Miguel Honrado: “O ano de viragem da associação da Orquestra Metropolitana vai ser em 2022”

Deixou há pouco tempo a administração do CCB e instalou-se na casa da Orquestra Metropolitana de Lisboa, a AMEC, para gerir esta formação e as escolas que lhe estão associadas. Quer fazer de várias cidades portuguesas promotoras deste projecto e procurar parceiros no resto da Europa.

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Miguel Honrado chegou à AMEC há menos de um mês RG Rui Gaudencio

O gestor cultural Miguel Honrado, há menos de um mês à frente da Associação Música, Educação e Cultura (AMEC), que tutela a Orquestra Metropolitana de Lisboa, aposta num trabalho de continuidade, com horizonte fixado em 2022, “um ano de viragem”.

Em entrevista à agência Lusa, Miguel Honrado, que já foi secretário de Estado da Cultura (2016-2018) depois de presidir ao Teatro Nacional D. Maria II, afirmou que aceitou o convite para liderar a AMEC com “as maiores expectativas”, pela especificidade que representa no panorama cultural e educacional, e por ser uma referência nacional”.

A AMEC gere a Orquestra Metropolitana de Lisboa e, ainda, três escolas — a Academia Nacional Superior de Orquestra, o Conservatório de Música da Metropolitana e a Escola Profissional Metropolitana —, além das respectivas orquestras de alunos, como a Orquestra Académica, a de Sopros e a Clássica Metropolitana.

À frente da AMEC, Miguel Honrado pretende dar “uma sequência a todo o trabalho feito e acrescentar-lhe novas etapas de desenvolvimento”, nomeadamente o “alargamento da sua influência geográfica, que é um factor fundamental para a construção da sua identidade”.

O gestor cultural recordou que a AMEC, “que tem um carácter diferenciador pelo cruzamento entre as suas inúmeras capacidades pedagógicas e as artísticas”, celebra 30 anos em 2022.”Um horizonte que me apraz trabalhar desde já, e que pode ser uma viragem do próprio projecto”, disse à Lusa.

Esta “viragem” deve ser entendida no sentido de “uma consolidação financeira” da AMEC, ainda “com fragilidades”, não sendo alheia a vontade de, até lá, recuperar o edifício onde a associação está instalada, a antiga fábrica da Standard Elétrica, na Junqueira, em Lisboa, frente ao rio Tejo.

“Trata-se de um edifício classificado, da autoria de Cottinelli Telmo [1897-1948], pelo que tem de ter cuidado”, mas que se pretende “mais funcional”, equacionando ainda a saída da Escola Luiz Vilas Boas, do Hot Clube de Portugal, que ali se encontra instalada, com carácter temporário, há 24 anos.

A saída da Escola do Hot Clube tem de ser pensada com a Câmara de Lisboa, um dos fundadores da AMEC, e com a maior contribuição financeira. No ano passado a participação da câmara lisboeta foi 1,1 milhões de euros. Na passada quinta-feira, a autarquia aprovou um aumento de 25 mil euros na contribuição anual.

Alargar influências

O director executivo defendeu a existência de um auditório-sede para a Orquestra, “que está sempre no horizonte, mas para o qual não estão ainda reunidas as necessárias condições”, embora a o projecto continue “sobre a mesa”.

Honrado referiu, por outro lado, a vontade de um “contínuo alargamento geográfico” da AMEC no âmbito da área metropolitana de Lisboa, coerente com a sua identidade”, e reconheceu haver condições para tal. Esta é uma questão que vai “começar a tratar-se desde já”.

Setúbal foi uma das autarquias citadas pelo director executivo: “Setúbal é um dos promotores com o qual temos tido uma relação mais profícua, estável e passível de desenvolvimento futuro.” O responsável referiu também os bons resultados já alcançados com as diversas actuações das orquestras da AMEC naquela cidade, “que se tem desenvolvido muito culturalmente nos últimos anos”.

Além de Setúbal, entre os promotores a considerar estão Caldas da Rainha, Lourinhã e Montijo.

Referindo-se à gestão do seu antecessor, António Mega Ferreira, Miguel Honrado qualificou-a como “corajosa” e “fundamental para a estabilização” da associação. “Há estabilidade necessária, que constitui uma base sólida para prosseguir o alargamento e o desenvolvimento do projeto AMEC”, declarou.

Quanto à internacionalização da Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML), Honrado considerou-a “fundamental” e defendeu “uma irradiação maior para os países de expressão portuguesa”, sem deixar de trabalhar mais na Europa. “Estou a pensar designadamente em relações de parceria e colaboração que podem ser estabelecidas quer por via artística, quer por via pedagógica com entidades congéneres europeias ou que desenvolvam actividade dentro de linhas de missão idênticas ou confinantes com a Missão da AMEC/Metropolitana. Este trabalho em rede pode ser candidato a financiamento comunitário como o que decorre, por exemplo, do Programa Cultura, gerido pela Comissão Europeia. Não obstante, existem ainda outros programas, na dimensão educacional e pedagógica, também de gestão comunitária, que podem ser analisados e eventualmente explorados sob a mesma perspectiva”, esclareceu.

À procura de mecenas

No ano passado, as diferentes entidades que a AMEC tutela realizaram 500 actividades às quais assistiram 90.000 espectadores, disse Miguel Honrado. Encontrar “um mecenas global” é outro dos seus objectivos, depois de a instituição ter perdido o seu, a Caixa Geral de Depósitos, em Dezembro de 2018.

Na vertente pedagógica, Miguel Honrado salientou “a excelência do ensino”, que se reflecte “numa elevada taxa de empregabilidade”, com “muitos alunos a encontrarem lugares em orquestras estrangeiras”. Actualmente, a AMEC lecciona do 7.º ano ao 12.º ano de escolaridade, tendo 350 alunos.

Questionado sobre a manutenção da equipa, nomeadamente o actual director artístico, o maestro e compositor Pedro Amaral, e a direcção pedagógica, Honrado disse que, no sector pedagógico, “há actualmente uma equipa interina que dará tempo a escolher uma nova direcção”, já que o anterior responsável, Nuno Bettencourt Mendes, aceitou um convite para trabalhar no estrangeiro.

Quanto a Pedro Amaral, salientou que “foi fundamental nos últimos oito anos para elevar o nível artístico que a OML alcançou”. Amaral, 48 anos, é director artístico da AMEC desde 2013 e maestro titular da OML desde 2018.

A autonomia do programador “é um princípio fundamental para qualquer instituição cultural”, declarou Miguel Honrado, defendendo um “trabalho de equipa” com o director artístico. “Vou trabalhar com o maestro Pedro Amaral.”

Miguel Honrado, ex-administrador do Centro Cultural de Belém, que dirigiu o Teatro Viriato, em Viseu, a empresa municipal de cultura, EGEAC, e o Teatro Nacional D. Maria II, antes de assumir a pasta de secretário de Estado da Cultura, sucedeu a António Mega Ferreira, que desempenhou funções à frente da AMEC entre 2013 e 2019 e cessou o mandato a seu pedido.

Além da Câmara de Lisboa, são “associados fundadores” da AMEC diferentes departamentos governamentais (Cultura, Educação, Solidariedade Social, Juventude) e o Turismo de Portugal.

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