Covid-19: Vacina russa Sputnik V tem eficácia de 95%, mostram dados preliminares

Os resultados foram obtidos em voluntários cerca de 42 dias após a injecção da primeira dose. Não foram registados efeitos secundários graves nos participantes, mas alguns reportaram efeitos leves e de curto prazo. No total, a terapêutica custará cerca de 17€, mas será grátis para os cidadãos russos.

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Vacina russa é uma das mais avançadas na fase de testes SERGEI ILNITSKY/EPA

A Rússia anunciou nesta terça-feira que a Sputnik V, a potencial vacina contra a covid-19 que está a ser desenvolvida pelo Centro Nacional de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, em Moscovo, tem uma eficácia de 95%, segundo mostram os resultados preliminares.

Em comunicado, o Centro de Pesquisas do Ministério da Saúde russo informou que os resultados foram obtidos em voluntários 42 dias após a injecção da primeira dose. A equipa diz que estes dados “positivos” provêm da segunda análise às informações provisórias dos “maiores ensaios clínicos aleatorizados e controlados por placebo” da história da Rússia, que envolveram 40 mil voluntários — 22 mil foram vacinados com a primeira dose e mais de 19 mil com a primeira e a segunda dose. No total, 14.095 voluntários receberam vacina e 4699 o placebo.

À data de publicação do comunicado, não foram registados efeitos secundários graves nos participantes, mas alguns reportaram efeitos leves e de curto prazo, como dores no local da injecção e sintomas semelhantes aos da covid-19, como febre, fraqueza, fadiga e dores de cabeça.

A vacina também foi avaliada 28 dias depois da administração da primeira dose e sete dias depois da segunda dose (ou do placebo) e demonstrou ser 91,4% eficaz nos 39 pacientes que desenvolveram a doença. “Os especialistas do Centro Gamaleya confirmaram mais uma vez a alta eficácia da vacina Sputnik V, a primeira vacina registada no mundo contra o novo coronavírus baseada numa estratégia bem estudada de vectores adenovirais humanos”, lê-se no comunicado. A chinesa CanSino, a Johnson & Johnson e a Universidade de Oxford usam a mesma tecnologia.

A equipa diz que a “singularidade” da vacina russa está no facto de serem utilizados dois vectores diferentes baseados no adenovírus humano, o que permite “uma resposta imune mais forte e de longo prazo em comparação com vacinas que usam um mesmo vector para duas doses”.

“A ferramenta mais importante na luta contra a pandemia”

Os dados preliminares agora divulgados ainda não foram revistos pelos pares nem publicados em nenhuma revista científica, algo que deverá ocorrer assim que estejam disponíveis resultados completos dos ensaios clínicos, processo que, segundo o comunicado, já está em curso. A próxima análise será conduzida quando existirem 78 casos confirmados de covid-19 entre os participantes e a análise final estará disponível no final dos ensaios clínicos da fase 3.

“Os dados que demonstram a alta eficácia da vacina Sputnik V dão-nos esperança de que em breve obteremos a ferramenta mais importante na luta contra a pandemia”, diz o ministro da Saúde russo, Mikhail Murashko, citado no comunicado.

Ao todo, já foram recebidos mais de 1,2 mil milhões pedidos de doses da vacina Sputnik V, de um total de 50 países, entre estes, o México. As doses serão produzidas pelos parceiros internacionais do Fundo de Investimento Directo da Rússia (RDIF, na sigla inglesa) — que está a apoiar o desenvolvimento da vacina — na Índia, Brasil, China, Coreia do Sul e outros países.

Custará menos de 17€

Num segundo comunicado publicado nesta terça-feira, diz-se ainda que o custo de uma dose da vacina Sputnik V para os mercados internacionais será inferior a dez dólares (cerca de 8,40 euros), o que significa que todo o processo (duas doses) ficará por menos de 20 dólares (cerca de 16,80 euros). Diz a equipa que a Sputnik V será “duas ou mais vezes mais barata” do que as vacinas com níveis de eficácia semelhantes e que usam a mesma estratégia. “A vacinação será gratuita para os cidadãos russos”, lê-se.

Os responsáveis pela comercialização da vacina lançaram uma produção liofilizada, ou seja, seca, o que significa que pode ser armazenada a uma temperatura de entre 2 e 8 graus Celsius. Dessa forma, pode ser transportada para longe, para regiões de difícil acesso, sem precisar da cadeia de frio de que necessitam as vacinas da tecnologia mais recente.

“Os acordos actuais entre a RDIF e as principais farmacêuticas mundiais permitem que a vacina Sputnik V seja produzida para 500 milhões de pessoas por ano, a partir de 2021. A RDIF está actualmente a considerar pedidos adicionais de vários países e empresas para aumentar ainda mais a capacidade de produção”, refere-se ainda. 

A vacina russa é uma das que estão mais avançadas no processo de desenvolvimento. A Pfizer e a BioNTech, que também estão na corrida, anunciaram recentemente que a sua vacina é 95% eficaz na prevenção da covid-19, de acordo com os resultados do seu ensaio clínico de fase 3, quando as vacinas são testadas num grupo populacional mais alargado. As empresas pediram, na sexta-feira, uma autorização de emergência ao regulador farmacêutico norte-americano, a Food and Drug Administration (FDA), e também já iniciaram este processo na Europa, Reino Unido, Austrália, Canadá e Japão.

Nesta segunda-feira, também o laboratório AstraZeneca e a Universidade de Oxford anunciaram que a sua vacina tem uma taxa de eficácia que pode chegar aos 90%. A AstraZeneca diz que está a fazer progressos no fabrico da vacina — que pode ser armazenada num frigorífico — e conta ter uma capacidade de até três mil milhões de doses em 2021 “numa base contínua”, dependendo da aprovação dos reguladores.

Vacina russa não consta dos acordos da UE

A Comissão Europeia já assinou contratos para assegurar vacinas com a AstraZeneca (300 milhões de doses), a Sanofi-GSK (300 milhões), Johnson & Johnson (200 milhões), BioNTech e Pfizer (300 milhões), CureVac (405 milhões). E, nesta terça-feira, a presidente da Comissão Europeia anunciou um novo contrato com a norte-americana Moderna, que fornecerá até 160 milhões de doses à União Europeia.

Von der Leyen sublinhou que, “uma vez que fique efectivamente provado que a vacina é segura e eficaz, cada Estado-membro recebê-la-á ao mesmo tempo, numa base proporcional e nas mesmas condições”.

Na passada quinta-feira, Von der Leyen indicou que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) poderá dar uma primeira autorização comercial às vacinas para a covid-19 desenvolvidas pela BioNTech e Pfizer e pela Moderna na segunda metade de Dezembro. com Lusa

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