Israelitas vão voltar às urnas pela terceira vez num ano

Os deputados votaram a favor da dissolução do Knesset e convocaram eleições antecipadas para 2 de Março de 2020, com a política numa situação de impasse e o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção e fraude.

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Benjamin Netanyahu vê-se cada vez contestado e pressionado para abandonar posições de poder Reuters/RONEN ZVULUN

Israel terá eleições legislativas a 2 de Março de 2020, as terceiras em apenas um ano. Uma maioria de 96 deputados votou a favor da dissolução do Knesset e convocação de eleições depois de o prazo para a formação de Governo ter sido ultrapassado à meia-noite desta quarta-feira. 

O primeiro-ministro e líder do Likud, Benjamin Netanyahu, e o líder do partido Azul e Branco, Benny Gantz, não chegaram a acordo sobre a formação de uma coligação governamental e nenhum tinha o apoio parlamentar necessário para formar Governo. Falhadas as negociações, os dois líderes entraram num jogo de culpas polarizando ainda mais a política israelita, diz o Times of Israel

Os 55 deputados do Likud com o bloco ortodoxo não chegavam para ter a maioria num Parlamento de 120 lugares e os 35 lugares do partido Azul e Branco impediam Gantz de formar Governo sozinho num sistema político em que as coligações são a regra. E, pelo meio, o líder do Yisrael Beiteinu, Avigdor Lieberman, recusou apoiar com os seus oito deputados um executivo liderado tanto por Netanyahu como por Gantz. 

Os deputados israelitas tiveram a oportunidade, nos últimos 21 dias, de nomear um deputado encarregue de formar executivo se este recolhesse 61 assinaturas no Parlamento com 120 assentos, mas nenhum candidato foi nomeado. Preferiram aguardar que o prazo para a formação de Governo terminasse e, depois, 96 votaram uma resolução que estipulava a dissolução do Knesset e convocação de eleições, com sete eleitos a oporem-se. 

As eleições em Abril ficaram na História de Israel por serem as primeiras incapazes de dar origem a um executivo, apesar de Netanyahu ter ficado a um voto da maioria. O líder do Likud entrou em negociações com Gantz e meses de impasse obrigaram a eleições em Setembro. Os resultados eleitorais foram semelhantes aos das anteriores e o impasse manteve-se

Há anos que Netanyahu domina a política israelita, mas, agora, vê-se cada vez mais fragilizado e pressionado para abandonar posições de poder. É acusado de corrupção, fraude e abuso de confiança em três processos judiciais, a primeira vez que um primeiro-ministro israelita enfrenta acusações formais na História do país, e vê a sua liderança do Likud contestada por Gideon Sa’ar, deputado do partido. 

“Só há uma maneira de salvar o país, tirá-lo da crise, e assegurar que o Likud continua no poder – e é ter primárias já, nestes 21 dias”, para ainda conseguir a votação do candidato a primeiro-ministro no Parlamento, disse Sa'ar. 

Gantz fez uma última tentativa para ultrapassar o impasse propondo ao seu rival e primeiro-ministro a formação de um governo de unidade em que Netanyahu assumiria a chefia apenas na segunda metade do mandato se for absolvido. 

Mas Netanyahu recusa ter cometido qualquer ilegalidade e que os três processos em que é acusado influenciem as suas opções políticas. O líder do Likud optou por uma estratégia de contra-ataque ao acusar o sistema judicial de levar a cabo um “golpe” para o afastar do poder e de que há interesses estrangeiros em jogo que gostariam de ver um Governo israelita enfraquecido. 

A oposição contesta a narrativa e acusa-o de fragilizar o Estado de Direito ao apresentar-se como vítima de uma conspiração do “Estado profundo”  argumento também usado por um dos seus grandes aliados na política externa, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no processo de impeachment

Nada garante que as eleições de Março produzam resultados eleitorais que permitam ultrapassar o impasse, diz o Times of Israel. Uma sondagem publicada esta terça-feira, citada pelo jornal israeltia, mostra que o partido Azul e Branco tem capitalizado a crise de credibilidade em que Netanyahu se vê: aumentou a margem de avanço face ao Likud de um para quatro assentos parlamentares. 

Gantz conseguiria eleger 37 deputados, enquanto Netanyahu se ficaria pelos 33 num Parlamento com 120 eleitos. Caso a sondagem se confirme nas urnas, ambos terão de regressar à mesa das negociações para formar uma coligação que lhes permita governar. 

A sondagem aponta ainda para o risco de o Likud continuar a cair nas sondagens caso Netanyahu venças as primárias para a liderença  a crise de credibilidade seria transmitida do político para o partido. Uma crise de imagem que a sondagem veio reforçar, pois, quando questionados sobre o culpado pelas terceiras eleições, 41% dos inquiridos apontaram o dedo a Netanyahu, 26% a Liberman e apenas 5% a Gantz. Outros 23% responderam que “são todos igualmente responsáveis”. 

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