Governo alemão suspende dividendos das cotadas que recebam ajudas

Recurso às ajudas públicas implicará congelar os dividendos. Cortes nas remunerações e bónus dos administradores também estão na calha, na maior economia da zona euro.

Foto
A Lufthansa é uma das companhias alemãs que pondera recorrer às linhas de crédito lançadas pelo governo Reuters/POOL New

As empresas cotadas alemãs terão de suspender a distribuição de dividendos aos seus accionistas se quiserem candidatar-se a apoios públicos para enfrentar os impactos do novo coronavírus.

Segundo a Bloomberg, as condições de acessos às medidas de apoio aos efeitos da crise económica – como os financiamentos e garantias concedidos através do banco de fomento alemão KfW – vão incluir um garrote aos dividendos das empresas cotadas em bolsa.

O objectivo é evitar que o dinheiro público libertado no pacote de estímulos à economia acabe nos bolsos de accionistas privados. A medida foi anunciada, segundo a Bloomberg, por um porta-voz do ministro da economia alemão, Peter Altmaier, numa conferência de imprensa em Berlim.

Na sexta-feira, o governo alemão conseguiu assegurar o apoio parlamentar a um pacote de medidas de combate à crise provocada pelo novo coronavírus no valor total de 750 mil milhões de euros.

Adicionalmente, o KfW poderá contar com 500 mil milhões de euros para ajudar a tesouraria das empresas que se viram confrontadas com a falta de procura nas últimas semanas.

À medida que o contágio alastra e que se afiguram como certos os efeitos recessivos nas economias, sobe a pressão sobre as companhias europeias para reterem dividendos e evitar possíveis situações de descapitalização.

Nas últimas horas, o congelamento dos dividendos foi anunciado pela empresa sueca de sistemas de defesa e engenharia aeroespacial Saab e justificado precisamente pelo contexto de incerteza a nível mundial e as dúvidas sobre a evolução da carteira de encomendas.

A crise do novo coronavírus também levou a francesa EssilorLuxottica, que fabrica os óculos Ray-Ban, a suspender o pagamento de dividendos.

Outros exemplos na Alemanha são a transportadora Lufthansa, a fabricante de baterias Varta e a empresa de aluguer de automóveis Sixt. O operador turístico TUI também anunciou na sexta-feira que recorreu a uma linha de crédito de 1,8 mil milhões e que uma das condições impostas pelo KfW foi precisamente abdicar do pagamento de dividendos durante o período de vigência do financiamento.

Olhos postos no sector financeiro

No Reino Unido também está a crescer a pressão pública sobre o Banco de Inglaterra para que obrigue grandes bancos como o Barclays, HSBC, Lloyds, RBS e Standard Chartered a cortar nos nos dividendos, noticia o site This Is Money.

Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) recomendou aos bancos que não os distribuam. Na Alemanha, o Commerzbank já anunciou que acatará a decisão. Em Espanha, o Santander foi das primeiras instituições financeiras a fazê-lo, aprovando igualmente um corte na remuneração da gestão de topo.

Em Portugal, o BCP anunciou a suspensão do pagamento dos dividendos referentes a 2019, optando por reforçar o balanço com cerca de 134 milhões de euros para se preparar para um contexto de incerteza.

Na segunda-feira, Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) também recomendou às empresas do sector que se abstenham de entregar dividendos e que evitem os financiamentos intragrupo para que mantenham uma posição de solidez financeira perante um expectável agravamento da crise.

A Bloomberg nota que as medidas que vão ser aplicadas na Alemanha estão em linha com outras adoptadas pelo executivo francês, onde as empresas que beneficiem do adiamento da liquidação de impostos e contribuições terão de reembolsar o Estado e pagar coimas se distribuírem dividendos.

E se insistirem na repartição de lucros, as empresas francesas também deixam de ser elegíveis para as linhas de crédito de ajuda à crise.

O ministro da economia alemã, Peter Altmaier, também anunciou durante o fim-de-semana que será ainda exigido às empresas que recorram à ajuda pública que cortem remunerações e bónus aos seus gestores.

“É importante que os conselhos de administração e gestores executivos contribuam em situações de emergência”, disse o governante alemão em entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Sugerir correcção
Comentar