Trump queria destacar dez mil soldados para Washington D.C. para controlar protestos

O Presidente dos Estados Unidos foi dissuadido de fazê-lo pelo secretário da Defesa e pelo chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos.

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Militares guardam a Casa Branca Reuters/JONATHAN ERNST
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Militares e manifestants no monumento a Lincoln, em Washington Reuters/CARLOS BARRIA

O Presidente Donald Trump disse na semana passada aos seus conselheiros querer destacar dez mil soldados para Washington D.C., para travar a contestação civil motivada pela morte do afro-americano George Floyd pela polícia de Minneapolis, de acordo com um responsável bem colocado na Administração norte-americana. 

O relato da exigência de Trump numa acesa discussão na Sala Oval na segunda-feira mostra o quão perto o Presidente esteve de cumprir a sua ameaça de destacar militares activos, apesar da oposição da liderança do Pentágono. Na reunião, o secretário da Defesa, Mark Esper, o chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, general Mark Milley e o Procurador-Geral William Barr pronunciaram-se contra o destacamento de tropas, disse o responsável, falando com a condição de anonimato. A reunião foi “contenciosa”, acrescentou. 

A Casa Branca não respondeu ao pedido para comentar. 

Desde esse momento que Trump parece satisfeito com o destacamento da Guarda Nacional, opção recomendada pelo Pentágono e que é uma ferramenta mais tradicional para lidar com crises domésticas. Os líderes do Pentágono pressionaram os governadores a chamar a Guarda Nacional e também foram destacadas forças policiais adicionais.

Mas a sugestão de Esper de preparar – mas não destacar – soldados activos da 82.º Divisão Aerotransportada e outras unidades na área de Washington D.C., na eventualidade de serem necessárias, também parece ter sido fundamental para Trump. Estas tropas já abandonaram a zona. 

“Ter forças activas disponíveis, mas não na cidade, foi naquela altura suficiente para o Presidente”, disse o responsável. 

O desejo de Trump em militarizar a resposta aos protestos deu origem a uma rara vaga de condenações de militares americanos na reserva, incluindo do primeiro secretário de Defesa do Presidente, Jim Mattis, e de quatro generais de quatro estrelas reformados, que normalmente se mantêm longe da política.

Estas posições públicas reflectiram a profunda preocupação dentro e fora do Pentágono sobre a vontade de Trump em destacar os militares para uma crise de cariz racial depois da morte de George Floyd, de 46 anos, a 25 de Maio, depois de um polícia de Minneapolis lhe ter posto o joelho no pescoço por quase nove minutos. 

A morte de Floyd levou a uma vaga de protestos e a um debate sobre o legado de violência e maus tratos de cidadãos afro-americanos e outras minorias no país. Também levou alguns líderes de cor do Pentágono a emitirem declarações sem precedentes sobre as suas experiências de vida relacionadas com temas étnicos nas Forças Armadas americanas. 

Qual o futuro de Esper?

Esper assumiu publicamente na quarta-feira a sua oposição à invocação da Lei de Insurreição, essencial para se destacar militares, e os comentários aos jornalistas não foram bem recebidos por Trump ou pelos seus conselheiros. 

O responsável da administração disse à Reuters que Trump gritou com Esper depois da conferência de imprensa. Têm surgido especulações sobre se o Presidente o pode despedir e a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, disse que Trump “mantém a confiança no secretário Esper”. “O secretário Esper tem sido essencial em manter seguras as ruas da nossa nação seguras e em salvaguardar a paz e confiança na segurança dos seus negócios, locais de culto e casas”, disse em comunicado McEnany. 

Na terça-feira, Esper emitiu um comunicado em que relembrou aos profissionais do Departamento de Defesa de que “continuamos a proteger o direito dos americanos à liberdade de expressão e a protestarem pacificamente”. E o chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos divulgou um comunicado semelhante a relembrar os militares do seu juramento à Constituição, que protege o direito a protestos pacíficos. 

Os comunicados de Milley e Esper aconteceram depois de ter sido duramente criticado por usarem termos de planeamento militar, como “campo de batalha”, para descrever os locais dos protestos durante uma vídeoconferência que Trump teve com governadores na segunda-feira, de acordo com as gravações divulgadas. 

O Pentágono estava naquela altura preocupado que Trump pudesse destacar tropas se os governadores não enviassem suficientes militares da Guarda Nacional, disse o responsável sénio. 

Esper e Milley também enfrentaram duras críticas por terem acompanhado na segunda-feira Trump numa operação fotográfica nas imediações de uma igreja perto da Casa Branca, depois de a polícia ter esvaziado a zona usando granadas de fumo, balas de gás pimenta e carregado contra manifestantes pacíficos. 

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