O “diabo” a bater à porta da campanha eleitoral

O “diabo” que Passos Coelho profetizou muito antes do tempo começa a andar por aí e só há duas formas de o enfrentar: ou se lê a realidade com os olhos do Presidente ou assobia-se para o lado acreditando que os passos dados na banca ou no défice chegam para criar imunidade ao contágio.

O Presidente da República promulgou esta segunda-feira as alterações ao Código do Trabalho e se esta iniciativa não é surpreendente, se a maioria dos argumentos com que fundamenta a sua decisão não são novidade, há uma razão invocada por Marcelo para assinar as mudanças que merece atenção e cuidado. “Os sinais que se esboçam de desaceleração económica internacional e sua virtual repercussão no emprego em Portugal”, nota o Presidente.

O que é ao mesmo tempo uma constatação e um receio: que a recessão mundial parece hoje uma fatalidade; e que Portugal não se pode dar ao luxo de se considerar a salvo das suas consequências – “nomeadamente no primeiro emprego e nos desempregados de longa duração”, alerta a nota Presidencial.

A história da economia faz-se de ciclos e estava escrito nas estrelas que após a bonança dos últimos cinco anos tarde ou cedo chegaria a borrasca. Factores para garantir o padrão cíclico não faltam.

O avanço da extrema-direita nacionalista assusta. Trump e Jinping continuam a trocar ameaças e promessas de retaliação em torno da guerra comercial. O Brasil governado por um homem que reduz a política a conversas de tasca ajuda. Os pesadelos da História reabrem feridas antigas entre a Coreia e o Japão. A realidade é o que é e Wall Street antecipa a recessão. O Bundesbank alerta para a iminência de um segundo trimestre consecutivo de crescimento negativo e o Governo, num monumento à hipocrisia política, estuda a possibilidade de mudar a Constituição para poder fazer o que antes não deixou fazer na Europa aflita – o aumento da despesa para aquecer a economia.

Os dados da economia portuguesa para o segundo trimestre ainda não reflectem a onda negativa que assola o mundo e o Ministério das Finanças pode ainda dizer que “a economia portuguesa tem hoje bases sólidas para enfrentar um contexto externo pautado pela acumulação de riscos”. Mas o certo é que o “diabo” que Passos Coelho profetizou muito antes do tempo começa a andar por aí e só há duas formas de o enfrentar: ou se lê a realidade com os olhos do Presidente e o país começa a antecipar os danos da recessão que tarde ou cedo há-de chegar, ou assobia-se para o lado acreditando que os passos dados na banca ou no controlo do défice chegam para criar imunidade ao contágio. A campanha eleitoral que se aproxima será um bom momento para se perceber qual destas atitudes prevalecerá. 

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