Procurador-geral rejeita apreensão do telemóvel de Bolsonaro

Pedido tinha sido feito no âmbito da investigação à alegada interferência de Bolsonaro no comando da Polícia Federal.

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Jair Bolsonaro criticou as operações da PF que visaram aliados seus EPA/Joedson Alves

O procurador-geral da República brasileiro, Augusto Aras, opõe-se à apreensão do telemóvel do Presidente, Jair Bolsonaro, que chegou a ser requerido no âmbito da investigação sobre a interferência na Polícia Federal (PF).

Aras pronunciou-se ao fim de vários dias em que a possibilidade de o telemóvel do Presidente ser alvo de perícias foi recebida com críticas fortes de vários elementos do Governo, sobretudo da ala militar. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Augusto Heleno, chegou mesmo a avisar que a apreensão do aparelho teria “consequências imprevisíveis” para a estabilidade do país.

Agora, o procurador-geral, que foi nomeado por Bolsonaro, veio a público para mostrar que se opõe ao pedido feito por vários partidos junto do Supremo Tribunal Federal (STF). O juiz Celso de Mello, responsável pelas investigações, tinha encaminhado o pedido para Aras.

“Cabe ao procurador-geral da República o pedido de abertura de inquérito, bem como a indicação das diligências investigativas”, afirmou Aras, numa nota publicada esta quinta-feira de manhã.

Para além do telemóvel de Bolsonaro, foram feitos pedidos de apreensão dos telefones pessoais do vereador Carlos Bolsonaro, filho do Presidente, da deputada federal Carla Zambelli, do ex-director-geral da PF, Maurício Valeixo, e do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro.

O inquérito tenta apurar se Bolsonaro tentou interferir no comando da PF para obter informações privilegiadas sobre investigações em curso que envolvem familiares e pessoas do seu círculo íntimo. Várias testemunhas já foram chamadas a depor, incluindo Moro, e a gravação de uma reunião ministerial em que Bolsonaro ameaça demitir o então ministro foi divulgada.

No final das diligências cabe ao procurador-geral pronunciar-se sobre se irá dar continuidade ao inquérito, através de uma denúncia formal contra Bolsonaro, que terá de ser aprovado pela Câmara dos Deputados. Se isso acontecer, o Presidente é afastado temporariamente do cargo até que haja uma sentença.

“Acabou, porra!”

Esta quinta-feira, Bolsonaro reagiu de forma violenta às operações de busca e apreensão realizada pela PF contra vários aliados seus, no âmbito da investigação a uma rede de produção e difusão de notícias falsas. “Acabou, porra!”, afirmou Bolsonaro, que criticou “ordens absurdas”.

“Nunca tive a intenção de controlar a Polícia Federal, pelo menos isso serviu para mostrar ontem [quarta]. Mas obviamente, ordens absurdas não se cumprem”, declarou o Presidente.

A operação foi autorizada pelo STF e visou empresários e activistas que apoiam o Governo, suspeitos de financiar e operacionalizar uma rede que espalha notícias falsas e caluniosas nas redes sociais, com o objectivo de atingir adversários políticos de Bolsonaro.

Horas depois das buscas, o procurador-geral pediu a suspensão da investigação, dizendo ter sido “surpreendido” pelas operações.

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