Líderes mundiais homenageiam os que combateram nos “fogos do inferno” do Dia D

Emmanuel Macron, Donald Trump e Theresa May estiveram nas cerimónias e homenagens aos soldados que lutaram e perderam a vida na operação de desembarque na Normandia, na Segunda Guerra Mundial.

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Macron, Trump e respectivas mulheres assistem a uma exibição aérea EPA/IAN LANGSDON / POOL
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Donald Trump entre veteranos da II Guerra Reuters/CHRISTIAN HARTMANN
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Emmanuel Macron e Donald Trump discursaram no cemitério americano perto de Omaha Beach EPA/THIBAULT VANDERMERSCH
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Cruz nas areias de Arromanche, em memória dos soldados caídos nas praias da Normandia EPA/SAC Amy Lupton RAF /BRITISH MINISTRY OF DEFENCE/HANDOUT,EPA/SAC Amy Lupton RAF /BRITISH MINISTRY OF DEFENCE/HANDOUT
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Veterano num cemitério de guerra na Normandia EPA/NEIL HALL
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Theresa May conversou com soldados que participaram no desembarque Reuters/POOL New
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Theresa May e Emmanuel Macron celebraram juntos aniversário do Dia D EPA/BEN SHREAD /BRITISH MINISTRY OF DEFENCE/HANDOUT

“A França nunca esquecerá” o sacrifício feito pelas tropas aliadas que a libertaram da Alemanha nazi, assegurou o Presidente Emmanuel Macron, esta quinta-feira, dia que marca o 75.º aniversário do Dia D e da operação militar que lançou a Segunda Guerra Mundial para o seu fim.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a primeira-ministra britânica, Theresa May, juntaram-se a Macron em cerimónias distintas, ao longo dos 80 km da costa da Normandia, onde mais de 150 mil soldados desembarcaram no dia 6 de Junho de 1944, sob fogo alemão.

“Sabemos o quanto devemos a vocês, os nossos veteranos: a nossa liberdade. Em nome do meu país, quero agradecer”, disse Macron a várias dezenas de combatentes norte-americanos do Dia D, no cemitério de guerra com vista para a Omaha Beach, um dos cinco locais de desembarque na Normandia. 

Macron concedeu a Legião de Honra – a mais elevada distinção de mérito em França – a cinco veteranos norte-americanos e abraçou calorosamente cada um deles.

O desembarque na Normandia levou meses a ser planeado e foi mantido em segredo de Hitler e das suas forças, apesar da mobilização transatlântica gigantesca de material e de soldados.

Cobertos pela escuridão, milhares de pára-quedistas aliados lançaram-se para trás das linhas de defesa costeira dos alemães. Depois, à medida que a sol nascia, navios de guerra atacaram as posições alemãs, antes de centenas de embarcações despejarem na praia as tropas de infantaria, por entre disparos de metralhadoras e artilharia. 

Alguns veteranos contam que, durante a operação, o mar e a areia ficaram vermelhos de tanto sangue derramado. Dezenas de soldados norte-americanos foram abatidos por metralhadoras alemãs enquanto escalavam as falésias entre Omaha Beach e Colleville-sur-Mer, onde se encontra o cemitério dos EUA.

“Vocês estão entre os maiores americanos que alguma vez viverão”, disse Trump, no seu discurso, virando-se para os veteranos sobreviventes. “São o orgulho da nossa nação, a glória da nossa república e agradecemos-vos no fundo dos nossos corações”.

“Estes homens avançaram pelo meio dos fogos do inferno”, continuou o Presidente. “Vieram até aqui e resgataram a liberdade, e depois regressaram a casa para nos mostrar o que é a liberdade”.

E a assistência aplaudiu quando um dos veteranos, o soldado Russell Pickett, de 94 anos, se levantou tremulamente do lugar. “É um tipo duro”, disse Trump antes de Macron ajudar Pickett a sentar-se de novo na cadeira.

“Geração especial”

O desembarque na Normandia continua a ser a maior invasão anfíbia de sempre e abriu caminho para a libertação da Europa Ocidental.

Na inauguração de um memorial aos 22 mil soldados que, sob o comando britânico, foram mortos no dia 6 de Junho de 1944 e na subsequente batalha pela Normandia, a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, saudou a coragem dos soldados, muitos deles apenas rapazes, quando chegaram a terra enquanto as bombas assobiavam por cima das suas cabeças.

“É praticamente impossível compreender a coragem brutal que foi necessária naquele dia para saltar das embarcações para a zona de rebentação, no meio da fúria da batalha”, afirmou May a um pequeno grupo, que incluiu Macron e veteranos de uniformes repletos de medalhas.

“Estes jovens fazem parte de uma geração muito especial, cujo espírito incomparável moldou o nosso mundo pós-guerra”, disse a primeira-ministra britânica.

A devastação causada pelas duas Guerras Mundiais na primeira metade do século XX impulsionou a já longa era da cooperação entre as capitais europeias, determinadas em proteger a paz que tanto lhes custou a alcançar, e abriu caminho ao que é hoje a União Europeia.

Mas mesmo estando os britânicos a tentar romper os laços com o bloco, depois de quatro décadas de filiação, Macron garantiu a May que há laços entre a França e o Reino Unido que são indestrutíveis: “Ninguém nos conseguirá tirar os laços do derramamento de sangue e dos valores comuns. Os debates do presente não alteram em nada o passado”.

Vidas sacrificadas

Uma hora depois do nascer do sol, debaixo de um céu azul e limpo, e no que resta de um porto artificial, um flautista solitário interpretou a música Highland Laddie, para assinalar o momento em que o primeiro soldado britânico pôs um pé em solo francês. O porto de Mulberry foi construído para abastecer as tropas aliadas que empurravam os alemães para trás.

Jeeps de guerra e veículos anfíbios recuperados foram alinhados na praia em Arromanches e pelas vilas ao longo da costa normanda, com bandeiras do Reino Unido, Canadá e Estados Unidos – os que cederam mais homens à força aliada –, a esvoaçar ao vento.

As comemorações desenrolaram-se tendo com pano de fundo dois anos de diplomacia incisiva e de políticas America First de Trump e da sua Administração, que fizeram estremecer a NATO e testaram as suas relações com aliados históricos, incluindo Reino Unido e França.

Na véspera do aniversário, o Presidente francês evocou o espírito do Dia D, dizendo: “Estas forças aliadas que, juntas, nos libertaram do jugo alemão e da tirania, são as mesmas que, depois da II Guerra Mundial, permitiram a construção das actuais estruturas multilaterais. Não podemos repetir a História e devemos lembrar-nos do que foi construído com base na guerra”.

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