Johnson & Johnson retira pó de talco nos EUA e Canadá

Tribunais já condenaram ao pagamento de milhões em indemnizações e contam-se mais de 19 mil processos em ainda por julgar devido à presença de amianto no produto. A marca nega qualquer acusação.

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A marca continua "firmemente convicta na segurança" do produto. Reuters/Shannon Stapleton

Depois de ter sido condenada a pagar mais de quatro mil milhões de euros em Julho de 2018 e cerca de 25 milhões em Março do ano passado a consumidores que acusaram a Johnson & Johnson (J&J) de vender pó de talco que lhes causou cancro, a empresa anunciou esta terça-feira que vai deixar de vender o produto nos Estados Unidos da América e no Canadá.

Enquanto alega que a quebra na procura devido a “desinformação”, a marca de pó de talco da gigante norte-americana já enfrentou mais de 19 mil processos em tribunal e em Julho do ano passado as autoridades começaram uma investigação criminal ao possível encobrimento da presença de amianto, um elemento cancerígeno, no produto.

Na declaração, a J&J afirma manter-se “firmemente convicta sobre a segurança” do produto, citando “décadas de estudos científicos”.

“Gostava que a minha mãe estivesse aqui para ver este dia”, disse Crystal Deckard à Reuters. A mãe, Darlene Coker, alegava que o pó de talco para bebé teria-lhe causado cancro no pulmão. A mulher viria a desistir do processo em 1999, depois de perder a batalha judicial para que a J&J divulgasse relatórios internos. Morreu da doença em 2009.

As suspeitas já são muito antigas, o que põe em causa se a empresa teria conhecimento que estaria a colocar os consumidores em risco desde então. Uma investigação da Reuters em 2018 indicava que a J&J sabia há décadas da existência de amianto no pó de talco. Segundo a agência, os relatórios internos, testemunhos em tribunal e outras provas mostram que entre 1971 e o início dos anos 2000, o talco em bruto e outros produtos em pó várias vezes testaram positivo para a presença de pequenas quantidades de amianto.

Além das investigações criminais, a empresa norte-americana também já foi alvo de investigações por parte de 41 estados dos EUA e a polémica chegou ao Congresso do país. Raja Krishnamoorthi, que liderou o inquérito no Congresso, descreveu a decisão de cessar a venda como “uma grande vitória para a saúde pública”, acrescentando que a investigação que liderou durante 14 meses concluiu que “a Johnson & Johnson sabia há décadas que o seu produto continha amianto”.

Vendido desde 1984, o pó de talco da Johnson & Johnson representa um símbolo da imagem familiar da marca e chegou a ser considerada o “activo principal” em relatórios internos.

Segundo Christie Nordhilm, professor de marketing em Georgetown, Washington DC, a marca, terá tomado a decisão de retirar o produto do mercado enquanto os consumidores estão preocupados com a pandemia. “É uma boa altura para o fazerem silenciosamente”, considera, e acrescenta que “isso ajuda a minimizar os impactos na reputação” da empresa.

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