Avião israelita fez o primeiro voo directo para os Emirados

O avião da El Al foi autorizado a atravessar o espaço aéreo da Arábia Saudita, habitualmente vedado aos voos de Israel. Na viagem seguia o genro de Donald Trump.

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Ben-Shabbat, Kushner (ao centro) e o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Robert O'Brien, antes do embarque Reuters/NIR ELIAS

A bordo do primeiro voo comercial de sempre a unir Telavive, em Israel, e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, seguiram o genro e conselheiro de Donald Trump Jared Kushner e uma delegação israelita encabeçada pelo conselheiro de Segurança Nacional, Meir Ben-Shabbat. Kushner esteve por trás do acordo de paz entre os dois países do Médio Oriente anunciado no dia 13 de Agosto.

Kushner e Ben-Shabbat são só dois dos passageiros do voo LY971 – o indicativo internacional telefónico do país árabe – da El Al israelita. No avião da companhia nacional aérea de Israel embarcaram vários representantes norte-americanos e israelitas: a equipa conjunta terá reuniões com dirigentes dos Emirados para “desenvolver áreas de cooperação”.

Domingo, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, confirmou que as discussões só vão incluir “assuntos civis”, e que os temas de segurança serão objecto de negociações posteriores. Chegou a admitir-se que esta primeira delegação incluísse já membros dos serviços de segurança, mas o chefe do Governo decidiu não o fazer.

“Por demasiado tempo, os palestinianos vetaram a paz entre Israel e o mundo árabe. Se tivermos de esperar por eles vamos esperar para sempre”, afirmou Netanyahu depois de se reunir, ainda no domingo, com os enviados da Administração Trump, cita a imprensa israelita.

Numa operação cuidadosamente preparada para assinalar o momento, o voo de regresso será o LY972, o código internacional de Israel.

Já esta segunda-feira de manhã, Netanyahu saudou o voo para Abu Dhabi como um exemplo de “paz pela paz”, uma alusão à sua defesa de que para atingir a paz com países árabes não é preciso desistir de territórios ocupados. Isto na sequência de um acordo em que os Emirados Árabes Unidos aceitarem reconhecer Israel sem exigir a criação de um Estado palestiniano – algo que os palestinianos denunciaram como traição.

Apesar de aplaudida em várias capitais, a normalização de relações, que teve como única concessão israelita um compromisso para não anexar parte da Cisjordânia (algo que integrava o plano de paz dos Estados Unidos rejeitado pelos palestinianos), parece destinado a manter o status quo, em vez de funcionar como incentivo para Israel aceitar um acordo com os palestinianos. Isto apesar do que diz o Presidente norte-americano, que descreveu o acordo como “um momento verdadeiramente histórico” e primeiro passo para que “mais países árabes e muçulmanos sigam os Emirados”.

A federação constituída por sete emirados é apenas o terceiro país árabe do Médio Oriente a reconhecer Israel desde a sua fundação, em 1948. Até agora, só o Egipto e a Jordânia reconheciam oficialmente Israel – os egípcios assinaram um acordo de paz em 1978, enquanto o pacto entre israelitas e jordanos é de 1994. Cinco anos depois, seria a vez de a Mauritânia, membro da Liga Árabe, estabelecer relações diplomáticas com Israel, mas o país africano congelou-as em 2009, em protesto contra a guerra em Gaza.

O avião da El Al foi autorizado a atravessar o espaço aéreo da Arábia Saudita, habitualmente vedado aos voos israelitas. O voo de três horas foi antecedido, no sábado, por um decreto a pôr fim ao boicote económico a Israel (em vigor desde 1972), abrindo assim a porta a acordos comerciais e negócios com o Estado hebraico. Antes ainda, os dois países já tinham aberto pela primeira vez serviços telefónicos directos.

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