Em queda nas sondagens, Donald Trump substitui director de campanha

Lugar de Brad Parscale estava em risco desde o comício de Tulsa em Junho. Bill Stepien herda uma campanha em queda nas sondagens, com Joe Biden a liderar nos swing states e uma vantagem de dois dígitos em relação ao Presidente.

Foto
Brad Parscale foi o responsável pela campanha digital de Trump em 2016 ERIK S. LESSER/EPA

A menos de quatro meses das eleições presidenciais e com as sondagens há várias semanas a darem a derrota do actual Presidente como cada vez mais provável, Donald Trump decidiu afastar o seu director de campanha, Brad Parscale, e promover o conselheiro político Bill Stepien.

O anúncio foi feito por Donald Trump no Facebook, depois de o Twitter ter estado em baixo durante algumas horas devido a um ataque de hackers que piratearam dezenas de contas de personalidades norte-americanas, incluindo Joe Biden, Barack Obama e Elon Musk, num esquema para publicitar a bitcoin.

“Tenho o prazer de anunciar que Bill Stepien foi promovido para o cargo de director de campanha. Brad Parscale, que está comigo há muito tempo e tem liderado as nossas tremendas estratégias digitais e de dados, permanecerá nessa função e continuará a ser um conselheiro sénior da campanha”, revelou o Presidente norte-americano no Facebook.

Brad Parscale, responsável pela campanha nas redes sociais de Trump nas eleições presidenciais de 2016 e figura central na vitória do magnata do imobiliário, foi promovido a director de campanha em Fevereiro de 2018, a mais de dois anos e meio das eleições.

Sem experiência política

Foi escolhido por Jared Kushner, genro de Trump e considerado o verdadeiro responsável pela gestão da campanha eleitoral. Antes de entrar para a campanha de Trump, Parscale não tinha qualquer experiência política, mas o seu sucesso em impulsionar a campanha de Trump nas redes sociais levou à sua rápida ascensão.

Como director de campanha, no entanto, Parscale não conseguiu ser bem sucedido, não só devido à polémica sobre o facto de as suas empresas estarem a lucrar milhões à custa da campanha eleitoral, mas também devido à queda de Trump nas sondagens e à dificuldade em melhorar a imagem do Presidente perante o seu eleitorado.

A saída de Parscale acabou por não ser uma surpresa – a hipótese foi avançada em Junho, depois de Ivanka Trump e Jared Kushner terem expressado a sua irritação com o fiasco do comício de Tulsa, no Oklahoma.

O regresso de Donald Trump aos comícios terá sido a gota de água para a queda de Parscale, depois de o director de campanha ter prometido milhares de apoiantes em Tulsa e o recinto ter ficado com um terço da lotação, tendo mesmo sido cancelada um acção de campanha no exterior do recinto devido à falta de apoiantes. Um grupo de adolescentes utilizadores da rede social TikTok reivindicou a responsabilidade pela falta de público, garantindo ter sabotado as inscrições no comício, mas esta tese foi desmentida pela equipa de Trump. 

Diferença de dois dígitos 

Parscale, no entanto, mantém-se na equipa eleitoral de Trump e regressa ao cargo em que conseguiu bons resultados para o Presidente, o de conselheiro para a campanha nas redes sociais. O homem que se segue é Bill Stepien, até agora o número dois da equipa.

Tal como Parscale, Stepien, um experiente consultor político, trabalhou com Donald Trump na campanha eleitoral de 2016. Foi promovido em Maio e desde então começou a ganhar influência no rumo da campanha eleitoral.

Segundo o Washington Post, Stepien tem uma abordagem mais discreta do que Brad Parscale e é conhecedor das dinâmicas dos estados que tanto podem pender para os democratas como para os republicados, os chamados “swing states”, onde a eleição de Novembro será decidida. Antes de trabalhar para Donald Trump, Stepien foi conselheiro do governador republicano de Nova Jérsia Chris Christie.

Na mesma publicação em que anunciou o seu novo director de campanha, Trump destacou precisamente o “forte envolvimento” de Stepien e Parscale nas eleições de 2016 e espera, agora, conseguir repetir a vitória de há quatro anos.

“Desta vez até deve ser muito mais fácil, tendo em conta que os nossos números nas sondagens estão a crescer rapidamente, a economia está a melhorar, as vacinas e terapêuticas [para a covid-19] estarão brevemente a caminho, e os americanos querem as suas ruas e comunidades seguras”, escreveu ainda Donald Trump.

A realidade, contudo, não é tão favorável quanto o Presidente norte-americano quer fazer crer e Bill Stepien vai herdar a direcção de uma campanha que tem enfrentado grandes dificuldades nos últimos meses.

A pandemia de covid-19 continua a devastar o país, já matou mais de 137 mil norte-americanos e pôs a economia em rota descendente – a sua expansão seria um dos argumentos com que Trump contava para usar para a sua reeleição. Além disso, as sondagens são cada vez mais desfavoráveis, com swing states decisivos como o Arizona, o Michigan, a Florida ou o Wisconsin a penderem para Joe Biden, candidato do Partido Democrata.

Na quarta-feira, foram divulgadas mais duas sondagens nacionais e em ambas o Presidente norte-americano surge atrás do candidato democrata com uma diferença superior a dois dígitos.

Na sondagem da NBC News/The Wall Street Journal, Joe Biden lidera as intenções de voto com 11 pontos de vantagem, apesar de 54% dos eleitores fazerem uma avaliação positiva do desempenho económico dos EUA durante a Administração Trump.

Já na sondagem da Universidade de Quinnipiac, o candidato do Partido Democrata surge com uma vantagem de 15 pontos em relação ao rival, o dobro do que teve na mesma sondagem no mês passado. O mesmo estudo revela ainda que 53% dos eleitores registados desaprovam a estratégia de Trump para a economia e 57% consideram que Biden faria um melhor trabalho do que Trump na gestão da pandemia.

 “Sim, é verdade que ainda faltam 16 semanas até ao dia das eleições [3 de Novembro], mas esta é uma análise em tempo real muito desagradável quanto ao que pode ser o futuro para o presidente Trump”, afirmou Tim Malloy, analista da Universidade de Quinnipiac, citado pelo New York Times. “Não há nenhuma tendência encorajadora para o Presidente nesta sondagem”, acrescentou.

Sugerir correcção