Sem arrependimentos, há amor em fim de festa que não desfaz pontes para futuro

Costa falou mais para PCP e BE do que para a direita. Não se enervou, mas travou. Não foi agressivo, mas foi assertivo, sobretudo nas respostas a Catarina Martins.

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Já o debate do estado da nação tinha terminado quando António Costa entrou na sala do grupo parlamentar do PCP. No corredor corriam especulações e comentários, até porque Costa falou, outra vez, num tom mais tranquilo com Jerónimo de Sousa do que com Catarina Martins. O primeiro-ministro saiu a rir-se, não houve política dentro daquelas quatro paredes, apenas uma saudação porque o secretário-geral do PCP já não estava no hemiciclo quando o primeiro-ministro foi cumprimentar uma a uma as bancadas parlamentares.

O tratamento especial de cumprimento ao PCP foi o espelho do que aconteceu no último debate da legislatura que começou, aliás, com uma conversa telefónica, já feita no hemiciclo, entre os dois líderes, notou o Observador. Afinal, o debate do estado da nação foi também um debate sobre o estado da solução governativa entre os quatro partidos mais à esquerda. O tom foi de fim de festa, com uns arrufos mais sentidos entre António Costa e Catarina Martins que, apesar de denotarem desagrado entre os dois lados, não desfizeram pontes para o pós-eleições de Outubro.

Aliás, a temperatura entre os três partidos e o PS baixou de maneira considerável neste debate, com António Costa – e depois Mário Centeno – a agradecer o compromisso entre todos. Fê-lo no início do debate e no final, quando saudou BE, PCP e PEV por terem “ousado derrubar um muro anacrónico” e por terem feito parte da alternativa. Centeno, o homem com quem a esquerda mais se debateu, mas também com quem mais negociou, deixaria o apreço que faltava: “Agradeço em nome do Governo a todos os que construíram o seu suporte parlamentar, diariamente, ao longo de toda a legislatura. A todos o nosso obrigado. Valeu a pena por Portugal”. 

Mas, tal como Costa disse que aconteceu no país, também “nem tudo foi o oásis” ou “cor-de-rosa” na relação entre todos neste debate​. O primeiro-ministro insurgiu-se contra parte da intervenção de Catarina Martins. A bloquista começou por elogiar os acordos entre os partidos: “O desespero da direita mostra bem o acerto dessa decisão”. O “BE voltaria a assinar” o acordo. No entanto, a líder bloquista salientou várias medidas que não teriam sido possíveis sem o acordo com o BE e o tom não agradou a Costa que considerou que o discurso da bloquista era até “injusto” para os restantes partidos, incluindo o PS, porque para o BE “tudo o que é bom é por causa do BE, tudo o que é mau é culpa dos outros”. Mais tarde referiria: “A vida não começa e acaba no acordo com o BE”.

Apesar das palavras duras, o tom não foi agressivo e Costa até fez questão de referir à bloquista que, se estivesse em 2015, “voltaria a assinar os acordos. Não estando em 2015, voltaria a tomar a mesma decisão. Os resultados são bons”.

As pontes, que Carlos César abanara há 15 dias quando atacou de forma violenta o BE, mantêm-se de pé, mesmo que com fissuras na estrutura. Não houve problemas de maior no debate nem ataques cerrados na troca de palavras à esquerda. Heloísa Apolónia (PEV) apenas faria uma crítica no fim da sua intervenção, dizendo que “é possível fazer muito mais" e que houve coisas que o PS “não deveria ter feito”. E Jerónimo de Sousa limitou-se a criticar as “recusas do PS às soluções propostas pelo PCP”. E foi só.

À direita não houve muito diálogo com Costa. Assunção Cristas foi a única líder a falar, já que Rui Rio não é deputado, mas também o fez apenas no painel das intervenções, quando não há debate com António Costa. A líder centrista apareceu vestida de cor-de-rosa e não provocou grandes sobressaltos no hemiciclo, nem sequer um protesto. Falou mais do que o partido quer do que o que o Governo fez de mal, seguindo a estratégia em que apostou, mais conciliadora do que agressiva, depois do resultado das eleições europeias.

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