Tudo em aberto nas eleições em Israel

Gantz foi o primeiro a reivindicar vitória, mas Netanyahu garante que foi o seu bloco a vencer.

Benny Gantz clamou vitória mas Netanyahu já teve resultados semelhantes no passado e acabou por vencer
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Benny Gantz clamou vitória mas Netanyahu já teve resultados semelhantes no passado e acabou por vencer Nir Elias/Reuters
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O discurso de vitória de Gantz pretendeu deixar a mensagem de que o escolhido para formar Governo deve ser o líder do partido que tiver mais votos ABIR SULTAN/EPA

As urnas fecharam e as sondagens à boca das urnas começaram a sair nas televisões israelitas e eram... diferentes. Uma previa um empate de 36 deputados entre o Likud do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e a Aliança Azul e Branca do seu rival, Benny Gantz; outra dava uma pequena vitória a Netanyahu, outra ainda previa uma vantagem a Benny Gantz. 

Quanto aos blocos que potencialmente podem formar governo, com a excepção de uma (que dava vantagem ao bloco mais à direita de Netanyahu), as restantes projecções davam um empate rigoroso de 60-60 no Parlamento (Knesset) de 120.

O jornalista do Ha’aretz Anshell Pfeffer, biógrafo de Netanyahu, notava que apesar de ser precisa cautela por causa dos “resultados muito díspares”, esta “não parece ser até agora uma grande noite para Bibi”, o diminutivo pelo qual o primeiro-ministro, no poder há dez anos seguidos, é conhecido. Em contraste, o partido de Gantz foi criado pouco antes das eleições, antecipadas por Netanyahu.

O ambiente nas sedes dos dois partidos parecia confirmar a tendência, com “euforia absoluta” na aliança Azul e Branca (segundo o Ha’aretz) e uma disposição sombria no Likud (segundo o Jerusalem Post).  

Mas a jornalista do Jerusalem Post Lahav Harkov sublinhava que “tanto em 1996 como em 2015 Netanyahu venceu quando parecia que não poderia pelas sondagens à boca das urnas – por uma pequena margem em 1996 e por uma grande margem em 2015.”

Não perdendo tempo, Benny Gantz foi o primeiro a reivindicar vitória. O antigo chefe do Exército sabe bem que é prematuro “e que as sondagens ainda podem virar”, diz Pfeffer. “Mas está a aproveitar enquanto pode”.

Passadas duas horas, ainda saindo resultados muito parciais, Gantz apareceu na sede para discursar, falando de um “dia histórico” em que “mais de um milhão de eleitores escolheram Azul e Branco”. Mas a mensagem que queria passar era: "O maior partido deve formar o próximo Governo”. Mas a lei israelita não diz isto e há dez anos Netanyahu, apesar de ter perdido, conseguia formar Governo, mantendo-se no poder, enquanto a vencedora, Tzipi Livni, nem sequer concorreu nestas eleições, depois de o líder trabalhista Avi Gabbay ter desfeito a aliança dos dois (as sondagens à boca das urnas davam ao Labour apenas 7 deputados, algo verdadeiramente desastroso para um partido essencial desde a fundação do Estado). 

O ainda primeiro-ministro também reclamou vitória: “O bloco de direita liderado pelo Likud teve uma vitória clara”, dizia uma declaração de Netanyahu. Mais, o seu porta-voz veio acrescentar que Bibi já estava a negociar a composição do futuro governo com os seus aliados - na verdade, que estava “muito avançado” neste processo. Já passava da uma da manhã e o líder do Likud ainda não tinha aparecido na sala para falar aos seus apoiantes.

Enquanto isso, alguns dos pequenos partidos pareciam estar no limiar dos 3,25% necessários para obter representação parlamentar, incluindo dois dos que mais marcaram a campanha com anúncios fora do comum: o Nova Direita, da Ministra da Justiça Ayelet Shaked (que num vídeo se perfumava com “fascismo"), e do ministro Naftali Bennet, confiava na contagem de votos das instalações militares para ultrapassar o limite e entrar, e o partido de Moshe Feiglin, ultranacionalista e defensor da legalização da cannabis, cujo apoio chegou a ser visto como potencialmente decisor para quem poderia ser o primeiro-ministro.

Basta um destes partidos não conseguir entrar para Netanyahu estar em apuros. O mesmo para Gantz em relação à entrada no Knesset da lista árabe Ra’am-Balad, que embora não se juntassem a uma coligação (os partidos que representam árabes israelitas nunca o fazem) poderiam indicar Gantz e não Netanyahu nas consultas com o Presidente.

Com um resultado tão próximo, não deverá haver grandes certezas antes de contada a maioria dos votos.

Depois de terminada a contagem, o Presidente, Reuven Rivlin, reúne-se com os líderes dos partidos e verá quem tem mais condições de formar Governo. O líder do partido escolhido terá depois seis semanas para juntar uma coligação e se falhar, outro terá a mesma hipótese.

Se o resultado for mesmo um empate, há um precedente de uma coligação de “bloco central”, o de 1984 com Yitzhak Shamir (Likud) e Shimon Peres (Labour), que acabaram por formar um governo de coligação com rotatividade do cargo de primeiro-ministro entre os dois. 

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