Bombeiro morre em acidente durante o incêndio de Oleiros

Incêndios em Bragança e Viana do Castelo em fase de conclusão. Fogo com três frentes activas combatido por 644 operacionais em Castelo Branco. Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa lamentam morte de bombeiro no combate às chamas.

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Incêndio em Oleiros, Castelo Branco LUSA/ANTÓNIO JOSÉ,LUSA/ANTÓNIO JOSÉ

Um bombeiro da corporação de Proença-a-Nova morreu este sábado num acidente de viação, durante as operações de combate às chamas que deflagraram no concelho de Oleiros, distrito de Castelo Branco. Durante a noite, além do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e o primeiro-ministro, António Costa, divulgaram notas de pesar pela morte de Diogo Dias, endereçando pêsames à família, amigos e corporação da vítima. 

Marcelo Rebelo de Sousa, lê-se na nota, esteve na noite de sábado “em contacto com os presidentes de câmara das zonas afectadas pelos incêndios e com o comandante dos bombeiros de Proença-a-Nova, a quem apresentou condolências pelo terrível acidente no quadro de operações que vitimou um jovem bombeiro”.

Também António Costa fez questão de transmitir, na nota enviada, “aos bombeiros e a todos quanto estão empenhados no combate aos incêndios uma palavra de solidariedade, incentivo e agradecimento pelo trabalho que realizam por Portugal e por todos nós”.

Quanto ao ministro, também salientou que “nunca será demais recordar e reafirmar a forma empenhada, altruísta e profissional com que todos os dias milhares de bombeiros integram este esforço nacional da defesa da floresta contra incêndios”.

Foi durante a tarde que se deu o despiste da viatura dos bombeiros de Proença-a-Nova. As informações iniciais prestadas ao PÚBLICO pelo chefe de equipa do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Castelo Branco, João Oliveira, davam conta de vários feridos e de um ocupante desaparecido, que teria sido projectado durante o acidente. Foi já durante a noite que seria confirmado o óbito.

Fogo com três frentes activas 

Pelas 7h45 deste domingo, 644 operacionais ainda combatiam o incêndio que começou no sábado em Oleiros, distrito de Castelo Branco, e se alastrou aos concelhos vizinhos de Proença-a-Nova e Sertã, disse fonte da protecção civil, citada pela agência Lusa.

“Neste momento [7h45] temos 207 veículos com 644 operacionais. Houve um reforço significativo durante a noite com 11 grupos terrestres para reorganizar o teatro de operações, visto que o perímetro já é demasiado extenso”, disse à Lusa o comandante Carlos Pereira, oficial de operações do Comando Nacional de Emergência e Protecção Civil.

Já pelas 8h45, segundo informação disponibilizada na página da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, o combate às chamas envolvia 662 operacionais, auxiliados por 207 veículos e 11 meios aéreos.

Carlos Pereira afirmou que o incêndio “continua a evoluir com alguma intensidade”, tem três frentes activas e já chegou aos concelhos de Proença-a-Nova e Sertã, também no distrito de Castelo Branco.

O comandante referiu ainda que não tem conhecimento que estejam povoações em risco: “Que nós tenhamos conhecimento, não. Durante a noite foram retirados alguns populares de algumas habitações isoladas, por precaução”. Quanto aos danos materiais, o comandante disse que ainda não sabe a dimensão dos danos nessas habitações.

Noite de combate às chamas

Na madrugada deste domingo, eram cerca de 624 os operacionais que combatiam o incêndio. “Algumas povoações na linha do incêndio estão a ser protegidas pelas equipas que estão no terreno”, dizia, naquela fase do combate, fonte do CDOS de Castelo Branco, acrescentando que, “até estar dominado, todas as aldeias que estejam na linha do incêndio vão ter de ser protegidas”. 

“Felizmente, tem estado a correr bem”, apontava o CDOS de Castelo Branco. “Há zonas em que [as chamas] já estão a ceder aos meios de combate”, informou a mesma fonte, precisando estar a ser usada “maquinaria pesada para abrir acessos e faixas”. A “operação” mantinha-se “equilibrada” e a decorrer “favoravelmente”, acrescentava.

O incêndio que deflagrou em zona de pinhal no concelho de Oleiros é combatido desde as 15h30 de sábado por centenas de bombeiros dos distritos de Coimbra, Leiria e Castelo Branco, tendo centrado as atenções no território nacional e mobilizado sete aeronaves na luta contra as chamas.

O presidente da Câmara Municipal de Oleiros, Fernando Jorge, perspectivava “uma noite terrível” e adiantava estar tudo preparado para evacuar povoações, se necessário. No Fojo, concelho de Proença-a-Nova, já tinham sido retirados habitantes.

