Polacos recusam juntar-se a bloco de direita radical de Salvini no Parlamento Europeu

Também o Partido do Brexit de Nigel Farage indicou que não se juntaria à aliança promovida pelo número dois do Governo italiano.

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Salvini com uma série de líderes cujos partidos esperava conseguir juntar numa aliança ALESSANDRO GAROFALO/Reuters

O vice-primeiro-ministro de Itália, Matteo Salvini, sofreu esta quarta-feira um golpe na sua tentativa de formar um poderoso grupo de partidos de direita radical e extrema-direita, com a recusa do Partido Lei e Justiça (PiS), o partido do Governo na Polónia, participar no grupo, assim como o Partido do Brexit, do britânico Nigel Farage.

O líder do PiS, Jaroslaw Kaczynski, explicou que a proximidade da Rússia de partidos como a Liga, de Salvini, da União Nacional de Marine Le Pen, ou da Alternativa para a Alemanha, eram um obstáculo intransponível para o seu partido.

Já Farage fez o anúncio sem dar qualquer razão. De qualquer modo, este está numa posição especial: o Reino Unido deverá sair da União Europeia até 31 de Outubro. Ainda assim, os deputados britânicos deverão juntar-se ao Parlamento Europeu em Julho e manter-se até à saída.

A Liga, de Salvini, foi um dos grandes vencedores das eleições europeias, e o italiano quis tentar onde outros falharam: na formação de um grupo poderoso dos partidos com orientação semelhante no espectro mais à direita, que até agora sempre falou por interesses contraditórios entre os vários partidos, cada um com as suas peculiaridades.

A proximidade da Rússia é uma das linhas de fractura: “No que toca ao Sr. Salvini, temos um problema porque ele quer criar um novo grupo com formações que não podemos aceitar”, disse Kaczynski. “Este é um grupo que tem a senhora Le Pen, e também a Alternativa para a Alemanha, isso é algo que não podemos aceitar sob nenhumas circunstâncias”, declarou.

O PiS obteve 26 dos 51 lugares de deputados destinados à Polónia no Parlamento Europeu. Defende valores católicos tradicionais polacos, e vê com apreensão o que classifica como “expansionismo russo” na Ucrânia, por exemplo. O partido deverá manter-se no grupo Conservadores e Reformistas Europeus (ECR).

Os partidos de direita radical acabaram, com a excepção de Salvini (e de Le Pen, que ganhou, embora por pouco, ao partido do Presidente, Emmanuel Macron), por ter resultados menos expressivos do que era antecipado, especialmente na Alemanha e na Holanda – onde o partido de Geert Wilders, que Salvini também queria juntar na sua aliança, não conseguiu eleger nem um eurodeputado.

Da Hungria, também o porta-voz do Fidesz disse que não via muitas hipóteses de cooperação a nível partidário ou de integração num grupo parlamentar. O Fidesz auto suspendeu-se do maior grupo europeu, o Grupo Popular Europeu. Os governos liderados pelo PiS e pelo Fidesz levaram a procedimentos para verificação do cumprimento das regras do Estado de Direito pela União Europeia. Na Hungria, Orbán deixou cair recentemente uma reforma judicial controversa.

O grupo da Europa das Nações e da Liberdade (ENL) no Parlamento cessante tem 34 deputados, depois de várias saídas de partidos e até cisões, e com os mesmos partidos de que o formavam terá 58 deputados, o que não chega perto das expectativas de Salvini, de um grupo com mais de cem deputados de dez países.

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