Assim fala a neurocientista Diana Prata

Continua a falar-se de raças humanas e persiste o problema do racismo. Perguntei à neurocientista se haverá diferenças comportamentais em grupos que se distinguem pela cor da pele e como arguiria ela com uma pessoa assumidamente racista.

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Na quinta edição do Assim Fala a Ciência, o novo podcast quinzenal do PÚBLICO, com o apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos e co-organizado por mim e por David Marçal, entrevistei Diana Prata, uma neurocientista que, após ter estado 12 anos no King’s College de Londres, dirige hoje um laboratório, que tem o seu nome, no Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica da Universidade de Lisboa, beneficiando de bolsas Marie Curie, da Bial e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A Diana doutorou-se em Neurociências em 2008, com uma tese na qual ligava imagens do interior do cérebro humano com a genética. Criou, entretanto, uma empresa que, com base em técnicas de inteligência artificial, oferece soluções para diagnósticos mais rápidos e precisos de doenças psiquiátricas e neurológicas, a partir de imagens médicas do cérebro.

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A minha conversa com uma especialista nas bases biológicas da cognição começou com a questão de saber qual é a quota-parte do nosso comportamento social que é herdada e qual é a outra parte, que é adquirida pela educação e pela cultura. Se as condições marcadas pelo nascimento são, de facto, responsáveis por numerosas diferenças, como poderá a sociedade compensar desfavorecimentos iniciais?

Uma outra questão recorrente nesta discussão das marcas genéticas é a diferença entre homens e mulheres. É óbvio que há diferenças biológicas, a começar logo na diferença entre o cromossoma X e o cromossoma Y. Mas haverá diferenciação no funcionamento cerebral? Uma série da Netflix muito popular, Gâmbito de Dama, conta a história de uma jogadora de xadrez. Poderão mais mulheres ser campeãs de xadrez? Como pode a ciência ajudar a ultrapassar discriminações de género?

Ainda sobre genética, continua a falar-se de raças humanas e persiste o problema do racismo. Perguntei à Diana se haverá diferenças comportamentais em grupos que se distinguem pela cor da pele. E também como arguiria ela com uma pessoa assumidamente racista.

Quando falamos em evolução das espécies, pensamos geralmente em competição, na “luta pela sobrevivência”. Mas há também fenómenos de cooperação. Se olharmos para questões actuais, como a pandemia ou as alterações climáticas, vemos, infelizmente, pouca cooperação global. Qual será o impedimento dos nossos cérebros à formação de um melhor “cérebro social”?

Diz o povo que “de génio e de louco todos temos um pouco”. Não pude deixar de usar esta oportunidade de diálogo com uma conceituada neurocientista para saber mais sobre a relação entre o génio e a loucura. Por que razão, por vezes (por exemplo, no caso da “mente brilhante” do matemático John Nash), parecem tão próximos?

Por último, questionei-a sobre a herança de Freud na psicologia, já que muitos defendem que o seu trabalho é mais literário do que científico. Na psicologia clínica alguns colocam a questão da diferenciação entre práticas “baseadas na evidência” e outras que se poderão dizer “alternativas”. Quis saber como era no Reino Unido e em Portugal.

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