Nunca houve tantos novos casos diários de covid-19 nos EUA

Nova Iorque, Nova Jérsia e Connecticut impõem quarentena obrigatória a quem chega do sul e do oeste. Donald Trump encolhe os ombros e vai fazer campanha no Wisconsin, um dos swing states.

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Em Houston, no Texas, unidades de cuidados intensivas atingiram 97% da sua capacidade Reuters/CALLAGHAN O'HARE

Nunca houve um dia com tantos novos casos de covid-19 nos Estados Unidos como na quarta-feira: 36.880, segundo os números da Universidade Johns Hopkins. Mas o retrato do país, que é um dos focos de crescimento da pandemia, não é homogéneo: são sobretudo nos estados do sul e do oeste, que começaram a aliviar as medidas de confinamento no início de Maio, que estão agora a ser mais atingidos.

As maiores preocupações estão em estados como o Texas, a Florida, o Oklahoma, onde Donald Trump realizou um comício, no fim-de-semana passado, ou a Carolina do Sul. Mas as infecções e hospitalizações estão a verificar-se em cerca de 20 estados.

No Texas, desde que as medidas de confinamento começaram a ser aliviadas, as hospitalizações duplicaram e os novos casos triplicaram nas últimas duas semanas. Neste momento, há 4300 pessoas hospitalizadas. Em Houston, os hospitais estão no limite, com as unidades de cuidados intensivas a atingirem 97% da sua capacidade, e os hospitais pediátricos estão a tratar adultos, devido à elevada procura. 

​Apesar do aumento substancial de casos no seu estado, que os críticos atribuem ao prematuro alívio das medidas de confinamento, o governador Greg Abbott, do Partido Republicano, não tinha demonstrado vontade de recuar - mas esta quinta-feira, viu-se obrigado a anunciar a suspensão da reabertura da economia e a emitir uma ordem executiva para aumentar a capacidade dos hospitais de quatro condados para receberem vítimas de covid-19

​“A última coisa que queremos enquanto estado é fazer marcha-atrás e fechar a economia”, afirmou no entanto  Abbott, garantindo que o recuo não se prolongará. “Esta pausa temporária ajudará o estado a reduzir o contágio até que possamos entrar em segurança na próxima fase de abrir o nosso estado para fazer negócios outra vez”, justificou.

As empresas que já reabriram poderão continuar a funcionar, com limitações. Mas ficam interditas novas reaberturas.

Quarentena em três estados

Os estados do nordeste, pelo contrário, demoraram mais tempo a levantar as medidas de distanciamento social, e fizeram-no de forma faseada, o que parece justificar a diminuição das infecções em Nova Iorque, outrora o epicentro da pandemia no país. Pela primeira vez desde Março, o número de internados é inferior a mil em Nova Iorque. 

Nova Jérsia e Nova Iorque têm a situação controlada, conforme notou Anthony Fauci, director do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecto-contagiosas dos EUA, ouvido na terça-feira no Congresso.

Com a situação a agravar-se no sul e no oeste, os governadores de Nova Iorque, Nova Jérsia e Connecticut anunciaram que vão introduzir uma quarentena obrigatória de 14 dias para as pessoas que cheguem dos estados com maior taxa de contágio.

“Trabalhámos arduamente para baixar a taxa de contágio. Não queremos que esse esforço tenha sido em vão, porque muitas pessoas vêm para esta região e podem trazer o vírus consigo”, afirmou Andrew Cuomo, governador de Nova Iorque, citado pela CNBC.

As novas regras vão aplicar-se aos estados com um rácio de dez infecções por cada 100 mil habitantes nos últimos sete dias ou com 10% de testes positivos. Esta medida, para já, aplica-se a nove estados: Alabama, Arkansas, Arizona, Florida, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Washington, Utah e Texas, segundo as contas do Washington Post.

A Califórnia, na costa oeste, é que destoa do padrão: foi rápida a impor o confinamento, mas não está a conseguir controlar a pandemia: na quarta-feira, registou mais sete mil novos casos, o valor mais elevado desde o início da pandemia.

O número preocupante de novas infecções está a causar alarme em Wall Street, que fechou em queda na quarta-feira, com o índice industrial Dow Jones a cair 2,7%, enquanto o índice S&P 500 caiu 2,6%, quedas que, em parte, também se justificam pelas restrições à circulação impostas pelos estados do nordeste, que estão a gerar preocupação nos investidores. 

Trump em campo

Numa altura em que os EUA registam mais de 2,3 milhões de infectados e 122 mil mortos, Donald Trump viaja esta quinta-feira para o Wisconsin, onde vai visitar um estaleiro que, recentemente, assinou com contrato no valor de 5,5 mil milhões de dólares para construir fragatas para a Marinha norte-americana. Segundo o USA Today, este contrato vai levar a contratação de mil trabalhadores e garante trabalho para os próximos 20 anos.

Com a campanha de Joe Biden, presumível candidato do Partido Democrata, a ganhar gás, impulsionada por sondagens favoráveis, como a do The New York Times e do Sienna College publicada na quarta-feira, que lhe dão uma vantagem de 14 pontos, Trump não perderá a oportunidade de tentar fazer propaganda, num estado que poderá ser decisivo nas eleições de Novembro, apesar de não se tratar ser uma acção de campanha. 

O Wisconsin é um dos swing states, ou seja, um estado que, tanto pode pender para os democratas como para os republicanos. Há quatro anos, Trump conseguiu derrotar Hillary Clinton ali, apenas por um ponto percentual.

Segundo uma sondagem da Marquette University Law School, Joe Biden tem uma vantagem de oito pontos sobre Donald Trump no Wisconsin quando, em Maio, era de apenas três pontos. A mesma sondagem revela que 51% dos eleitores do Wisconsin fazem um balanço negativo do mandato de Trump. 

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