Morreu o chefe do Exército Ahmed Gaed Salah, líder de facto da Argélia

Mantêm-se protestos a exigir o fim do sistema associado ao antigo Presidente, Bouteflika, e da influência dos militares na vida do Estado.

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Ahmed Gaed Salah deu o passo decisivo para o afastamento de Bouteflika MOHAMED MESSARA/EPA

Morreu Ahmed Gaed Salah, o chefe militar que de facto era quem mandava na Argélia: foi uma figura-chave na decisão de afastar Abdelaziz Bouteflika, que fora Presidente décadas e já não falava em público há anos. O chefe militar tem sido a face do regime, falando ao movimento de protesto que começou por pedir o afastamento de Bouteflika, mas que não parou, nem mesmo com a eleição de um novo presidente, Abdelmadjid Tebboune.

"A Argélia tem um presidente, mas só tem um chefe verdadeiro, e não é Abdelmadjid Tebboune, eleito a 12 de Dezembro num escrutínio contestado”, escrevia o jornal francês Le Monde. “O único dirigente da Argélia chama-se Ahmed Gaed Salah.”  

A morte do general de 79 anos acontece quando a crise na Argélia se aprofunda, com os protestos, que começaram já em Fevereiro, a manter-se, apesar da eleição do novo Presidente, e o regime a enfrentar uma escolha sobre o que fazer, como diz a analista do centro de estudos Carnegie em Beirute Dalia Ghanem: continuar o curso actual e ignorar os manifestantes, esperando que se cansem, usar força para reprimir os protestos, ou, pelo contrário, começar uma negociação com o movimento.

O desaparecimento de Salah poderá não significar necessariamente mudanças no rumo, diz a Reuters. O general tem muitos potenciais sucessores no Exército, que se tem mantido unido em relação à reacção aos protestos. O seu lugar vai ser para já ocupado interinamente por Said Chengriha, chefe de um dos ramos das Forças Armadas.

Reagindo à notícia, a analista Dalia Ghanem deixa perguntas: “O que quer isto dizer para a liderança militar e civil? O que se segue?” e fala de “choque” entre os argelinos com quem falou. A analista deixa, no entanto, uma mensagem ao movimento de protesto, que, em sua opinião, “deve aproveitar esta nova situação para pressionar”. 

Foi Salah quem deu o passo decisivo para a saída de cena de Bouteflika: este afastou-se pouco depois de num discurso televisivo de Salah a defender a saída do Presidente veterano (ou “Presidente-múmia”, segundo os manifestantes, que lhe chamavam assim por não ser visto a falar em público há mais de cinco anos e continuar no cargo).

Os militares apoiaram uma série de prisões entre aliados de Bouteflika e empresários numa campanha contra a corrupção que foi vista como uma purga dentro do sistema, que sempre foi caracterizado como tendo um equilíbrio muito difícil entre os vários sectores de apoio a Bouteflika, dos militares aos empresários.

Se fosse necessário mais uma prova do seu poder, na tomada de posse de Abdelmadjid TebbouneSalah esteve presente e foi homenageado com a atribuição de uma ordem de mérito. 

Os manifestantes continuam, no entanto, a pedir o afastamento dos militares do Governo do país. “Um Estado civil, não militar” é uma das palavras de ordem que continuam a ser gritadas nas ruas. 

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