Lítio na eira e chuva no nabal

Nas duas questões ambientais que mais têm agitado consciências nos últimos tempos é grande o desfasamento entre aquilo que somos e as exigências que achamos razoável fazer

Vale a pena iniciar esta conversa por lembrar que Portugal é a 49ª economia do mundo e que figura em 43º lugar no ranking da ONU para o Desenvolvimento Humano. Quer isto dizer que não somos dos mais desgraçados, mas que somos um país remediado, cujo fabuloso clima e o nível recorde de segurança não nos devem fazer esquecer as nossas debilidades.

Começar por evocar a nossa condição económica para discutir questões ambientais pode parecer excesso de pragmatismo, mesmo cinismo, mas nas duas questões ambientais que mais têm agitado consciências nos últimos tempos – olival intensivo e exploração de lítio – é grande o desfasamento entre aquilo que somos e as exigências que achamos razoável fazer.

O caso do olival intensivo é talvez o mais claro deste desequilíbrio. O país esperou durante décadas que o investimento de cerca de 5 mil milhões no Alqueva começasse a dar frutos e eles surgiram na multiplicação desse pequenino “fruto-maravilha”, a azeitona, que, graças ao olival intensivo, viu a produção crescer de tal forma que transformou um país deficitário em azeite num país auto-suficiente.

Mas multiplicam-se as vozes a atacar estas explorações por considerarem que trazem graves problemas ambientais. Só que se no topo das objecções está “a mudança brusca de paisagem”, a justiça das críticas não medra. Imaginem que a Região dos Vinhos Verdes tinha ficado pela defesa da beleza das videiras em ramada e ainda hoje o sucesso exportador dessa região seria uma miragem.

No capítulo do “como era bom ter energia eólica sem ventoinhas” também andam enredados os ambientalistas e o lítio, a outra causa da actualidade. É evidente que os problemas do impacto das explorações mineiras são muito mais acutilantes do que os dos olivais intensivos. Mas também é muito claro que não se pode, sem imolar a coerência, andar a defender uma política de energias limpas e depois tentar tornar impossível a extracção dos meios necessários para a obtermos.

Quer isto dizer que entre as nossas debilidades naturais e as necessidades universais de desenvolvimento não sobra espaço para defesa das condições ambientais? De maneira nenhuma, e é bom que a as populações e os seus representantes desconfiem da capacidade do poder central em defender a sua qualidade ambiental. O que não é razoável é partir para a necessária defesa de exigência ambiental com a ideia de que a melhor solução é nunca haver olival intensivo ou explorações de lítio. Compromisso é preciso, não desperdiçar oportunidades de desenvolvimento continua a ser imperioso.

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