“Está muito problemático. O incêndio está com várias frentes, o terreno é muito acidentado, faz muito vento e agora, com a saída dos meios aéreos, fica ainda mais complicado. Vai ser uma noite terrível”, antevia, na noite de sábado o autarca de Oleiros, em declarações à agência Lusa.

Fogos em Bragança e Viana do Castelo em fase de conclusão

Quanto aos três incêndios rurais de grandes proporções registados no sábado nos distritos de Bragança e de Viana do Castelo estão já em fase de conclusão, segundo fonte da protecção civil.

O comandante Carlos Pereira, oficial de operações do Comando Nacional de Emergência e Protecção Civil, disse à Lusa que os incêndios que se registaram nos distritos de Bragança (Vinhais e Vila Flor) e de Viana do Castelo (Ponte de Lima), foram dominados durante a noite e encontram-se na fase de “conclusão” e “rescaldo”, com a presença de operacionais no terreno, em vigilância.

Segundo a página da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, no incêndio em Ponte de Lima (Viana do Castelo), que começou pelas 10h29 de sábado, encontravam-se, pelas 9h10, um total de 101 homens e 36 viaturas.

No distrito de Bragança, no incêndio que começou pelas 14h10 de sábado, em Vinhais, estavam 140 homens, auxiliados por 44 viaturas e dois meios aéreos e, no fogo de Vila Flor, que começou pelas 14h51 de sábado, permaneciam 86 homens e 24 veículos. 

Já era de madrugada, neste domingo, quando o incêndio “de grande intensidade”, com três frentes, no concelho de Ponte de Lima, foi “dominado”, disse à Lusa o comandante Carlos Pereira, do Comando Nacional de Emergência e Protecção Civil.

“Felizmente [os fogos] no distrito de Viana do Castelo ficaram dominados”, um cerca da 1h, perto da localidade de Urtiqueira, e outro, na freguesia de Facha, cerca das 2h30, disse à Lusa o comandante.

No local, permaneciam, àquela hora, 347 operacionais, apoiados por 103 veículos, de acordo com a informação divulgada no portal da Protecção Civil.

O incêndio, que ocorreu em Ponte de Lima, Viana do Castelo, lavrou desde as 10h29, tendo começado na freguesia de Fojo Lobal e alastrado a freguesias vizinhas como Facha, Cabaços e Vitorino de Piães. 

Antes de ter sido dominado, e em declarações à agência Lusa, o comandante dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima, Carlos Lima, descrevia o fogo: “Continua com grande intensidade, mas temos janelas de oportunidade e estamos a reposicionar meios para tentar dominar o mais rápido possível. Não houve necessidade de evacuação [de casas], mas o risco existe sempre. Estamos dependentes do vento, que está a rodar a norte, e a população está identificada e alertada”.

Um sábado de fogos

O distrito de Bragança tinha na tarde de sábado três incêndios activos, dois com mais de cem operacionais no combate às chamas: o de Vinhais, para o qual chegaram a estar destacados 162 operacionais, 49 viaturas e cinco aeronaves, e o do concelho de Vila Flor, no qual chegaram a estar 167 operacionais, 52 veículos e dois meios aéreos. 

Durante a noite de sábado, o incêndio de Vinhais entrou em fase de resolução, mas o CDOS de Bragança dizia, em declarações ao PÚBLICO, que o combate às chamas continuava em Vila Flor, não havendo, nessa altura, previsão para a resolução da ocorrência, estando dependente das “condições atmosféricas” da noite. As chamas em Vila Flor lavravam numa área de mato, “entre as localidades de Seixo de Manhozes e Arco”, sem “habitações em risco”. De acordo com a mesma fonte, o posto de comando foi montado no campo de futebol de Vila Flor.

Autarca pede investigação à origem dos fogos

Ainda em Ponte de Lima, Vítor Mendes apelou este sábado à intervenção do Ministério da Administração Interna (MAI) e da Polícia Judiciária por suspeitar da quantidade de fogos que atingiram o concelho nos últimos dias.

“Andamos há duas semanas com incêndios todos os dias em zonas díspares. Temos assistido a quatro ou cinco incêndios por dia, num total de 38 incêndios. É uma situação incomportável. Não há recursos em quantidade suficiente e apesar do empenho de todos estamos a chegar a uma situação limite”, disse à agência Lusa o presidente da câmara de Ponte de Lima.

Questionado sobre se suspeita de mão criminosa, o autarca foi directo ao afirmar que sim e contou que já pediu a intervenção do MAI e que recebeu uma mensagem do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que manifestou “solidariedade e preocupação”.

“É fundamental que a Polícia Judiciária e militares e façam uma vigilância apertada e apurem mais sobre estas situações. Estou muito preocupado com a frequência e o número de fogos recente”, acrescentou o autarca.

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