Parentalidade consciente: atender a necessidades

De uma forma geral, as crianças gostam de previsibilidade, de saber com o que contam. As regras e rotinas dão-lhes isso e geram um sentimento de segurança.

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@petercalheiros

Existem diversos conceitos de parentalidade na literatura, sendo que, de uma forma geral, os autores referem-se a comportamentos, pensamentos e emoções que os pais dirigem aos seus filhos, sob a forma de disponibilidade física, afectiva e sensibilidade face à criança e às suas necessidades, com vista à promoção do seu bem-estar e desenvolvimento físico, psicológico e social. As práticas parentais serão, assim, a aplicação de comportamentos e atitudes com o objectivo de facilitar a socialização da criança, reduzindo comportamentos que consideram indesejados e promovendo os comportamentos considerados adequados.

Tendencialmente, é durante a gravidez que se começam a formar os laços de afecto com a criança, tanto para o pai como para a mãe, sendo que vários factores irão definir a qualidade da relação que cada progenitor irá desenvolver com o seu filho, entre eles a história desenvolvimental dos pais (incluindo a sua família de origem), a sua personalidade e ajustamento psicológico, o temperamento da criança e a qualidade do relacionamento conjugal — casais com uma relação conjugal conflituosa têm menos disponibilidade para os filhos.

É esperado que o pai e a mãe definam algumas linhas mestras sobre a educação que pretendem dar ao filho, rejeitando algumas ideias e acolhendo outras. Estas últimas podem surgir da educação que recebemos e das nossas próprias convicções. A partir daqui forma-se o seu estilo parental, num misto de “Nunca farei isto ao meu filho” e/ou “É isto que pretendo fazer quando ele crescer”. De preferência, este projecto parental, que será negociado pelo casal, terá pontos-chave comuns aos dois progenitores, por exemplo, ambos concordarem que a criança não deve comer e ver televisão ao mesmo tempo.

É amplamente reportado que diferentes estilos e práticas parentais têm consequências diversas ao nível do desenvolvimento e para a vida emocional da criança. Alto nível de controlo, associado a baixo suporte emocional, negatividade e rejeição, característicos de um estilo autoritário, predizem a presença de problemas de comportamento, ansiedade ou depressão; enquanto um estilo parental caracterizado pela exigência, mas com suporte emocional, aceitação e comunicação funciona como factor de protecção para o ajustamento psicológico da criança e adolescente, associando-se, entre outros, a níveis mais elevados de rendimento académico, competência na auto-regulação e auto-estima e menos comportamentos de risco. Já um estilo permissivo, cuja relação baseia-se em baixo controlo e elevada aceitação (dando total liberdade à criança), causará dificuldades de auto-regulação, problemas com os pares e desajustamento social.

Tem sido questionada a importância das regras com algum receio dos pais se tornarem autoritários ou então, pelo contrário, acharem que as crianças devem ter total liberdade dado que assim irão aprender a regular-se melhor. Aqui, como noutras situações relacionadas com a educação, deve imperar o bom senso. As crianças precisam de limites, mas isso não significa berrar ou bater para obter obediência. A violência, sob a forma verbal ou física é sempre o pior caminho, não ensina nada e só humilha. O outro extremo, deixar fazer tudo, também não é a solução.

De uma forma geral, as crianças gostam de previsibilidade, de saber com o que contam. As regras e rotinas dão-lhes isso e geram um sentimento de segurança. Há crianças que mais facilmente se adaptam às regras e às rotinas da família e dos meios que frequenta (infantário, escola), e há outras que precisam de mais directrizes ou de monitorização e consequências, sem isto significar que serão controladas pelos pais. Uma criança com temperamento difícil desafia, exige mais atenção e deixa os pais exaustos. Neste caso, os pais terão de se esforçar mais, ser mais pacientes e persistentes, promovendo rotinas, preparando as transições e encontrando actividades que a ajudem a controlar o seu elevado nível de energia.

Há um risco que se corre ao confundir conceitos e práticas que, não sendo autoritárias ou mal empregues, irão servir para guiar a criança para a competência desenvolvimental e emocional, como, por exemplo, os reforços, os elogios e o incentivo da expressão emocional. É fácil compreender que dependendo do seu estádio de desenvolvimento, nem todas as crianças são capazes de compreenderem sozinhas as consequências do seu comportamento ou aprenderem por si só a regularem emoções. Há momentos em que a expressão das suas emoções e das suas necessidades, através do seu comportamento, magoa os outros e, neste sentido, deve ser limitado. A criança tem todo direito a sentir-se frustrada porque não pode comer a bolacha dez minutos antes do jantar, deve poder expressar esta emoção, só não pode é magoar com pontapés de fúria quem está à sua volta. O papel dos pais é guiá-la para a regulação emocional, sendo que, algumas vezes devem ser eles próprios a fazer primeiro este exercício.

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