Esqueça a “geringonça”. Eis a coligação negativa e o Bloco Central

António Costa bem o disse na abertura do último congresso do PS, no ano passado, na Batalha: entre a esquerda e a direita, o PS “está onde sempre esteve”. A parte mais interessante desta frase é a primeira. Na semana em que os partidos de esquerda se digladiam em público por causa da revisão da Lei de Bases da Saúde (apesar de ser verdadeiramente pouco o que os afasta), são mais interessantes os dados novos que a semana nos traz sobre as coligações negativas e sobre a prova de vida dessa duradoura instituição, o Bloco Central. Vejamos:

  • Ontem, PCP, BE, CDS e PSD uniram-se todos e contra a vontade do PS aprovaram a recuperação integral do tempo de serviço dos professores — os nove anos, quatro meses e dois dias exigidos pelos sindicatos. É verdade que houve um volte face de última hora do PSD sobre a data em que deve entrar em vigor mas na verdade significa que se o PS ganhar as próximas legislativas pode ter que pagar mais aos professores sem recolher os louros disso, uma vez que foi o mau da fita neste filme.
  • Na segunda-feira, Governo e PSD (com o CDS) surpreenderam toda a gente ao apresentar já negociado nos bastidores e de forma absolutamente discreta um conjunto de alterações à Lei de Programação Militar. Nas áreas de soberania, aconteça o que acontecer, a navegação faz-se tranquila ao centro.
  • As alterações às leis laborais, que resultam de um acordo assinado em Junho do ano passado na concertação social entre Governo, UGT e patrões, aguardam aprovação em breve na Assembleia da República. Já se percebeu que perante a ausência de críticas dos patrões às propostas apresentadas entretanto pelo PS, o mais provável é o PSD abster-se na votação de modo a viabilizar todo o pacote.
  • Ontem, como se previa, PS e PSD uniram-se na restrição de direitos na lei de liberdade sindical da PSP, aprovando, entre outras medidas, quotas para a existência de sindicatos e limitando o gozo de folgas aos dirigentes sindicais. Desde o ano passado que este acordo andava a ser trabalhado, na sequência de uma primeiro projecto apresentado pela ex-ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.
  • No caso da lei de bases da Habitação que está também no Parlamento e que terá que ser votada até às férias de Verão, a porta ainda não está fechada a acordos com o PSD. Pelo meio, caiu a proposta de lei de bases de Helena Roseta, que tinha sido desafiada para isso pelo próprio Costa.

Em jeito de nota, acrescentaria ainda aquilo que, ontem em entrevista ao PÚBLICO/Renascença, o cabeça de lista do PSD ao Parlamento Europeu, Paulo Rangel, contou sobre a forma como António Costa pediu a sua ajuda “várias vezes”, como, por exemplo, durante o período da ameaça de sanções a Portugal por incumprimento do défice por parte da Comissão Europeia. Parecendo antecipar as acusações que Pedro Marques lhe faria no primeiro debate entre candidatos ao Parlamento Europeu na SIC, o candidato fez questão de revelar: “Devo dizer que o ministro Mário Centeno, quando foi daquela célebre questão das sanções, agradeceu-me expressamente o serviço que nós prestámos, e eu, nomeadamente, fi-lo com uma grande ajuda de González Pons, vice-presidente espanhol, na altura, junto de todos os comissários do PPE. (...)”, afirmou.

É caso para dizer: esqueça, por ora, a “geringonça”. Eis as coligações negativas e o Bloco Central.

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