Fecho de escolas e proibição de encontros públicos mitigou o efeito da gripe espanhola nos EUA, indica estudo

A investigação é de 2007, mas, numa altura em que vários países se debatem com este tipo de decisão (Portugal incluído), os seus autores mantêm os resultados: “Intervenções não farmacêuticas devem ser consideradas para inclusão como medidas complementares”.

Foto
A gripe de 1918-19 foi responsável pela morte de mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo CDC/Unsplash

As medidas proactivas não farmacêuticas, em que se incluem o encerramento das escolas, a proibição de eventos e o fecho de espaços públicos durante um cenário de pandemia, podem mitigar o impacte da doença nas comunidades.

A conclusão é de um estudo publicado no Journal of the American Medical Association, em 2007 — mas cujas conclusões se mantêm inalteradas, garantiu um dos seus autores ao PÚBLICO, Howard Markel, da Universidade de Michigan, que declara apoiar sem reservas o “distanciamento social” no contexto actual do surto do vírus SARS-CoV-2, responsável pela doença covid-19 que já matou mais de 4700 pessoas em todo o mundo em menos de três meses. O trabalho em causa analisa as Intervenções Não Farmacêuticas Implementadas por Cidades dos EUA Durante a Pandemia da Gripe de 1918-1919, muitas vezes referida como gripe espanhola, que terá sido responsável pela morte de 40 milhões de indivíduos (só em Portugal, estima-se que tenham perecido mais de 60 mil pessoas).

No texto, de 8 de Agosto de 2007, os autores dizem ter verificado que “uma questão crítica do planeamento da acção [num cenário] de pandemia de influenza é o papel que as intervenções não farmacêuticas podem desempenhar para retardar os efeitos de uma pandemia, reduzindo a taxa de ataque global e de pico, e reduzindo o número de mortes acumuladas”.

“Idealmente, a implementação adequada de intervenções não farmacêuticas diminuiria o fardo sobre os serviços de saúde e as infra-estruturas de emergência.”

Para confirmar esta teoria, os investigadores (além de Markel, a equipa incluiu Harvey B. Lipman e J. Alexander Navarro) cruzaram a informação do que foi determinado em 43 cidades norte-americanas com os respectivos números de doentes e de óbitos durante a pandemia de gripe espanhola.

Nos resultados explica-se que cada cidade optou pelo menos por uma das três das principais categorias de intervenções não farmacêuticas, sendo que o encerramento das escolas e a proibição de eventos públicos foi a combinação mais usada, e implementada em 34 cidades, que apresentaram reduções no crescimento do aumento da mortalidade, semana a semana, face às outras urbes. Porém, os pesquisadores salientam que “as cidades que implementaram intervenções não farmacêuticas mais cedo demoraram mais tempo a atingir o pico de mortalidade”, sendo estes de menor proporção, resultando numa “menor mortalidade total”.

No fim, os autores deixam uma recomendação: “No planeamento em cenário de futuras pandemias graves de influenza, as intervenções não farmacêuticas devem ser consideradas para inclusão como medidas complementares ao desenvolvimento de vacinas e medicamentos eficazes para profilaxia e tratamento.”

Sugerir correcção
Ler 1 comentários