Johnson & Johnson investigada pela presença de amianto no pó de talco

A empresa já enfrentou mais de 13 mil processos judiciais movidos por consumidores que alegam ter contraído cancro devido à utilização dos seus produtos.

Foto
Segundo a agência Reuters, as suspeitas da presença de amianto nos produtos da Johnson & Johnson iniciaram-se em 1957 Reuters/Mike Blake

As autoridades norte-americanas iniciaram uma investigação criminal à empresa Johnson & Johnson (J&J) para perceber se a empresa de cosmética mentiu sobre a presença de elementos cancerígenos (amianto) nos produtos de pó de talco, avança a Bloomberg.

A investigação das autoridades norte-americanas acontece depois de a empresa ter enfrentado mais de 13 mil processos judiciais nos Estados Unidos movidos por consumidores que alegam ter contraído cancro devido à utilização dos seus produtos – em Julho do ano passado, por exemplo, a marca foi condenada a pagar quatro mil milhões de euros a 22 mulheres que afirmaram ter contraído cancro devido à utilização de pó de talco. No final de 2018, a Reuters concluiu, numa investigação baseada em documentos produzidos no âmbito de vários processos judiciais, que a empresa de cosmética sabia da presença de amianto nos seus produtos e que terá decidido ocultar esta informação. 

Agora, um júri de Washington vai analisar os documentos oficiais para perceber a veracidade das acusações. O Departamento de Justiça norte-americano disse à Bloomberg que não se iria pronunciar sobre o assunto. Já a J&J escreveu, em comunicado, na última sexta-feira, que não há novos desenvolvimentos na investigação, com a qual tem estado a “cooperar totalmente”.

No final de 2018, a Reuters analisou os documentos da empresa – alguns dos quais encontram-se sob segredo de justiça – e avançou que as suspeitas da presença de amianto iniciaram-se em 1957, quando um laboratório externo apontou a presença de tremolite (um mineral fibroso que é um dos seis tipos de amianto) nas pedras de talco de um fornecedor italiano da empresa norte-americana.

A investigação mostra também que, em 1976, quando a Food and Drug Administration (a entidade que fiscaliza a produção de medicamentos e alimentos nos Estados Unidos da América, tal como faz o Infarmed em Portugal) começou a impor limites à presença de partículas de amianto nos cosméticos derivados do talco, a J&J afirmou não ter detectado qualquer amostra da substância nos seus produtos. Mas, de acordo com a investigação da Reuters, tal não será verdade: em pelo menos três análises feitas entre 1972 e 1975 foi detectado amianto no pó de talco — numa destas, numa concentração “significativamente elevada”.

Desde então, e até ao início da primeira década do século XXI, a maioria das análises internas da J&J não identificaram a presença de amianto nos seus produtos, mas em algumas foram detectadas pequenas quantidades. 

Sugerir correcção
Comentar