Alianças à direita e à esquerda deixam eleições israelitas mais imprevisíveis

Netanyahu anuncia acordo com direita mais radical, antecipando o acordo do seu rival que pode tirar a vantagem ao actual primeiro-ministro.

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Netanyahu forma aliança em antecipação a acordo que pode mudar o curso das eleições Kacper Pempel/Reuters

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou um pacto pré-eleitoral com duas forças da direita mais radical. Um dia depois, o seu principal rival fez também o seu anúncio, de uma coligação de centro-esquerda, que analistas dizem que pode mudar o curso da campanha.

Se vencer as eleições, Netanyahu tornar-se-á no primeiro-ministro que mais tempo esteve no poder em Israel. Os seus dois principais rivais, Benny Gantz, antigo chefe do Exército recém-chegado à política mas que representa o maior desafio a Netanyahu de há muito, e o antigo ministro das Finanças Yair Lapid, acusam-no de demonstrar a arrogância de quem está há muito no poder (Gantz já declarou que Bibi “não é um rei”) e de ser corrupto (há três recomendações para que seja acusado, o procurador está a decidir).

Os dois anunciaram esta quinta-feira um acordo em que, caso conseguissem uma maioria, Gantz ficaria a primeira metade do mandato como primeiro-ministro e Lapid a segunda – uma combinação já feita anteriormente, numa coligação de “bloco central” nos anos 1980 (Yitzhak Shamir e Shimon Peres).

Este era o passo que analistas diziam poder definir um rumo diferente para as eleições de 9 Abril e constituir verdadeira concorrência ao favorito. Apesar das suspeitas que pairam sobre si, Netanyahu e o seu partido Likud continuam a estar no primeiro lugar das preferências dos eleitores. Segundo as sondagens, podem ocupar 30 lugares num Parlamento de 120.

Mesmo com uma dinâmica favorável aos rivais de Netanyahu, este é perito em sobreviver. Já fez acordos eleitorais com o centro ou com a direita religiosa e radical. Nas últimas eleições nada prenunciava um bom resultado para o Likud, mas numa declaração mesmo em cima da votação, Netanyahu virou o jogo, prometendo que no seu mandato não haveria um Estado palestiniano – e venceu.

Desta vez, Netanyahu deixa as suas opções mais estreitas com um acordo pré-eleitoral, mas define a luta: o primeiro-ministro tem apresentado os seus rivais como “de esquerda”, e o alto responsável do Likud Yuli Edelstein declarou que qualquer alternativa à frente “unida e forte” de direita “irá levar Israel a um atraso de décadas em termos de economia e segurança”.

O Likud e o partido nacionalista religioso Casa Judaica anunciaram na quarta-feira um acordo que inclui uma fusão do partido de direita radical com outro pequeno partido, o Poder Judaico, que se apresenta como sucessor do rabi Meir Kahane, que defendia um Estado judaico sem árabes (os árabes israelitas são cerca de um quinto da população) e ainda a transferência dos palestinianos para países árabes vizinhos.

A aliança poderá ser a chave para a sobrevivência dos dois partidos, que actualmente estavam abaixo do limite para obter representação parlamentar, e assim aumenta as hipóteses de Netanyahu ter partidos suficientes à sua direita para uma coligação.

Netanyahu foi criticado por trazer para uma posição de maior destaque na política israelita um movimento com base em ideias racistas, que acabou proibido com base em leis antiterrorismo (o rabi foi assassinado em Nova Iorque por um americano nascido no Egipto).

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