Altice ataca credibilidade de estudo “oco” sobre SIRESP e faz queixa ao Ministério Público

Empresa diz que foram reveladas informações que comprometem a segurança do SIRESP e “até mesmo do país”. Presidente do grupo de trabalho diz que não compreende ataque da Altice e que se trata de uma “questão formal sem importância”.

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Alexandre Fonseca, presidente da Altice Portugal, foi sempre bastante crítico do relatório daniel rocha

Desde o primeiro momento que a Altice Portugal montou um ataque cerrado às conclusões do relatório do grupo de trabalho sobre a rede de emergência nacional, o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP), reveladas pelo PÚBLICO. Agora promete ir mais longe e vai apresentar queixa ao Ministério Público contra os autores do estudo. O presidente do grupo de trabalho, Carlos Salema, desvaloriza as críticas em declarações ao PÚBLICO.

O documento que está a reabrir a contenda entre a Altice e o Governo propõe ao executivo que abandone o actual sistema de rede de emergência nacional e o substitua por um menos dependente dos fornecedores privados. Logo no dia em que saiu a notícia do PÚBLICO dando conta das conclusões do grupo de trabalho, Alexandre Fonseca, CEO da Altice Portugal considerou que o documento revelava um “profundo desconhecimento” da realidade do país. Esta terça-feira a empresa voltou ao assunto e fez saber que vai fazer queixa ao Ministério Público contra os autores do grupo de trabalho constituído a pedido do Governo.

Para a empresa, tanto o documento como as palavras do presidente do grupo de trabalho, Carlos Salema, presidente do Instituto de Telecomunicações e presidente da Academia das Ciências, são declarações “gravosas e indecorosas, infundadas e ilegítimas que põem em causa o bom nome e o prestígio da empresa”. Trata-se de um “relatório oco, sem substância, com falhas técnicas, omissões e erros gravíssimos de carácter operacional, que revela uma enorme falta de qualidade e conhecimento específico sobre a matéria”, lê-se num comunicado da empresa enviado às redacções.

Além disso, escreve a Altice, foram revelados “dados sensíveis e de carácter confidencial” que são “temas que não se discutem na praça pública, uma vez que põem em causa a segurança desta rede e, até mesmo, do país”. 

Questionado sobre estas críticas, Carlos Salema desvaloriza e lembra que “morreram mais de cem pessoas”, defendendo que por isso se deve dar atenção a este assunto. 

A Altice ataca ainda o estudo pela sua autoria. Diz a empresa que houve uma “usurpação” da identidade e que o documento foi apresentado de forma “ilegítima” pelos seus autores, uma vez que estes foram nomeados de forma individual e o relatório foi apresentado como sendo do Instituto de Telecomunicações (IT).

No final de Maio, o ministro da Administração Interna referiu-se ao estudo como sendo de uma entidade independente ligada ao IT, contudo, no documento, a folha de rosto tem o logótipo daquele instituto e das suas entidades parceiras, entre elas a Altice Lab. O PÚBLICO atribuiu, por isso, na sua primeira notícia, a autoria do documento a um grupo de trabalho do IT, em declarações à TSF, o presidente da Universidade de Aveiro, entidade da qual o IT faz parte, referiu que o documento era dos investigadores, mas a título individual.

“Formalmente, o IT não tem nada a ver com isto, as pessoas foram indicadas a nível individual” e “não receberam um tostão”, explica Salema em respostas ao PÚBLICO. Contudo, uma vez que três dos membros “eram investigadores do IT”, o “apoio logístico” foi dado por aquela entidade. Por isso, quando foi necessário encadernar o relatório, acabou por ser feito no IT e, por erro, saiu com a capa do instituto, com os logótipos dos parceiros. “É uma questão formal sem qualquer importância”, diz.

Além disso, a Altice considera que este relatório foi feito por “alegados especialistas que, não tendo capacidade de fazer eco das suas declarações, usam a imagem do IT e dos seus parceiros, apenas para aplicar a sua posição pessoal e projecção mediática”. Carlos Salema responde com o currículo dos técnicos na área e com o facto de estes terem sido nomeados quer pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas quer pelo Conselho Coordenador dos Politécnicos.

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