, mas vários especialistas prevêem que Kim não chefie sozinho.

A fotografia do funeral publicada pelo jornal do Partido dos Trabalhadores, o Rodong Sinmun, é eloquente. Ao lado de Kim estão os sete altos membros da hierarquia: Jang Song-thaek, seu tio e vice-presidente da Comissão de Defesa Nacional; Kim Ki-nam, chefe da propaganda; Choe Tae-bok, chefe dos Negócios Estrangeiros do Partido; Ri Yong-ho, o chefe do estado-maior, ministro das Forças Armadas; Kim Yong-chun, ministro da Defesa; Kim Jong-gak, general de quatro estrelas encarregado de vigiar a lealdade dos outros generais; e U Dong-chuk, chefe da polícia secreta e da agência de espionagem.

O site do jornal identificava-os como "as figuras-chave que vão liderar o partido e o Exército durante a era Kim Jong-un".

Kim Jong-il tornou a Coreia do Norte numa potência nuclear, com dois testes já realizados (um em 2006, outro em 2009). Ontem, Kim Yong-nam assegurou que a doutrina "songun" ("Exército primeiro", adoptada por Kim Jong-il para responder ao desmoronamento da União Soviética, que tinha garantido apoio a Pyongyang) será para continuar. Ainda que o país atravesse uma grave crise alimentar.

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