Putin diz que Kim está pronto a desnuclearizar, só precisa de se sentir seguro

Cimeira em Vladivostok serve para Moscovo reforçar posição da Coreia do Norte face aos EUA,. Não faz qualquer concessão, mas espicaça Washington.

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Sergei Ilnitsky/REUTERS

Um aperto de mão, repetido várias vezes para os fotógrafos por dois dos rostos mais conhecidos do mundo, desta vez em Vladivostok, no extremo oriente da Rússia, e para a história fica o tom compreensivo de Vladimir Putin em relação aos anseios norte-coreanos. A Coreia do Norte está pronta a avançar para a desnuclearização, afirmou o Presidente russo depois de se reunir com Kim Jong-un, mas precisa de ter sérias garantias de segurança para o fazer. 

“É possível. Eles [os norte-coreanos] precisam de ter garantias sobre a sua segurança. É só isso. Temos de pensar em conjunto sobre isto”, disse Vladimir Putin após a cimeira com o seu congénere da Coreia do Norte, esta madrugada, citado pela Reuters. “Essas garantias têm de ser negociadas de forma internacional, de garantir a soberania norte-coreana e têm de ter carácter vinculativo”, sublinhou o Presidente russo. 

A desnuclearização da península coreana foi um dos temas fortes na agenda dos dois líderes, que se encontraram pela primeira vez. O líder norte-coreano chegou a Vladivostok ainda na ressaca do falhanço da cimeira de Hanói com Donald Trump, onde pretendia obter algum alívio nas sanções internacionais. A visita a Putin foi uma forma de Kim mostrar que não regressou ao isolamento dos seus primeiros anos no poder.

Para Vladimir Putin, receber Kim demonstra que a Rússia continua a ser um interlocutor diplomático válido na questão norte-coreana, apesar de não se manter a aliança dos tempos do regime comunista. Moscovo manteve no entanto vários laços com o regime dos Kim. Além de os dois países partilharem uma curta fronteira terrestre, há interesses económicos a ligar os dois países.

Embora as trocas comerciais sejam efectivamente muito reduzidas, a Rússia gostaria de obter concessões de exploração de minerais na Coreia do Norte e de ter autorização para construir um gasoduto transcoreano - se as sanções forem levantadas.

Esta madrugada, Vladimir Putin sublinhou que Moscovo e Washington partilham o interesse no desarmamento da Coreia do Norte. O Kremlin indicou que vai defender o regresso do modelo das conversações a seis sobre o programa nuclear de Pyongyang. “Estou certo de que esta é a chave do sucesso”, disse Putin, citado pela correspondente do jornal El País.

Este modelo foi posto de parte pelos Estados Unidos, ao verificar que a Coreia do Norte não estava a declarar as suas verdadeiras capacidades de armamento. E desagrada muito à Administração Trump, que tem pouca simpatia pelo multilateralismo. A ofensiva diplomática norte-americana de Donald Trump, no entanto, não parece estar no bom caminho, depois do fracasso da segunda cimeira de Kim e Trump em Hanói e de críticas constantes provenientes de Pyongyang.

O próprio Kim Jong-un dirigiu algumas palavras à imprensa. Disse ter viajado até à Rússia “porque o mundo está muito interessado na situação que se vive na península coreana” e quer “discutir assuntos de estabilidade estratégica e gestão conjunta da situação para o futuro, e desenvolver a troca de pontos de vista sobre a questão nuclear”, cita-o a Reuters.

No entanto, Moscovo não deu qualquer sinal de que pretenda descomprometer-se com as sanções internacionais impostas ao regime norte-coreano. Sem dar esse passo, o Kremlin só pode ajudar ajuda moral a Kim Jong-un, não algo de concreto. Putin faz uma exibição de boa vontade para com o líder da Coreia do Norte, num momento em que a aproximação tentada com Washington atingiu um ponto baixo.

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