Chefe do exército argelino quer julgamento da elite “corrupta” do país

General Gaid Salah garante que o exército defenderá as exigências dos manifestantes contra “o gang” que domina o país. Dez novos partidos foram legalizados.

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O chefe do Exército argelino, general Gaid Salah Reuters/HANDOUT

“O exército atenderá as exigências das pessoas”, afirmou esta quarta-feira o chefe do Exército argelino, o general Gaid Salah, em declarações transmitidas pela televisão pública da Argélia, citadas pela Reuters, referindo-se aos manifestantes nas ruas que pedem o julgamento da elite corrupta que domina o país há décadas.

“O judiciário recuperou a sua prerrogativa e pode actuar livremente”, referiu a mais alta figura militar argelina, num discurso perante oficiais e soldados numa base militar. Uma afirmação importante tendo em conta o poder que os militares detêm na Argélia e um sinal de que pretendem liderar a transição, depois de semanas de protestos que levaram à demissão do Presidente Abdelaziz Bouteflika, ao fim de 20 anos de poder.

No discurso, o general Salah apelidou a elite política de corrupta de “o gang”, termo comummente usado nos protestos para definir o círculo mais próximo de Bouteflika, com o seu irmão, Said, à cabeça.

Ao mesmo tempo, pediu ao poder judicial que reabra o caso contra a empresa de petróleo e gás Sonatrach, cujos líderes são acusados de desviarem dinheiro público para fins próprios. A empresa, controlada por leais a Bouteflika, esteve envolvida numa série de escândalos em 2012, que levaram à prisão do seu director executivo e de outros altos quadros.

Salah defendeu, no discurso, o poder interino do país, nomeadamente Abdelkader Bensalah, líder do Conselho Nacional que na terça-feira foi nomeado Presidente interino, com a incumbência de organizar eleições no espaço de 90 dias.

“É irracional gerir a o período de transição sem instituições que organizem e dirijam a operação”, referiu o líder do exército.

A pensar nas próximas eleições, o Ministério do Interior já autorizou dez novos partidos políticos, de acordo com a informação avançada esta quarta-feira pela Ennahar TV. O Governo de transição quer assim dar um sinal de mudança, para tentar travar os manifestantes que continuam a exigir nas ruas reformas democráticas e pluralismo político.

Jornalista da AFP expulso

Entretanto, o chefe da delegação da agência de notícias francesa AFP foi expulso da Argélia, depois do prolongamento do seu visto ter sido negado pelas autoridades argelinas. Aymeric Vincenot, que chefiava a delegação em Argel desde 2017, regressou a Paris na terça-feira.

O director executivo da agência, Fabrice Fries, considerou a decisão “inaceitável” e decidiu não nomear outro jornalista para o cargo. “Nestas condições, está fora de questão nomearmos outro chefe para Argel”, afirmou em comunicado.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros francês já “lamentou a decisão”, sublinhando a importância da “liberdade de imprensa e a protecção dos jornalistas”, referiu um porta-voz do Quai d’Orsay numa mensagem de email, citada pela AFP.

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