O que queremos e o que temos de pagar

De uma vez por todas, o país tem de deixar de se focar apenas em direitos, em serviços de saúde do primeiro mundo ou em salários médios à escala europeia para se preocupar também na forma como se pode criar uma economia capaz de sustentar isso tudo.

O ministro Pedro Nuno Santos quer um comboio projectado e construído em Portugal e o secretário de Estado João Galamba quer que se erga uma refinaria para reter as eventuais mais-valias associadas à exploração de lítio. A coincidência de posições em torno da defesa de valor acrescentado para a economia portuguesa por parte de cada um pode ser um sinal dos tempos: o Governo está empenhado como não esteve na legislatura anterior em criar riqueza. E é, também, um sinal de ambição sobre a exploração dos recursos endógenos que, em tese, é muito difícil de contestar. De uma vez por todas, o país tem de deixar de se focar apenas em direitos, em serviços de saúde do primeiro mundo ou em salários médios à escala europeia para se preocupar também na forma como se pode criar uma economia capaz de sustentar isso tudo.

Para lá chegar, é cada vez mais consensual que a aposta no conhecimento para crescer é o melhor caminho. A ambição de fazer comboios integra-se nessa ideia. Na Faculdade de Engenharia do Porto há ciência para desencadear a aposta, há empresas na vanguarda da energia como a Efacec ou indústrias metalomecânicas capazes de, pelo menos, ousar um projecto. Faz, por isso, todo o sentido que o Estado actue como instigador e organizador de uma iniciativa dessa natureza através da CP. Mesmo que, a meio, o projecto borregue, ter-se-á sempre ganho mais do que ficando parado.

Mas se o caminho que envolve a inteligência e o conhecimento é o principal caminho, o país não pode desistir de explorar os parcos recursos naturais que tem. Se, como se suspeita, Portugal for um dos países da Europa com maiores reservas de lítio no seu subsolo só por negligência ou falta de nervo pode desistir de as explorar, como já aqui defendemos. Não o pode fazer seguindo a regra do vale tudo, claro. Vai ser necessário que todos sejamos capazes de perceber que os custos ambientais são mitigáveis, que as populações das zonas mineiras vão ser beneficiadas e que o país é capaz de acrescentar valor ao lítio através da refinação. Os desafios são imensos. Mas as oportunidades também.

O que é disparatado é querer parar a exploração nesta fase do processo. Se mais tarde a riqueza obtida não justificar os danos ambientais, as autoridades terão de o fazer. Até lá, não há alternativa senão avançar. Porque a opção é clara: o país não é um oásis de riquezas imensas e a nossa débil economia é incapaz de pagar os salários e os serviços públicos que todos natural e legitimamente reivindicamos.

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