Como é que saímos desta pandemia?

Não ajuda falar em “milagre português”. É um estado laico. Eu não quero um optimismo cego, quero que digam a verdade.

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Ciência, Filosofia, Verdade, Proporcionalidade, Globalidade e Alegria... será numa mistura destas artes que encontraremos o nosso caminho Reuters/KAI PFAFFENBACH

Ciência, Filosofia, Verdade, Proporcionalidade, Globalidade e Alegria.

Ciência. Não podemos cair na tentação de resistir à ciência. Em momento algum tentem saber mais do que os estiveram a vida toda a estudar os diferentes domínios da ciência que interessam saber. SARS-Coronavírus-2 é um vírus altamente contagioso, que causa uma doença (covid-19) gravíssima. Negar e conspirar à volta destas premissas é perigoso e estúpido.

  • Letalidade: entre 3 e 6 pessoas em cada mil infectadas pelo vírus, morrem. E é uma morte lenta, em sofrimento e em solidão. Este número é verdade para uma população ocidental global, pelo que tem que ser adaptado a grupo etário e aos factores de risco.
  • Tratamento: Não há nenhum medicamento que seja significativamente modificador do curso da doença. A Dexametasona tem indicadores promissores, mas ainda que se venham a confirmar os resultados não retira a enorme pressão nos serviços de saúde que esta doença acarreta.
  • Vacina: A vacina mais rápida de sempre a ser desenvolvida foi em 4 anos, dizem os peritos que é improvável que se consiga uma vacina segura e eficaz em menos de 1,5-2 anos. É uma miragem.
  • Imunidade: Não há nenhuma pessoa infectada duas vezes pelo vírus. Ainda assim não sabemos a duração e a eficácia desta imunidade.

Analisando friamente, se não houver a curto prazo um tratamento ou vacina eficazes, teremos que caminhar para a mal-amada “imunidade de grupo” a uma velocidade que os hospitais, em particular os Cuidados Intensivos aguentem.

Filosofia. Percebam que estamos todos a sofrer. Ninguém nos educou para aceitar a morte. As religiões tentam fazer esse papel, mas por mais que se acredite na vida para além da morte, todos têm medo de morrer. Como é que conquistamos as premissas aparentemente antagónicas de valorizar a vida e aceitar a morte? É urgente fazer o trabalho de colocar a nossa vida e dos nossos como algo que um dia vai chegar ao fim.

Num mundo de incertezas, é a única que temos. Aceitemo-la com tranquilidade ainda que lutando com todas as forças pelas vidas de todos nós. E sabendo que não vivemos para sempre, quanto da nossa vida estamos dispostos a não viver, para que a nossa vida dure mais tempo? Estar vivo não é certamente apenas ter o coração a bater. O debate é infinito. Aceitem opiniões contrárias.

Verdade. Vivemos uma pandemia de mentiras. Mentiras organizadas, mentiras cozinhadas e embrulhadas, e também ocultações como estratégia política. Temos que condenar politicamente e criminalmente os que nos mentem. E se não for pedir demais, que nos digam a verdade! 

Não ajuda falar em “milagre português”. É um estado laico. Eu não quero um optimismo cego, quero que digam a verdade, mesmo que a verdade seja explicar todas as dúvidas que temos, sobre o que sabemos e o que não sabemos. Vai ser uma luta longa e duríssima, se nos mentirem no início perdem para sempre a nossa confiança. Comunicação é fundamental, de nada nos serve se não for a verdade.

Proporcionalidade. Este não é o maior problema de saúde das nossas vidas. Vamos ter que medir vidas e sofrimento. Vamos ter que saber medir saúde e economia. Vamos ter que saber se com as vidas que estamos a salvar não estamos a pagar em anos de vida — dos que têm fome, dos que perderam o emprego, dos que não aprenderam o que tinham a aprender na escola, sabendo a importância da educação no futuro de cada um.

Vamos ter que proteger os mais vulneráveis à doença, mas também os mais vulneráveis ao empobrecimento. Vamos ter que medir o que estamos a perder enquanto sociedade por não nos abraçarmos, por não nos aproximarmos física e por consequência psicologicamente dos que mais gostamos, e dos que não conhecemos.

Democratizemos a proporção das nossas decisões. Aceitemos que o melhor para todos, pode não ser o melhor para nós. É difícil, mas fundamental.

Globalidade. A empatia à distância é um fenómeno muito recente num mundo que vinha a ser mais global. Ainda que pouco, já nos preocupamos com o sofrimento de gente que não toca no nosso mundo. Um problema em comum à humanidade não pode fecharmo-nos em nós.

A solução é fortalecer os organismos planetários, como as Nações Unidas ou a Organização Mundial de Saúde. Se estes cometeram erros, vamos melhorá-los e fortalecê-los e nunca dar um passo atrás.

Queremos, uma polícia do mundo, uma saúde do mundo, uma justiça do mundo e educação do mundo. Queremos mundo, porque se não nos preocupamos com todos, não nos preocupamos com ninguém. Temos que exigir a nós próprios e a quem nos governa um olhar global para um problema global.

Alegria. Estamos todos a sofrer, não podemos perder oportunidades de sorrir e fazer sorrir. É de coração aberto que caminharemos para a solução. Humor e Humanidade na simbiose perfeita. Humanidade sem Humor torna-nos tristes. E Humor sem Humanidade torna-nos estúpidos. Humor e Humanidade.

Não vamos viver para sempre, o pouco que seja que valha a pena!

Ciência, Filosofia, Verdade, Proporcionalidade, Globalidade e Alegria... será numa mistura destas artes que encontraremos o nosso caminho.

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