Comício de Trump em Tulsa: menos apoiantes, o discurso inflamado de sempre

Presidente dos EUA criticou protestos anti-racistas, defendeu a sua resposta à pandemia e responsabilizou os media e as manifestações no exterior do pavilhão pela participação aquém das expectativas no seu regresso aos comícios.

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Pavilhão em Tulsa teve bastantes cadeiras vazias LEAH MILLIS/Reuters

“Prevemos uma multidão recorde. Nunca tivemos um lugar vazio e certamente não vamos ter em Oklahoma”. A confiança demonstrada pelo Presidente dos Estados Unidos, na passada segunda-feira, sobre a popularidade da sua passagem por Tulsa, no estado do Oklahoma, não deixava esconder as enormes expectativas que tinha para este seu regresso aos comícios. Afinal, a equipa de campanha de Donald Trump dizia ter recebido mais de um milhão de pedidos de ingressos para o evento no BOK Center, realizado este sábado.

Mas nem o pavilhão ficou lotado, nem houve quórum para uma outra acção, às portas do edifício, para os apoiantes sem bilhete. Um cenário muito aquém do sonhado por Trump para um comício destinado a dar um novo ímpeto à sua campanha, depois de algumas derrotas embaraçosas nos tribunais, de sondagens menos auspiciosas e de semanas de críticas tanto à resposta à pandemia, como aos protestos anti-racistas em todo o país, iniciados com o assassínio do afro-americano George Floyd, pela polícia de Mineápolis (Minnesota).

Ao seu estilo, o Presidente norte-americano acusou a comunicação social de ter desencorajado a participação no evento e invocou o mau comportamento de opositores que se manifestavam à porta do pavilhão para justificar, sem nunca o admitir, por que estavam preenchidos apenas dois terços dos 19 mil lugares disponíveis. 

Já depois do evento, a equipa de Trump desdobrou-se em explicações para o fiasco, primeiro denunciando os manifestantes de terem impedido o acesso ao pavilhão – rapidamente desmentido pelos jornalistas no terreno –, depois acusando os opositores do líder republicano de terem comprado bilhetes online e não terem aparecido propositadamente.

Expectativas frustradas à parte, o regresso de Trump ao palanque – o seu local favorito de intervenção, a par do Twitter – foi um regresso à normalidade. Entre críticas às manifestações anti-racistas, elogios à gestão da Administração da crise do coronavírus, acusações várias ao provável candidato democrata à presidência, Joe Biden, e alfinetadas à China, o Presidente reforçou a sua mensagem eleitoral em defesa da lei e da ordem (Law & Order).

“A maioria silenciosa está mais forte do que nunca. Daqui a cinco meses vamos derrotar o ‘Sonolento’ Joe Biden. Somos o partido de Abraham Lincoln e somos o partido da lei e da ordem”, proclamou Trump, catalogando o ex-vice-presidente de Barack Obama de “marioneta da esquerda radical e da China” e “Cavalo de Tróia do socialismo”.

Reeleição ou “caos”

Donald Trump também afastou as críticas pela decisão de fazer o seu primeiro comício desde 2 de Março em Tulsa, onde em 1921 teve lugar um dos mais sangrentos episódios de violência racista nos EUA, e num estado que registou uma subida de 91% do número de infectados por covid-19 em apenas uma semana – horas antes do comício, a equipa de Trump revelou que seis dos seus membros tinham testado positivo, mas apenas um número reduzido de participantes usou máscara protectora no pavilhão de Tulsa.

Para além de ser acusado de mostrar falta de empatia para o flagelo da comunidade negra nos EUA, o Presidente – que tem encorajado uma resposta militarizada para conter as manifestações – aproveitou o discurso para criticar alguns manifestantes.

“A multidão descontrolada de esquerda está a tentar vandalizar a nossa História, profanar os nossos belos monumentos, derrubar as nossas estátuas e punir, cancelar e perseguir qualquer pessoa que não se conforme com as suas exigências de controlo total e absoluto. Mas nós não nos conformamos”, garantiu Trump aos seus apoiantes.

O Presidente alertou-os ainda para um cenário semelhante ao “caos que estão a ver nas cidades governadas por democratas”, caso não seja reeleito, a 3 de Novembro, e usou o aviso para reforçar o seu apoio ao direito às armas.

“Quando vemos aqueles lunáticos por todas as ruas, é bem bom podermos ter armas. A nossa gente não é tão violenta como eles, mas caso fosse, seria um dia terrível, terrível para o outro lado”, atirou o chefe de Estado.

Ao mesmo tempo, lá fora, um grupo de civis armados patrulhava as imediações do pavilhão, para o caso de os protestos dos Antifa– o movimento inorgânico que Trump rotulou de “organização terrorista” – se tornarem violentos, disse um deles aos jornalistas, segundo a Reuters.

“Reduzam os testes”

O Presidente republicano parece estar a ficar para trás nas sondagens, na competição com Biden, que o tem criticado pela sua resposta à pandemia. Trump defendeu a sua abordagem de contenção da “Kung Flu” – numa referência de tons xenófobos sobre a origem chinesa do vírus –, justificando o número elevado de casos com o aumento do número de testes realizados, e fazendo sugestões sarcásticas com esse facto.

“Quando testamos a esta escala, encontramos mais casos. Por isso é que eu digo à minha equipa: ‘Reduzam o ritmo dos testes, por favor”, afirmou o Presidente. 

Os EUA são o país do mundo mais afectado pelo coronavírus. Têm 2,3 milhões de infectados, cerca de 122 mil mortos e o impacto do confinamento atirou mais de 40 milhões de norte-americanos para o desemprego. Um responsável da Casa Branca apressou-se, por isso, a esclarecer que Trump estava “claramente a brincar” quando sugeriu reduzir os testes.

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