Bombeiros não deveriam ser responsáveis por vigiar reacendimentos, defende Jaime Marta Soares

Presidente da Liga dos Bombeiros diz ao PÚBLICO que homens ficam exaustos após horas de combate às chamas, defendendo reforço das equipas de sapadores florestais para estas situações. No mês de Julho morreram quatro bombeiros em incêndios.

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Bombeiros no combate a um incêndio Paulo Pimenta/Arquivo

Desde o início de Julho morreram quatro bombeiros nos combates aos incêndios em Portugal. A mais recente vítima mortal foi um dos homens da corporação de Bombeiros Voluntários de Cuba que, a 13 de Julho, sofreu queimaduras graves enquanto combatia as chamas no concelho de Castro Verde, distrito de Beja. O homem esteve duas semanas em coma induzido, depois de ter sofrido queimaduras em 90% do corpo. Com ele, um outro colega de quartel, também foi colocado em coma induzido, com as queimaduras graves a abrangerem 50% do corpo. Outros três bombeiros sofreram ferimentos ligeiros no mesmo incêndio.

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, lamenta o balanço trágico das últimas semanas, considerando ser fundamental o reforço da vigilância a possíveis reacendimentos no terreno que, defende, devia ser feita pelos sapadores florestas e não pelos bombeiros.

“Foram anunciadas equipas de sapadores florestais que estejam no terreno para os reacendimentos. Os grandes problemas [recentes] foram reacendimentos. Aí é que desejaríamos ter essas tais centenas e centenas de técnicos florestais e sapadores que disseram que estariam no terreno. É fundamental. Mais vigilância e operacionais nos reacendimentos. Não podem esperar que um bombeiro, tremendamente fatigado após extinguir um incêndio [seja responsável por essa tarefa]”, salienta em declarações ao PÚBLICO.

A 15 de Julho, o PÚBLICO noticiou que da meta de 500 equipas de sapadores florestais prevista na Estratégia Nacional para as Floresta de 2015, o Ministério do Ambiente e da Acção Climática (MAAC) indicava que, neste momento, existem 483 em funcionamento, número contrariado pelo PCP que apontou para as 375.

Para Jaime Marta Soares, o ponto fulcral na estratégia de combate aos incêndios tem de passar obrigatoriamente pelo eficaz planeamento florestal e ordenamento do território. “Temos uma floresta assassina e criminosa. Deixaram que chegasse a esse ponto. Tire aí as suas ilações quanto aos responsáveis”, acusa.

O presidente da Liga de Bombeiros, porém, acredita que a responsabilidade é colectiva, nega apontar uma cor política que tenha tido responsabilidade acrescida nesta matéria, considerando que a culpa é colectiva.

“Não digo que o responsável foi este ou é aquele, foi o Estado nestes últimos 50 anos. As pessoas que lá estiveram — a quem isto foi dito tantas vezes — conheciam [a situação] e nada fizeram para o evitar. Muita gente não quer ceder a sua parcela [de terreno] individual, mas o planeamento e o ordenamento não se fazem com pequenas parcelas. Isto é um problema cultural, de fundo. Temos de fazer ver às pessoas que apesar de o terreno ter desaparecido daquele espaço florestal, ele está lá na mesma e, em termos de hectares, [o proprietário] vai receber o mesmo do que outro que está a produzir. As pessoas têm de entender isto”, afirma.

Cedência do terreno terá provocado morte a jovem bombeiro

A Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) fez um levantamento, divulgado há cerca de um ano, do número de mortes ocorridas em incêndios durante a última década. O documento, que olha para os números entre 2008 e 2018, mostra que morreram 14 bombeiros a combater incêndios rurais, mortes a que se somam outras 15 resultantes de acidentes rodoviários. Nestes sinistros, nove bombeiros morreram enquanto se dirigiam para incêndios e dois enquanto regressavam ao quartel após terem estado no terreno.

O presidente da Liga dos Bombeiros defende as capacidades dos operacionais e as condições de segurança das viaturas que, garante, são testados e analisados ao detalhe. No passado sábado, morreu um bombeiro de 21 anos num acidente de viação durante as operações de combate às chamas que deflagraram no concelho de Oleiros, distrito de Castelo Branco.

“Ao fazer uma manobra para sair daquele lugar, a inversão de marcha, o terreno onde a viatura estava cedeu. Nada levava a acreditar que aquele terreno não estivesse consolidado. São estradas no meio dos pinhais, muitas vezes feitas em cima do joelho”, lamenta Jaime Marta Soares.

Na tarde desta quinta-feira, o incêndio que tinha sido dado como dominado sofreu uma reactivação por volta das 17h45. 

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